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Artigos-->Um Telefonema do Além -- 12/05/2003 - 21:34 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Um Telefonema do Outro Mundo

(por Domingos Oliveira Medeiros)





Alô! Mãe?!... É o João. Sei filho. Tudo bem? Olha, não fica assustada. Está tudo bem. De onde estou falando? Daqui do céu. É verdade. Fica calma. Isto aqui é o paraíso! O que aconteceu? Eu morri. Sem essa de chorar, por favor! Vamos conversar numa boa! Não. Não estou nem um pouco arrependido. Deixa eu lhe contar. Lembra que eu disse que ia passar as férias com uns amigos numa fazenda? Pois é. Foi lá que tudo aconteceu. A gente estava nadando num rio quando, de repente, eu me distanciei dos colegas e acabei ficando preso numa porção de lama. E fui afundando aos poucos. Foi horrível, é claro! Gritei até quando pude. Mas ninguém me via ou ouvia. E acabei afundando.



Dei graças a Deus quando tudo acabou. A falta de ar é horrível. Ainda mais enquanto a gente se debate e vai engolindo água. Como os seres humanos são frágeis!. Mas, agora, estou numa paz imensa. Não sabia que o céu era tão bom assim!

Se soubesse disso, há mais tempo que eu teria arrumado um jeito de vir para cá.



Fala mais alto! Não, mãe. A senhora não pode vir me visitar. Isso aqui não é nenhum hospital. E tem normas para serem seguidas. A começar pela data e hora certa de ser convocada para o céu. Quer dizer. Não necessariamente para o céu. Há, na verdade três opções: O céu, que, mal comparando, é como se fosse uma viagem de avião, só que de primeira classe. A segunda classe, seguindo o exemplo, é o purgatório, que fica no sub-solo do céu. É um estágio imediatamente anterior ao céu ou ao inferno. É lá que as pessoas que ainda têm algum débito em pecados, mas que estão dispostas ao arrependimento, fazem uma espécie de estágio para ver se conseguem aprovação e subir aos céus.



Se forem reprovadas? Bem, mamãe, aí não tem jeito. Vai direto para o inferno, que é o terceiro e último estágio. Fica lá embaixo. Bem perto das fundações. É um lugar muito sujo e muito quente. Igual as cadeias de presos da terra. Só que aqui tem segurança absoluta. Ninguém foge e ninguém recebe permissão para usar telefone ou visitar parentes. Também não. Não podem sair para lugar nenhum. A prisão é perpétua mesmo. Para sempre. Pois ninguém aqui morre mais de uma vez como aí na Terra. Que se morre de fome, de sede, de tristeza, de vergonha, de tudo, enfim. E até de forma violenta. Acidentado ou assassinado. Quando não se suicidam. A senhora quer saber mais sobre o inferno? Curiosidade? OK!.



No inferno tem muita gente bem vestida. De paletó e gravata. Gente com jeito de político e de banqueiro. E tem muito economista. Gente que diz ter trabalhado para o governo. E foi lá que eles arranjaram tantos pecados. E tem fila prá todo o lado. O atendimento ao público é dos piores. Todo mundo é mal humorado. Muitas informações erradas. E há corrupção. Por incrível que pareça. Tem gente que chega por aqui com um bom dinheiro guardado. E começa a corromper todo mundo. É assim que eles furam a fila. E até conseguem castigos mais suaves.



Ouvi falar que tem pessoas que vendem drogas para minimizar as dores das chicotadas. A maioria dos internos vivem em plena escuridão. Não existe energia elétrica para todos. Nem saneamento básico. Banheiros e privadas são feitas no quintal. Mas há pessoas que conseguem um lampião, em troca de muito dinheiro.



O transporte não funciona. As pessoas vão à pé para os locais de castigos. E o desemprego é grande. As únicas vagas para trabalhar nos setores de atendimento já estão todas preenchidas. Todas ocupadas por parentes do Coisa ruim. O Chefe Geral do Inferno. Cargo que passa de pai para filho, tal como nos Cartórios aí da Terra.



Recentemente, este grupo que chegou aqui - com uma sobra de dinheiro roubado, inventou uma história de cidadania demoníaca. E todos têm que escolher seus representantes. Pelo voto secreto e universal. Trouxeram as eleições para cá. Inclusive com todas as coligações. Vale tudo. Quem consegue se eleger passa a trabalhar sob a orientação direta do Chefe do Inferno. E tem algumas regalias. Bebida e sexo à vontade. Duas vezes por trimestre. Muita gente reclama. Principalmente a turma que elegeu essas pessoas. Dizem que quando eles são eleitos não cumprem as promessas de campanha.



Na última eleição prometeram diminuir o calor do forno onde as pessoas são queimadas. E diminuir o número de chicotadas diárias. Não cumpriram as promessas. Eu tive sorte. Fiquei uns tempos no Purgatório e passei “raspando” na prova final. Fiz minha matrícula no céu. Estou gostando muito. A única coisa que me arrependo é que perdi muito tempo na Terra fazendo coisas iguais as que se fazem aqui no inferno. E que não levam a lugar nenhum.



No céu nós temos muita paz interior. Sem necessidade de drogas. Não sentimos dores, nem angústias, nem inveja, nem falta de nada. Nunca pensei que uma pessoa pudesse ser, simplesmente, feliz.



O nosso dia-a-dia pode ser assim resumido: praticamos todas as artes: aprendemos a tocar todos os instrumento musicais; e a compor belas canções. Pintamos e escrevemos bastante. Lemos muito. Os livros são nossos companheiros de dia e de noite. Fazemos muitas reuniões. Conversamos sobre tudo. Há muitas palestras proferidas por pessoas que estão em estágios superiores aos nossos. Estágios espirituais. Aprendemos tudo sobre o amor. Sobre a fraternidade. Sobre a misericórdia. Sobe anta coisa que eu não sabia!



Não, mamãe. Ainda não tive o privilégio de estar cara-a-cara com Deus. Só depois de crescer muito espiritualmente é que teremos esta chance. Dizem que nesta hora não lembraremos mais de nada sobre a nossa passagem pela terra. E nos dedicaremos a ensinar a palavra de Deus para os seres humanos, até o final dos tempos. Que ainda não sei quando será. Por enquanto, nosso contato são com os anjos e os santos. O próprio Jesus Cristo só será apresentado no estágio seguinte de nossa formação espiritual.



Não se preocupe, tente rezar muito e fazer o bem ao próximo. Principalmente aos mais necessitados. Os que estão encarcerados, os que estão hospitalizados, os que sofrem de deficiências diversas, os humildes e os simples de coração, pois estes representam Jesus Cristo aí na Terra. Quando chegar a sua hora, venha tranqüila. Se eu não estiver por aqui, não tem, importância. Lembre-se que estarei em algum lugar, fazendo o bem. Um beijo do filho que a ama, João.



Domingos Oliveira Medeiros/





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