TIC-TAC
[Escolha agora se o tempo será seu aliado, ou inimigo]
Alexandre ficou nervoso quando o relógio despertou.
Triiiim, triiim, tic-tac...
Queria ignorar o irritante vizinho, mas não tinha como. Puxou o cobertor num gesto impaciente, e virou pro canto.
Tic-tac, tic-tac...
_ Só sabe falar isso! – disse irritado. – Um dia ainda quebro todos os relógios!...
Tic-tac, tic-tac...
Levantou irritado, e foi aprontar-se para ir à escola. E só porque estava assim irritado, foi que mais tarde notou pela primeira vez quanto se fazia referência ao tempo a todo instante. As pessoas apressadas, falavam dele e olhavam ansiosas os seus relógios.
Chegou ainda a tempo...
_ Vamos entrando depressa, que estamos quase atrasados!...
_ Ai meu Deus, quase cheguei atrasado!...
Blom, blom, blom...
Quando o relógio bateu, quase o menino leva as mãos aos ouvidos, tamanha era a sua impaciência. No canto da sala, um outro relógio insistia no mesmo som sem inspiração, repetido ao mesmo tempo por todos os relógios do mundo...
Porque é que só agora prestava atenção na chatice dos relógios? Tentou voltar suas atenções ao assunto da aula, e pensou que isso faria com que o irritante tempo passasse mais rápido. Mas porque é que queria que o tempo passasse rápido, se um outro tempo o esperava um instante depois, para se arrastar no mesmo ritmo de todos os irritantes tic-tacs!?...
Mas por mais que tentasse, não conseguia deixar de prestar atenção ao relógio. Nesse dia, parecia que estava vivo a zombar o tempo todo... E depois que o tempo se arrastou um pouco, ia dizer ao relógio que o tempo não mandava nele, quando ouviu:
_ Olha a hora do recreio!...
Sempre era assim. Hora disso, hora daquilo... E quando saía da sala, recordava as ordens repetidas por esse carrasco implacável: Hora de levantar, de sair, de chegar, de almoçar, de tomar banho, de dormir...
E esse dia de badaladas agonias, finalmente passou, e quando estava na cama para dormir, pensando que finalmente teria um descanso desse torturador, ouviu chamar seu nome. Prestou atenção, mas não compreendeu de onde é que vinha a voz:
_ Alexandre!...
_ Quem é?...
_ Sou eu, tic-tac!... Quem mais fala soluçando assim?!...
_ Não falo com você!...
_ Só uma palavrinha!...
_ Você me irrita, sabia!...
_ Eu só cumpro a minha missão de marcar o tempo, amigo!...
_ Também não gosto desse seu amigo, o tempo!...
_ O tempo não é ruim...
_ Não quero saber!
_ Sabe que ele até cura todos os males? Não há mal que não passe com o tempo!...
_ Mas tem dia, que o tempo é um saco, sabia?!
_ Não culpe o tempo, quando você não está gostando do seu dia.
_ Mas tem dia, que o tempo não passa!...
_ Não é bem assim... Desculpe dar uma sugestão: Porque não faz do tempo, o seu aliado? Primeiro, conheça a natureza do tempo. Ele passa sempre no mesmo compasso. Se você se atrasa, ele não pode esperar porque foi feito assim. Mas se você corre, ele não se adianta para te acompanhar... Nem nós os relógios, podemos enganar o tempo. Se nos atrasamos ou adiantamos, ele segue do mesmo jeito, inalterável... Por isso, é que tive que aprender a trabalhar a favor do tempo, e no tempo certo, sem atrasar ou adiantar...
_ Mas isso é com vocês, os relógios.
_ Desculpe, mas não é verdade. Aprenda a ser amigo do seu tempo, e vai ser a pessoas mais feliz que existe.
_ Não entendi...
_ O seu tempo, é o presente. Você jamais vai viver o futuro, ou voltar ao passado.... E tudo tem seu tempo certo. Se você é uma criança agora, viva como criança... Quando o tempo fizer de você um adulto, saiba viver o seu dia...
_ Como é que se faz isso?
_ Vou dar um exemplo. Quantas horas você dorme por noite?
_ Deixe fazer as contas... Umas nove, dez...
_ Pois é. Agora, você precisa dormir esse tempo. Se quiser dormir uma hora por noite, vai sofrer as conseqüências... se dormir mais, também. Você precisa aprender a aproveitar seu tempo. Precisa estudar no tempo de estudar, dormir no tempo de dormir, e assim por diante...
_ Então eu vou dormir e acordar na hora certa, sem reclamar...
_ E comer, também...
_ E brincar também.
_ E estudar... Por falar nisso, durma que está na hora...
O menino recostou-se e puxou as cobertas, e agradeceu o relógio pelo que havia dito. O relógio esperou um pouco, e quando percebeu que ele estava adormecendo, pegou em sua mão e disse:
_ Vem comigo, que vou te mostrar alguns amigos do tempo.
E mostrou a maré indo e vindo no tempo certo. Mostrou a lua rodeando a terra em vinte e oito dias, e a terra rodopiando em vinte e quatro horas, e rodeando o sol em um ano. E mostrou mais, os planetas em suas órbitas perfeitas, e voaram pelo espaço, e nesse tampo de um sonho, muitas coisas foram vistas e entendidas.
Quando voltavam, Alexandre viu o sol, e perguntou:
_ É você quem manda no tempo?
_ Não amigo. Eu sou só uma engrenagenzinha desse amigo eterno.
Os dois amigos voaram de volta, porque cada sonho tem o seu tempo de acabar para que outros sonos venham.
Quando chegavam, o relógio sorriu para o amigo, que desta vez não se irritou com o seu riso de tic-tac...
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Adelmario Sampaio
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