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Artigos-->Lembrar é preciso - 15 -- 12/06/2001 - 12:14 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O primeiro seqüestro a gente nunca esquece! Aconteceu em setembro de 1969, quando foi seqüestrado no Rio de Janeiro o embaixador americano. Um dos autores daquele seqüestro? Fernando Gabeira, que depois relatou o "feito" no livro "O que é isso, companheiro?". Essa história foi transposta para o cinema, e o filme concorreu ao Oscar em 1999. Gabeira, na época, tentou obter visto de entrada nos EUA. Foi-lhe negado. Lá, país sério, crime hediondo não prescreve, como cá.



Abaixo, relato do seqüestro do embaixador da Alemanha, ocorrido no dia 11 de junho de 1970, em plena Copa do Mundo, ocasião em que muitos terroristas dos "anos da matraca" torciam contra o Brasil. Gabeira foi um dos beneficiados com o seqüestro, foi banido para a Argélia, junto com um grande número de militantes e terroristas, em troca da vida do embaixador alemão.



Sempre e sempre e sempre, lembrar é preciso!



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"SEQÜESTRO DO EMBAIXADOR DA ALEMANHA



Desde o início de 1970, coerente com a sua intenção de prosseguir com as atividades de propaganda armada, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), na então Guanabara, vinha realizando levantamentos para o seqüestro de alguns diplomatas, dentre os quais os embaixadores dos Estados Unidos, do Japão, da Suécia e da Alemanha, este último junto com a Frente de Libertação Nacional (FLN), de Joaquim Pires Cerveira.



A prisão, em 18 de abril de 1970, de Maria do Carmo Brito (“Lia”, “Sara”, “Madalena”, “Madá”), membro do Comando Nacional, e a localização de seu “aparelho” na Avenida Visconde de Albuquerque, na Gávea, proporcionaram aos órgãos de segurança a descoberta de um minucioso planejamento para o seqüestro do embaixador alemão. Nele, apareciam as primeiras letras dos codinomes dos principais participantes da ação, Juarez Guimarães de Brito (“Júlio”, “Juvenal”), Maria do Carmo Brito, José Ronaldo Tavares de Lira e Silva (“Dias”, “Joaquim”, “Laurindo”, “Nunes”, “Roberto Gordo”, “Gordo”), Joaquim Pires Cerveira, Roberto das Chagas e Silva (“Caetano”, “Camilo”, “Claudio”, “Edson”, “Lucio”, “Maciel”, “Tuca”) e Alex Polari de Alverga (“Bartô”, “João”, “Rafael”, “Samuel”, “Tomás”, “Virgulino”). Desses seis, um fora morto (Juarez), três estavam presos (Maria do Carmo, José Ronaldo e Joaquim Pires Cerveira) e somente dois (Roberto das Chagas e Alex Polari) continuavam soltos e ainda não identificados.

Em maio, as prisões estavam abarrotadas de militantes da VPR. O próprio Carlos Lamarca, internado nas matas do Vale da Ribeira, poderia “cair” a qualquer momento. Era urgente desencadear uma operação de seqüestro que libertasse os principais “quadros estratégicos” e que, ao mesmo tempo, alcançasse repercussão internacional.



A nova “Unidade de Combate Juarez Guimarães de Brito” (UC/JGB), criada em homenagem ao líder recentemente morto em combate, retomou os planejamentos já realizados.



Os levantamentos para o seqüestro do embaixador dos EUA, dirigidos por Alfredo Hélio Sirkis (“Alberto”, “Camilo”, “Carlos”, “Felipe”, “Gabriel”, “Manoel”, “Vitor”), mostravam uma segurança forte e atenta, motivada pelos dois seqüestros anteriores envolvendo diplomatas norte-americanos, o do próprio embaixador, em setembro de 1969, e a fracassada tentativa contra o cônsul em Porto Alegre, em abril de 1970.



Os levantamentos do embaixador da Suécia revelaram que seu veículo fazia constantes mudanças de itinerário, tornando impossível a execução do planejamento.



Decidindo-se pelo seqüestro do embaixador do Japão, a ação foi sustada, no dia e no momento previsto, pela presença, inesperada e ocasional, de um camburão da polícia. Resolveu-se, então, seqüestrar o embaixador alemão, de 61 anos, Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben. O planejamento inicial, dirigido por Alex Polari de Alverga, com a ajuda de Lúcia Maurício de Alverga (“Mônica”, “Stela”, “Adriana”, “Mirna”), Vera Lúcia Thimóteo (“Marta”, “Lurdinha”) e Júlio Cesar Câmara Covello Neto (“Frederico”), mostrara que a ação poderia ser executada, com grandes chances de sucesso.



Apesar dos planos já serem do conhecimento da polícia, a segurança do embaixador era pequena, constituída por um carro com dois agentes. Além disso, raciocinaram que os órgãos de segurança não estariam acreditando que fosse realizada a ação, com o planejamento já conhecido. A VPR pensou corretamente.



Atualizaram o planejamento. Roubaram quatro carros - dois Volks (um grená e um vermelho), uma “pick-up” Willys e um Opala azul, este de um médico, quando chegava em sua residência, na Rua Jacinto, 68, no Méier. Desde maio, possuíam uma casa de dois quartos para guardar o embaixador, na Rua Juvêncio de Menezes, nº 535, em Cordovil, alugada para o “casal” Gerson Theodoro de Oliveira (“Aníbal”, “Fritz”, “Hans”, “Ivan”, “Mateus”, “Ruivo”) e Tereza Ângelo (“Chica”, “Helga”, “Luiza”, “Mariana”, “Miriam”, “Solange”, “Telma”). Em São Paulo, nos primeiros dias de junho, uma reunião entre Carlos Lamarca, Joaquim Câmara Ferreira (“Toledo”, “Velho”, “Valter”, “Azevedo”), da ALN, e Devanir José de Carvalho (“Henrique”, “Justino”, “Heitor”), do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), havia estabelecido a lista dos 40 prisioneiros que seriam trocados pelo embaixador. Como reforço, receberam 30 mil cruzeiros, uma metralhadora INA, uma pistola .45 e dois militantes da ALN, José Milton Barbosa (“Sargento”, “Cláudio”, “Castro”, “Celio”) e Eduardo Collen Leite (“Bacuri”, “Basílio”), este, para comandar a ação.

Às 19:40h de uma quinta-feira, 11 de junho de 1970, em pleno desenrolar da Copa do Mundo de Futebol no México, Holleben saiu da embaixada, localizada na Rua Presidente Carlos de Campos, nº 417, em Laranjeiras, em direção à sua residência, na Rua Cândido Mendes, nº 784, em Santa Tereza. Sentado no banco de trás de sua Mercedes preta, o embaixador tinha, como motorista, o funcionário Marinho Huttl e o Agente da Polícia Federal (APF) Irlando de Souza Régis, sentado no banco da frente e portando um revólver .38. Seguindo a Mercedes, como segurança, ia uma Variant gelo, com os APF Luiz Antônio Sampaio, motorista, e José Banharo da Silva, com metralhadora INA.

Tendo ocupado o dispositivo da ação desde às 19:00h, o “Comando Juarez Guimarães de Brito” executou o seqüestro às 19:55h, nas proximidades da residência do embaixador, na confluência da Rua Cândido Mendes com a Ladeira do Fialho.

Ao aproximar-se o carro diplomático, Jesus Paredes Soto (“Mário”, “Tião”, “Reis”, “Roque”, “Lu”, “Elmo”) deu um sinal a José Maurício Gradel (“Jarbas”, “Adolfo”, “Tomás”, “Odete”), que avançou a “pick-up” Willys abalroando a Mercedes. Incontinenti, o “casal” que namorava na Escadinha do Fialho, Sônia Eliane Lafoz (“Mariana”, “Clarice”, “Paula”, “Rita”, “Olga”, “Bonnie”) e José Milton Barbosa, este com metralhadora, disparou suas armas contra a Variant da segurança, ferindo Luiz Antônio no abdome e na coxa esquerda e Banharo, na cabeça.



Ao mesmo tempo, Eduardo Leite, à queima-roupa, disparou três tiros de revólver .38 em Irlando de Souza Régis, matando-o com um tiro na cabeça (o APF estava a um ano de sua aposentadoria; naquele dia, sua companheira estava internada em um hospital, por ter extraído um rim).



Herbert Eustáquio de Carvalho (“Daniel”, “David”, “Olímpio”, “Marcelo”, “Tampinha”, “Isaac”, “Isaías”, “Ezequiel”, “Geraldo”), empunhando uma pistola .45, arrancou o diplomata da Mercedes e o fez embarcar no Opala, dirigido por José Roberto Gonçalves de Rezende (“Ronaldo”, “Nelson”, “Bigode”, “Flávio”, “Rodolfo”, “Eraldo”).



Deixando no local a “pick-up” do abalroamento, três carros fugiram em alta velocidade, em fila indiana: na frente, o Volks grená, dirigido por Roberto das Chagas e Silva e transportando Sônia Eliane Lafoz e Alex Polari de Alverga; no meio, o Opala, com José Roberto, Eduardo Leite, Herbert e o embaixador; e atrás, cerrando a fila, o Volks vermelho dirigido por Gradel e levando José Milton e Jesus Paredes Soto.



Executado por nove terroristas, o seqüestro durou menos de quatro minutos e deixou um morto e dois feridos; espalhados pelo chão, alguns panfletos assinados pela VPR e pela ALN - um “Esclarecimento” e um manifesto “Ao Povo Brasileiro”.



Subindo pela Cândido Mendes, Herbert colocou algodão embebido em éter no nariz de Holleben. No outro lado de Santa Tereza, na altura do nº 200 da Rua Professor Olinto de Oliveira, foi realizado o transbordo para uma Kombi verde-claro, onde estavam aguardando Gerson Theodoro de Oliveira, Maurício Guilherme da Silveira (“Honório”, “Bené”) e Alfredo Hélio Sirkis, para servir como intérprete. Saiu a Kombi dirigida por Maurício: na frente, Gerson e o “Bacuri”, e, atrás, Sirkis e o embaixador, colocado dentro de uma pequena caixa de madeira. Os dois Volks e o Opala foram, logo depois, abandonados por seus ocupantes.



Cerca das 21:00h, depois de dar uma raspada num ônibus, chegaram no “aparelho” de Cordovil, onde aguardavam Manoel Henrique Ferreira (“Anderson”, “Bernardo”, “Marco Antônio”, “Diogo”) e Tereza Ângelo. O caixote foi desembarcado e Holleben colocado num dos quartos. Nessa madrugada, “Bacuri” datilografava o “Comunicado nº 1”, no qual fazia diversas exigências às autoridades, dentre as quais a libertação de 40 presos e a divulgação, pela Rádio Nacional, de “comunicados entre as regionais da organização”. Ao mesmo tempo, Maurício deixava a Kombi num determinado local, para ser apanhada posteriormente, a fim de levar de volta o embaixador.



Durante os cinco dias que durou o seqüestro, diversas mensagens foram trocadas entre os governos brasileiro e alemão. Seis comunicados do “Comando Juarez Guimarães de Brito” foram enviados às autoridades: Tereza os levava a Alex que, depois de colocá-los em três locais (sempre em três vias), avisava aos rádios e aos jornais para apanhá-los. Diversos “comunicados internos” foram trocados entre o comando da operação e a VPR em São Paulo, através da Rádio Nacional. Em código, eles transmitiam dados e instruções.

Nesses cinco dias de cativeiro, foram tranqüilas as relações entre Holleben e os cinco terroristas, sempre escondidos por capuzes. A comunicação era feita por Sirkis que, em inglês, procurava fazer o seu proselitismo, dizendo, entre outras coisas, que estavam tentando libertar seus companheiros, torturados nas prisões.



No domingo, os comunistas ouviram o jogo em que o Brasil venceu o Peru por 4x2. Muitos deles torceram contra a equipe de Pelé, que representava, segundo eles, uma ditadura que tinha que ser derrotada.



Na segunda-feira, dia 15, “Bacuri” seguiu para São Paulo, deixando Gerson Theodoro no comando da operação. Nessa mesma noite, os 40 banidos chegavam na Argélia, em avião da VARIG.



Dos 40 banidos, 20 eram militantes da VPR: Almir Dutton Ferreira, Altair Luchesi Campos, Carlos Minc Baumfeld, Darcy Rodrigues, Dulce de Souza Maia, Edmauro Göpfert, Eudaldo Gomes da Silva, Flávio Roberto de Souza, Ieda dos Reis Chaves, José Araújo de Nóbrega, José Lavecchia, José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, Ladislas Dowbor, Liszt Benjamin Vieira, Maria do Carmo Brito, Melcides Porcino da Costa, Oswaldo Antônio dos Santos, Oswaldo Soares, Pedro Lobo de Oliveira e Tercina Dias de Oliveira.



Os outros 20 pertenciam a outras organizações comunistas: Aderval Alves Coqueiro, Ângelo Pezzuti da Silva, Apolônio de Carvalho, Carlos Eduardo Fayal de Lira, Carlos Eduardo Pires Fleury, Cid de Queiroz Benjamim, Daniel Aarão Reis, Domingos Fernandes, Fausto Machado Freire, Fernando Paulo Nagle Gabeira, Jeová Assis Gomes, Joaquim Pires Cerveira, Jorge Raimundo Nahas, Marco Antônio Azevedo Meyer, Maria José Carvalho Nahas, Maurício Vieira Paiva, Murilo Pinto da Silva, Ronaldo Dutra Machado, Tânia Rodrigues Fernandes e Vera Sílvia Araújo Magalhães.

Aos cuidados de Tercina Dias de Oliveira, seguiram quatro menores: Samuel Dias de Oliveira, Luiz Carlos Marques do Nascimento, Zuleide Aparecida do Nascimento e Ernesto Carlos do Nascimento.Só faltava, agora, soltar o embaixador. O problema é que, ao buscar a Kombi, Maurício não mais a encontrara. Deixada num local de estacionamento proibido, ela fora rebocada pelo Detran.



Durante todo o dia seguinte, 16 de junho, os militantes buscaram uma saída para o problema, chegando, inclusive, a aventar a hipótese de levá-lo de ônibus.Às 22:00h, chegou a solução, na forma de um carro trazido por José Roberto Gonçalves de Rezende e Roberto das Chagas e Silva. Numa primeira leva, Sirkis e Manoel foram deixados no Méier. Na segunda, sairam Gerson, Tereza e o embaixador, largado às 23:00h na Tijuca, próximo da Rua Barão de Mesquita.

Reconhecido por um popular, foi levado até à embaixada, portando, no bolso do casaco, um documento relatando torturas, que se dispusera, prazeirosamente, a divulgar na Europa. O seqüestro foi realizado por duas organizações comunistas - a VPR e a ALN - e teve a participação de 19 militantes, dentre os que decidiram, os que planejaram, os que executaram a ação e os que a apoiaram. Foi o 3º seqüestro executado com sucesso, conseguindo a libertação de 40 presos.



O inusitado, entretanto, foi a cooptação de mais um simpatizante. Nos seus depoimentos às autoridades, o embaixador Holleben nada falou sobre os documentos que portava e nem sobre suas conversas em inglês com Sirkis, o que poderia tê-lo identificado.



A esquerda terrorista brasileira, paradoxalmente, ganhara mais um aliado de ocasião.



F. Dumont"



(Extraído de TERNUMA: www.ternuma.com.br)
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