Desengano
maria da graça almeida
Ai, longe vai o ido ontem,
eu, sensível, pequenina,
diferente das meninas
ressequidas do lugar.
Ai, meu passado sem mar,
rio, riacho, corredeira...
Em meu mundo de certezas,
sobre mim, enorme o teto
e bem ao lado, sem beleza,
terra, pedra e poeira.
De nascença, a goteira
a pingar melancolia,
era a lágrima a molhar
a ausência da alegria.
Ai, minha gota a ensopar
o sentir que em mim sofria!
Ai, o meu sal a temperar
uma infante nostalgia,
Vai distante a infância
e a tola esperança
que o homem amigo irmão
dividisse a água, o pão.
Meu passado era sem mar,
rio, riacho, corredeira...
Só as dores bem regadas
inda hoje trago inteiras.
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