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Artigos-->A HISTÓRIA E SUA DESTRUIÇÃO -- 03/05/2003 - 22:05 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A HISTÓRIA E SUA DESTRUIÇÃO



Francisco Miguel de Moura *





A história é uma construção coletiva.

Lamento ter que discordar do historiador português Joaquim de Montezuma de Carvalho quando me diz, em carta de Lisboa, de 14 de abril de 2003: “Perdi a simpatia pelo povo iraquiano, principalmente porque é povo que não ama o seu passado. Ao penetrarem no Museu de Bagdad e ao destruírem e pilharem centenas de peças com milhares de anos (algumas com 5 mil anos), cometeram o crime de auto-mutilação, de auto-suicídio coletivo, e naturalmente não vale a pena ter pena de quem assim procede.”

Mas não é preciso ter simpatia pelo povo iraquiano para, neste momento, sentir-se também ferido. A ferida da guerra em qualquer parte, por qualquer país, atinge fundo o coração humano, fere a humanidade toda, diminui os homens e não traz nenhum benefício.

Para onde foram os 5 milhões de manuscritos, livros, microfilmes e outros documentos guardados na Biblioteca Nacional do Iraque, em Bagdad, pelo mundo, sob os cuidados vigilantes da UNESCO? A Biblioteca Nacional do Iraque ardeu sob fogo ateado por pessoas iradas, cheias dos problemas da guerra, carbonizando-se, virando torrão, enquanto os soldados americanos e ingleses, a mando dos seus impérios, assentavam as garras definitivamente sobre o petróleo do Iraque. Quem duvida que foram eles os incendiários? Como funcionou a imprensa nesta guerra? Valha-se de um documento jornalístico que colhi no “Correio do Sul”, Minas, assinado por Márcio Varella: “O que está ocorrendo, e já faz tempo, é que as notícias mais importantes sobre o que ocorre no mundo estão sendo substituídas pelo sensacionalismo, em nome da competitividade das emissoras. Ou será que o sensacionalismo sobressai justamente para evitar a divulgação daquilo que não interessa à pátria-mãe, no caso os EUA?”

As peças furtadas poderão voltar ao Museu; aquilo que foi incendiado, nunca. Um exemplar do Alcorão escrito à mão por Ali, o quarto califa, sobrinho e genro do profeta Maomé, no século sétimo não voltará a ser visto nunca mais. Manuscritos e peças importantíssimas que guardam a memória da gente babilônica, sumeriana e assíria foram para as cinzas da guerra.

Que grande contribuição?

Os iraquianos acusam de autores dos disparates o serviço secreto israelense ou a máfia. Mas, no momento, não se sabe e talvez nunca se saiba mesmo quem foram os responsáveis pelas danificações ao patrimônio da humanidade. O responsável direto por tudo, a nosso ver, foi a guerra, o que vale dizer a América do Norte, com seus exércitos em busca de domínio completo do mundo. E o bruto George Bush ainda diz na tevê: “Não somos imperialistas!”

Quem é imperialista, então?

Os babilônios, habitantes da Mesopotâmia, região paradisíaca naqueles tempos, situada entre os rios Tigre e Eufrates, foram responsáveis pela invenção da escrita, da matemática, das astrologia, da astronomia, da arquitetura, da escultura, da geografia, das finanças, do direito (lembremo-nos do código de Hamurabi, o mais antigo do mundo) e de tantas outras artes e ciências.

Despachos das agências noticiosas dão conta de que algumas peças apanhadas do Museu já estão sendo devolvidas e que possivelmente a maioria dos furtos foram comandados do exterior, pois que objetos de arte valiosos já estão sendo negociadas na França, Irã e outros países.

Quem pode descartar que pessoas furiosas com o regime de Sadham Hussein e adolescentes, ainda sem visão formada do que é cultura, tenham posto a mão em alguma preciosidade?

Uma guerra é um vale-tudo. Nela perde-se a noção da ética, do direito, da justiça. Pensa-se apenas na segurança e sobrevivência. Graças a Deus nunca vivi uma, mas posso avaliar. Portanto, os desmandos que acontecem dentro dela devem ser atribuídos às duas partes: ao poder ditatorial que caía (regime de Sadham) e ao outro que entrava, os Estados Unidos. Não é crime que se possa imputar a alguém, pessoalmente, nem ao povo em si.

A história, como dissemos no início, é uma construção coletiva. Sua destruição também pode ser coletiva, mas até aqui tem sido feita pelos interesses imperialistas de uns poucos ditadores.













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*Francisco Miguel de Moura é escritor, da APL e do Conselho Estadual de Cultura e da União Brasileira de Escritores (UBE).

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