Usina de Letras
Usina de Letras
264 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10302)

Erótico (13562)

Frases (50483)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A Propósito do Dia das Mães -- 07/05/2003 - 08:27 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


DIA DAS MãES E OUTRAS ROTINAS



(por Domingos Oliveira Medeiros)





A rotulagem existe. No mundo de hoje, mais do que em qualquer outra época, ela parece ter virado moda. Atribuir conotação inversa às palavras ou expressões parece que veio para ficar. E nem sempre há explicações lógicas ou convincentes. Basta a aceitação do público, e pronto, está criado mais um paradigma. Com nome e sobrenome.



E os exemplos são muitos. Quando se diz que o tempo está ruim, quer-se dizer que está sem sol. Que está chovendo. Mas o tempo chuvoso também é bom. Bom para a agricultura, para as plantas, para a economia, para dormir, para ler; e até para curtir um chá com torradas ou um chocolate, caso a temperatura esteja fria.



Quando se diz que está tudo azul, significa que está tudo bem. Uma alusão, provavelmente, ao “tempo bom”, sem chuva, de céu límpido e de muito azul. O chamado “céu-de-brigadeiro”. E a rotulagem não foge à regra no caso da rotina.



Costuma-se atribuir um aspecto negativo às coisas que se repetem. As coisas rotineiras. E, na verdade, se analisarmos a questão com maior profundidade, iremos constatar que a rotina, tal qual os exemplos anteriores, padece das mesmas conotações preconceituosas. A rotina, a despeito de sua conotação negativa, estressante, tem seu lado positivo. O lado bom, o lado da fama.



A rotina de uma linha de montagem, numa indústria de produção em série, daquela que foi objeto de sátira do Charles Chaplin, encaixa-se no exemplo de rotina negativa. Desgastante. Estressante. Humilhante. Onde o homem é relegado a um plano inferior. Ali, fica evidente que ele passa a valer menos do que um simples parafuso na engrenagem daquela parafernália.



E assim são as rotinas. Exemplos de rotinas ruins nós temos aos montes. A rotina dos boatos. A rotina do sobe-e-desce das bolsas de valores. A rotina do risco-Brasil. Da subida e descida do dólar. Do endividamento público. Da política econômica. Da fala do presidente. Das desculpas - em cadeia de rádio e televisão - do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central, principalmente. Das renegociações com o FMI. Das pesquisas eleitorais. Das denúncias. Das fugas de presos. Do aumento do desemprego. Das notícias dos jornais. Da corrupção. Da impunidade. Do esquecimento. Dos programas de televisão. Do Big Brother. E assim por diante. E temos, infelizmente em proporções menores, as rotinas ditas boas: os avanços tecnológicos, a descoberta de novos remédios para o combate de doenças graves, o lançamento de livros, de novos artistas, de novas composições, o nascimento de seres humanos e, em certa medida, as eleições.



Assim, e do mesmo modo, são as rotinas do consumismo. Rotinas que se escondem por detrás dos interesses comerciais. As rotinas das homenagens. A rotina dos feriados. A rotina dos dias santos. Dia das Mães. Dia dos Pais. Dia dos Namorados. Dia da Criança. Dia do Avô. Da Avó. Dia do Soldado. Da Independência. De São João. E tantos outros dias. Não vai demorar muito e chegará o dia em que não haverá mais dia para encaixar um novo feriado. E teremos que acumular, num só dia, várias homenagens.



E tem o outro lado da questão. O lado negativo. Na maioria dos casos, os dias comemorativos ou de homenagens e de festas, geralmente não se prestam para os fins a que se destinam. A rotina do Carnaval, por exemplo, passa a ser negativa, na medida em que os quatro dias (em alguns casos uma semana), são destinados para o consumo de drogas pesadas, de álcool, de cigarro, de sexo, de brigas, de acidentes, de ferimentos e até de mortes. Aqui , acolá, alguém resolve simplesmente “pular”, “brincar” o Carnaval.



O mesmo acontece com os chamados “dias santos”. Na Semana Santa, a grande maioria aproveita para fazer um churrasco. Beber muito. Acampar. Pescar. Tudo, menos homenagear, como devia, aquele dia.



E existem paradoxos: no dia do trabalho, ninguém trabalha. Cada dia, durante todo o ano, é reservado a um determinado Santo. Mas tem, também, o Dia de Todos os Santos.



E tem o dia dos namorados, das mães, dos pais, da criança, enfim, numa clara demonstração de rotina do consumismo. Tanto é verdade, que nesses dias não se toca numa questão grave: e quem não tem namorado? E quem já perdeu seu pai e sua mãe? E quem não tem filhos? Vai comemorar de que jeito?



Por isso, condeno a rotina desses “dias-de-alguma-coisa”. Desse consumismo exacerbado. E faço uma sugestão: Que todos os dias sejam dias de comemorar. De agradecer a Deus por estarmos vivos e com saúde. De pedir a Deus que olhe pelos que já se foram. E que não esqueça de olhar pelos que aqui ficaram. Principalmente nós, os eleitores. Que só temos um dia bom para comemorar. E assim mesmo de quatro em quatro anos. E muitos anos para reclamar e chorar. Nesta rotina que começou em 1889, apos a Proclamação da República. E que continua do mesmo jeito. Até hoje. Nesta triste rotina.



Domingos Oliveira Medeiros

2002

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui