A Equação é Antiga. Arme e Efetue
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Esta frase, “Arme e Efetue”, principalmente para os mais antigos, traz boas recordações. Lembranças do tempo em que a educação fundamental - e de boa qualidade - era garantida pelo Estado.
A frase encabeçava todas as páginas do dia-a-dia do caderno de matemática. Sim, era isso mesmo. Tínhamos dois cadernos para essa matéria. No primeiro, o registro das questões teóricas. As fórmulas, os princípios, os fundamentos, enfim; o segundo, destinado aos exercícios de resoluções, propriamente dito, a prática.
No início, eram as contas. Daí a frase “Arme e Efetue”. Depois, e à medida que íamos avançando, o caderno passava a servir para os problemas mais “complexos; problemas que versavam sobre frações ordinárias, regra de três, porcentagem, sistema decimal, etc. Tudo isso, diga-se de passagem, com a sugestão para tirar a prova dos noves; prova que a garotada achava o máximo.
Naquela época, portanto, os problemas, de modo geral, eram tratados com método e com responsabilidade. Aí incluídos os problemas governamentais.
Diferente de hoje, a despeito de serem, os atuais problemas, de outra ordem. São bem mais complexos, evidentemente. Mas, em compensação, estamos mais experientes e com uma gama de recursos tecnológicos que facilitam a seleção da alternativa mais próxima e mais adequada para cada caso.
Não vejo, portanto, motivo de desculpas para que os dilemas modernos não sejam tratados com método e com responsabilidade. E que não tenham soluções, de curto ou médio prazo, conforme estamos cansados de ouvir de nossos governantes.
Só posso atribuir este fato à fragilidade ou má vontade, principalmente de alguns políticos e governantes, que, tudo indica, ou não gostam de matemática, ou não aprenderam a “armá-los e a equacioná-los”.
E este “paradoxo tecnológico” surpreende, justamente porque ele acontece na medida em que avançamos em relação ao desenvolvimento científico e tecnológico dos instrumentos que auxiliam os processos decisórios.
E os problemas, antigos ou novos, armados e equacionados, no lugar de serem resolvidos, diante do manancial de instrumentos, métodos e recursos colocados à disposição dos planejadores, vão se acumulando, como que resultado de uma incompreensível indiferença para com os mesmos.
A realidade surge e avança no tempo. Primeiro, as máquinas de datilografia manuais. Com fitas pretas e vermelhas. Depois, e aos poucos, foram sendo substituídas pelas máquinas elétricas.
Com as elétricas, avançamos para as máquinas com esferas e com memória. Quem não se lembra da IBM?
Logo em seguida, as calculadoras eletrônicas; que substituíram o esforço mental para calcularmos a raiz quadrada, o valor do “pi”, o seno e co-seno, os produtos notáveis e outras tantas fórmulas algébricas e geométricas.
Quem for daquele tempo deve recordar, por exemplo, que o produto dos extremos era, e ainda é, igual ao produto dos meios; ou lembrar da fórmula: “xis ao quadrado (+ ou -) raiz de “b2”, menos “quatro a c”, sobre (ou dividido) por dois “a”.
Hoje contamos com um imenso universo de informações e dados colocados à nossa disposição através da informática. No entanto, parece que o ser humano, mais do que resolver problemas, tem uma tendência natural para criar problemas. Ou empurrá-los com a barriga. Possivelmente, a causa dessa disfunção esteja centrada no egoísmo, na vaidade, na ganância, na inveja, na infidelidade, na soberba, enfim, nos sinais do tempo, que dividem, diminuem, e nunca somam ou se multiplicam.
Domingos.
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