Em um dia quente como hoje a chuva sempre é bem vinda! Foi num momento agradável de chuva pela manhã, que as minhas lembranças vieram à tona.
Senti vontade de sair e me molhar na chuva. Mas pensei um pouco e acabei decidindo só observar. Que grande besteira! Mais uma vez, traída pela razão, perdi uma oportunidade ímpar.
Houve uma época em que era comum para mim me molhar na chuva. Quem nunca aproveitou um banho como esse, com todos os seus encantos, na verdade não soube aproveitar bem a vida.
Lembro-me de alguns dias de chuva, nos quais voltava do colégio, em lentidão proposital a caminho de casa. Nesse trajeto sentia cada gota que caía sobre mim. Molhava meus cabelos e minhas roupas sob as quais protegia meus livros.
Não havia nada mais prazeroso que molhar o tênis, pular nas poças de água, balançar os galhos das árvores ao passar por elas...
É como se as águas da chuva fossem capazes de refrescar as preocupações comuns em uma adolescente.
Ao chegar em casa ouvia a bronca costumeira na estação das chuvas, reflexo do zelo da minha mãe:
- Por que você não levou o guarda-chuva, menina?
- Água de chuva não mata, mãe!
Já faz tanto tempo, que eu nem me lembro mais qual foi o meu último banho proposital de chuva.
Hoje as minhas preocupações são bem diferentes. Eu fujo da chuva. Afinal, como a maioria das mulheres modernas eu não posso molhar os meus cabelos e estragar a minha escova ou a minha maquiagem. Preciso manter uma boa aparência no local de trabalho. A minha vida corrida não me permite essas "extravagàncias".
Hoje, ao caírem as águas de março, lamentou o meu coração. Preciso voltar à s velhas práticas, e deixar de fugir da menina que não se preocupa com convenções, que adora sonhar, cantarolar na chuva e absorver até a última gota de cada prazer que a vida proporciona.
Afinal de contas, água de chuva não mata! O que mata é não usufruir os pequenos prazeres da vida. O que mata é deixar de sonhar!
