Seu Raimundo era louco para ter um cachorro de raça mas a dura vida de barbeiro no centro de Recife ainda não tinha lhe dado essa oportunidade. Até que um dia apareceu um cliente , Capitão da Policia Militar de Pernambuco ,que ao saber desse desejo resolveu realizar o sonho do velho figaro(*). E eis que em bela noite , seu Raimundo foi acordado por uma buzina e o som de uma sirene do carro de polícia. Ainda um pouco adormecido seu Raimundo constatou que se tratava do amigo capitão que adentrou o quintal com um enorme Dobermann preso a uma coleira.
Seu Raimundo aqui está o seu presente! Esse é o Calígula, um dos melhores cães que a nossa PM já teve. Como ele foi para a reserva, eu resolvi lhe presentear. O Calígula é todo seu. Seu Raimundo não se conteve de alegria e tascou um tremendo abraço no Capitão.
- Entre para tomar um cafezinho ,meu amigo –convidou seu Raimundo
Seria uma noite perfeita não fosse o fato de ao adentrarem a sala da casa, Calígula ter se deparado com um gato, que era o xodó da família do velho barbeiro. Ao se depararem , cara cara, o bichano e o dobermann se encresparam e promoveram uma seção de rosnados, latidos, miados e sons diversos. O barraco estava armado.
O capitão completamente transtornado perguntou : _ Seu Raimundo, o Sr não me disse que tinha um gato dentro de casa.
E qual é o problema? Indagou Seu Raimundo
- O problema é que esse cão é inimigo natural de gatos.
-E agora? Quis saber o barbeiro.
-E agora o seu gato vai morrer.- Despachou o policial
O gato e o cão permaneciam estáticos, em estado de raiva absoluta.
Toda a família, a mulher e os seis filhos pequenos do barbeiro rezavam baixinho, apelando para os santos, principalmente Padim Ciço para que aquele pesadelo terminasse o mais rápido possível, de preferência com a sobrevivência do gato de estimação de toda família.
-Seu capitão, pelo amor de Deus, leve esse cachorro daqui!-Apelou a mulher do barbeiro.
- Minha senhora, do jeito que esse cão está agora, nem eu me atrevo a botar a mão.- justificou-se o Capitão.
Seu Raimundo então teve uma idéia. Correu até a cozinha e trouxe um quilo de carne crua , jogando no canto oposto da sala, na tentativa de fazer o cão mudar de idéia e deixar o gato escapar.
Calígula olhava para a carne com um canto do olho , mas com o outro mantinha o gato na mira. Cansado de ficar parado na mesma posição o bichano resolveu arriscar uma escapada, momento no qual o experiente dobermann investiu em um salto certeiro pegando o gato pelo cangote, sacudindo-o e jogando-o contra a parede uma três vezes.
-Pronto o problema acabou. O gato está morto e o cachorro é todo de vocês.- Despediu-se o capitão enquanto toda a família se contorcia em pranto copioso.
Leve esse assassino daqui! Não queremos esse cachorro sanguinário em nossa casa. –esbravejou Seu Raimundo
O Oficial então passou a mão na coleira do cão, agora já mais calmo e embarcou na Patamo deixando para trás , enlutada , a pobre família .
O ruído do carro de polícia se afastando no meio da noite fazia contraponto com o choro incontido
das crianças do velho barbeiro.
Esse foi um verdadeiro presente de grego
Maurílio Silva- Silmaster@yahoo.com.br
(*) Fígaro – barbeiro em italiano
