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Cartas-->Carta a uma amiga sobre originalidade -- 25/11/2001 - 16:04 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"é interessante que eu perguntei se o mesmo lia muito os poetas clássicos...e ele disse que não os lia exatamente para evitar a influência dos mesmos pois gostava de ser original..." [S., J.]

Amiga,

A verdade é que não existe nada de novo em Literatura. Tudo que tentamos dizer já foi dito por alguém. A gente sempre repete um pouquinho do que se ouviu ou leu aqui e ali. Alguém consegue se destacar em seus escritos pela forma diferente de escrever as mesmas coisas, portanto, originalidade, como simplicidade, é uma coisa muito difícil de se alcançar, não é para todos.

Eu leio muitos sonetos, todavia não escrevo muito sob essa forma. Acho que prende muito o eu poético com métrica, rima e número de estrofes e versos. Sou mais acolhedor ao verso livre, solto, com ritmos dissonantes, com surpresas, paradas bruscas. No soneto, quando se aprende a técnica, fica tudo repetitivo, assim, se um autor se prende a escrever somente sonetos e não tem temas variados, corre o risco de se repetir e virar cópia carbono de si mesmo. Lógico que tem os monstros sagrados que podem se dar ao luxo de escrever sobre o mesmo tema em ângulos diversos. Posso citar aqui a poeta portuguesa Florbela Espanca que escreveu sobre o Amor em centenas de ângulos sem se repetir, Luis de Camões também escreveu muitos sonetos sobre o Amor e não cansamos de lê-lo. Mas esses abençoados viveram o Amor, morreram pelo Amor e atrelaram suas vidas às suas obras, por isso resistem e são fascinantes.

Quanto ao poeta em questão, não li tudo dele, contudo as coisas que eu li me remeteram a Augusto do Anjos de imediato e não pude desligar o vínculo. Não quero negar o seu trabalho, muito pelo contrário, tecnicamente acho um trabalho perfeito, mas já ouvi essa poesia por outras vozes.

Abaixo alguns sonetos de Augusto dos Anjos para seu deleite.

Abraços
F.

Debaixo do Tamarindo

No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei biliões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontonlogia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
Da minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da hemogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!


A Idéia

De onde ela vem? De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegraçãoes maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!


O Martírio do Artista

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!

Tarda-lhe a idéa! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!


O Caixão Fantástico

Célere ia o caixão, e, nele, incluso,
Cinzas, caixas cranianas, cartilagens
Oriundas, como os sonhos dos selvagens,
De aberratórias abstrações abstrusas!

Nesse caixão iam talvez as Musas,
Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagens
Enchiam meu encéfalo de imagens
As mais contraditórias e confusas!

A energia monística do Mundo,
À meia-noite, penetrara fundo
No meu fenomenal cérebro cheio...

Era tarde! Fazia muito frio.
Na rua apenas o caixão sombrio
Ia continuando o seu passeio!


O Meu Nirvana

No alheamento da obscura forma humana,
De que, pensando, me desencarcero,
Foi que eu, num grito de emoção, sincero
Encontrei, afinal, o meu Nirvana!

Nessa manumissão schopenhauereana,
Onde a Vida do humano aspecto fero
Se desarraiga, eu, feito força, impero
Na imanência da Idéa Soberana!

Destruída a sensação que oriunda fora
Do tacto — ínfima antena aferidora
Destas tegumentárias mãos plebéas -

Gozo o prazer, que os anos não carcomem,
De haver trocado a minha forma de homem
Pela imortalidade das Idéas!

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