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Cartas-->ESCRITA LITERÁRIA E ARTESANATO- Para Janete -- 26/11/2001 - 20:33 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESCRITA LITERÁRIA E ARTESANATO

Jan Muá
26 de novembro de 2001

Oi, Janete.

Aqui estou de novo. Desta vez para voltar a insistir na necessidade do artesanato textual e mostrar que graças a ele a escrita se torna mais enxuta e mais literária.
Para o bom escritor, a revisão do texto é mais do que uma revisão básica. É uma revisão de fundo, um artesanato, que em sua significação mais alta representa um mergulho nas profundidades do oceano do texto. Esse mergulho vai desde a expressão até ao ajustamento da ação com a dinâmica da coesão e com a lógica do discurso.
A volta do escritor ao seu texto pode ser vista de muitas maneiras. Em primeiro lugar, é fácil entender que há lacunas deixadas na escrita quando esta está em rascunho, há personagens mal definidos, situações descritas com menos rigor, páginas pesadas, narrativas muito lentas, diálogos explorados sem emoção e sem confronto de subjetividades. A partir daí, passamos a entender que a escrita é uma travessia, uma aventura, e até, de alguma maneira, o desenvolvimento de uma vida como se estivéssemos partindo desde o óvulo inicial fertilizado pelo espermatozoo até ao sonoro grito do neném em seu nascimento e ao canto pleno de vida feito pela criança ou pelo adulto, em sua suprema afirmação existencial.
Este mergulho é para todos, principiantes e profissionais. A qualidade do mergulho é que é diferente. A consciência do mergulho e das águas oceânicas a explorar na dinâmica da escrita vai se aperfeiçoando aos poucos. Ora acontece que os que se sentem principiantes, em pouco tempo passarão a ser os mestres, com a exigência porém, de que se apercebam da natureza das águas em que boiam ou em que navegam.
Para tornarmos o ofício da escrita mais emocionante, seria bom que todos nós nos julgássemos principiantes. Você, Janete, eu e todos aqueles que escolheram a aventura das letras. Ninguém tem que se preocupar por ser principiante. Temos, sim, que nos preocupar em insistir na escrita, olhando a luminosidade da aventura, a emoção desta travessia, os caminhos fantásticos e mágicos do próprio ato de escrever. Temos de viver a escrita insistindo. Assim, mais ou menos como Macunaíma, no mato Virgem das icamiabas ou na cidade macota de S. Paulo. Tudo como aventura sensacional...mas insistindo...insistindo tanto que o ato de escrever há-de tornar-se em nós a coisa mais natural...Com a consequência agradável e vitoriosa de que dominando a expressão, dominaremos melhor a nossa comunicação e o sentido de nossa própria visão de mundo...
Tentar uma caminhada bem sucedida na escrita literária, Janete, é pois um esforço de ajustamento de nós próprios ao mundo que escolhemos. Pretender escrever bem, querer atingir um bom nível de escrita, está entre os objetivos honestos e acessíveis dos cidadãos que se dedicam às letras. Tentar um bom nível não é ainda mania de perfecionismo. O perfecionista, ao querer atingir um grau absoluto de perfeição, se anula a si próprio. Se castra ao fixar-se numa idéia só e cristaliza ingloriamente quando na verdade a vida requer uma ascensão permanente para ser mais viva e vivificante. A escrita não é algo que se acabe...É caminho. E como dizia Martin Heidegger "o caminho se faz caminhando". A escrita se conhece escrevendo. E a Literatura nasce da criação literária que tem sua sede na escrita.
Você pode e deve manter um ideal de ser uma boa escritora. Porque não? Mas não tenha pressa nem acredite nos dogmatismos dos teóricos da escrita. Não há dogmas. Mas há alguns princípios. Um deles é que a língua da escrita é uma coisa inteiramente abstrata. Você corre, estuda, ouve preleções, estuda os linguistas, consulta Saussure e...na verdade, a língua é uma coisa inteiramente abstrata. E ainda bem. A língua é esse vazio de princípios e de fundamentos que possibilita nossa expressão, nosso discurso, nossa fala. Escreva corretamente, partindo do princípio de que sua expressão deve ter também o ímã da comunicação. Mas não se preocupe exageradamente com a gramática. Quero dizer, não se preocupe, porque a gramática nasce depois do discurso e não antes. São os falantes e os escritores que dão a base da gramática. A gramática é a soma das tendências e das formas de dizer, dentro do panorama de uma língua. O grande escritor não é gramatiqueiro. Isto não quer dizer que não necessitemos de uma base gramatical para estruturar nossas frases e caminharmos por um sentido social e metafísico de nosso discurso. Mas não se preocupe. Escreva e caminhe na consciência do tempo para que este lhe seja favorável. A escrita se tornará madura em você. Eu diria que escrever é um ato maior, e por isso mesmo um ato gramaticalizante. Mas no fundo, no fundo, por ser libertário, ele é ao mesmo tempo, um ato supergramatical.
Escrever é o fundo de um oceano com uma fauna e uma flora que conheceremos navegando e mergulhando.
Ok?
Abração

Jan Muá
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