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Textos_Religiosos-->Cardeal e Papa condenam a Teologia da Libertação -- 14/02/2008 - 10:58 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cardeal e Papa condenam a Teologia da Libertação

por Antônio Emílio A. de Araújo (*) em 14 de fevereiro de 2008

Resumo: Abusos doutrinários, teológicos, litúrgicos e lógicos vêm sendo cometidos há quase quatro décadas dentro da Igreja Católica, particularmente no Brasil. É bom ver que alguém quer colocar a casa em ordem.

© 2008 MidiaSemMascara.org


O cardeal a que me refiro no título é Joseph Ratzinger, e o papa é Bento XVI. Um e outro condenaram veementemente a Teologia da Libertação em dois documentos importantes. O cardeal escreve, em 2000, um prefácio ao seu livro (uma reedição de um livro escrito na década de 1960) Introdução ao Cristianismo. No aspecto político, eu diria que a introdução vale mais que o livro. Claro que, no aspecto doutrinal, o livro é muito bom e a introdução, dispensável. O papa escreve, em 2007, uma encíclica intitulada SPE SALVI.

Tratemos, pois, em primeiro lugar, do prefácio ao livro “Introdução ao Cristianismo”. Diz o cardeal que, desde a publicação do livro na década de 1960, muita coisa aconteceu no mundo. Ele toma dois anos em particular para comentar os eventos mais importantes dos últimos trinta do século XX: 1968 e 1989. Em 1989, ele vê o ano em que o ciclo da esperança materialista termina e lamenta as tragédias que essa esperança trouxe ao mundo. Ele diz: “No fundo, a doutrina marxista da salvação, se bem que dividida em variantes diversas de instrumentalização, era vista como o único roteiro para o futuro, baseado em motivação ética e, ao mesmo tempo, em conformidade com a visão científica do mundo.” O papa retomará esse tema na encíclica e o desenvolverá mais profundamente. O cardeal considera, assim, que 1989 é o ano que simboliza o fracasso histórico da “doutrina marxista da salvação”.

Mas que salvação seria essa? A que nos levaria ao reino de Deus dos Evangelhos? Não. O cardeal responde logo abaixo: “Quem faz Marx o filósofo da teologia aceita a primazia dos elementos político e econômico que passam a ser as verdadeiras forças da salvação.”

E, perguntariam os leitores, quem fez de Marx o filósofo da Teologia? O cardeal responde: “Durante mais de uma década, a teologia da libertação parecia indicar a nova direção na qual a fé haveria de tornar-se novamente formadora do mundo porque se unia de uma nova maneira como as descobertas do momento histórico”. Depois de reconhecer os problemas econômicos e sociais da América Latina e do papel social da Igreja onde quer que ela esteja, o cardeal diz que a mesma, em nome de seu papel social, escolheu seu guia: “Mas de que maneira [a Igreja cumpriria seu papel]? Pareceu então ser Marx o grande guia”. E ainda aduz: “Cabia agora a ele o papel que, no século XIII, tinha sido de Aristóteles; sua filosofia pré-cristã [e, portanto, “pagã”] precisou ser batizada para que a fé e a razão pudessem encontrar a sua relação correta.”

Mas qual seria o problema de aceitar Marx? Não poderíamos batizá-lo, como fez Santo Tomás com Aristóteles. O cardeal afasta essa possibilidade quando diz: “Mas quem aceita Marx (em qualquer uma das variantes neomarxistas) como o representante de uma razão universal não adota simplesmente uma filosofia, uma visão da origem e do sentido da existência; assume, sobretudo, uma prática [o que significa que] (...) a salvação do ser humano é realizada pela política e pela economia, que determinam a face do futuro.” O que é isso, senão, de forma integral e acabada, a Teologia da Libertação?

Para dissipar alguma dúvida que ainda possa restar, o cardeal claramente diz: “Vejo o problema verdadeiro e mais profundo das teologias da libertação na ausência de fato da idéia de Deus, o que acabou afetando naturalmente de modo decisivo também a figura de Cristo (fato ao qual já aludimos anteriormente). Não que se tenha negado a existência de Deus – de modo algum. Ele apenas era dispensável na ‘realidade’ que exigia toda a atenção. Carecia de função”.

Até aqui o cardeal fala como um teólogo. O pastor, que ele era e é, diz o seguinte: “Mas Deus é ‘prático’, Ele não é um mero fecho teórico qualquer para a visão do mundo, servindo eventualmente de consolo, diante do qual se estaca ou se passa simplesmente adiante. (...) Quando Deus é deixado de lado, tudo parece inicialmente continuar como antes. (...) Mas tudo muda no momento em que a mensagem de que Deus estaria morto passa a ser realmente percebida, fulminando o coração dos homens.” Como não concluir, com o cardeal, que a Teologia da Libertação é a teologia do Deus morto?

Na encíclica SPE SALVI, quem fala é o papa, com toda a sua autoridade e pastoralidade. Mesmo assim, ele é incisivo qual tinha sido o cardeal Ratzinger. Já no item 4 da encíclica, cujo assunto é a esperança cristã verdadeira, ele não deixa dúvidas sobre o Magistério Ordinário da Igreja: “O cristianismo não tinha trazido uma mensagem sociorevolucionária semelhante à de Espártaco, que tinha fracassado após lutas cruentas. Jesus não era Espártaco, não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – Ele mesmo, morto na cruz – tinha trazido era algo de totalmente distinto: o encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus vivo e, deste modo, o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo. (...) Em virtude do Batismo, [os cristãos] tinham sido regenerados, tinham bebido do mesmo Espírito e recebiam conjuntamente, um ao lado do outro, o Corpo do Senhor. Apesar de as estruturas externas permanecerem as mesmas, isto transformava a sociedade a partir de dentro. Se a Carta aos Hebreus diz que os cristãos não têm aqui neste mundo uma morada permanente, mas procuram a futura (cf. Heb 11, 13-14; Fil 3,20), isto não significa de modo algum adiar para uma perspectiva futura: a sociedade presente é reconhecida pelos cristãos como uma sociedade imprópria; eles pertencem a uma sociedade nova, rumo à qual caminham e que, na sua peregrinação, é antecipada.” [as ênfases são minhas].


Como a esperança cristã (aquela que “atrai o futuro para dentro do presente, que muda o presente e que faz o presente ser tocado pela realidade futura, fazendo com que as coisas futuras derramem-se naquelas presentes e as presentes nas futuras”), uma virtude teologal, foi rebaixada a uma “esperança marxista da salvação”, já identificada pelo cardeal Ratzinger? O papa identifica o final do século XVIII como o início desse rebaixamento. Além da Revolução Francesa, ele cita uma obra de Kant, em que o filósofo defende como sendo um movimento evolutivo importante a passagem da “fé eclesiástica” para a “fé religiosa”. Diz o papa: “O ‘reino de Deus’, de que falara Jesus, recebeu aqui uma nova definição e assumiu também uma nova presença: existe, por assim dizer, uma nova ‘expectativa imediata’: o ‘reino de Deus’ chega onda a ‘fé eclesiástica’ é superada e substituída pela ‘fé religiosa’, ou seja, pela mera fé racional”.

A revolução de 1789 prepara, segundo o papa, uma outra revolução: a proletária. Marx então aparece como o teórico que irá propor um “novo e grande passo”, um passo “definitivo da história rumo à salvação, rumo àquilo que Kant tinha qualificado como o ‘reino de Deus’.” Mais a frente, o papa diz: “o progresso rumo ao melhor, rumo ao mundo definitivamente bom, já não vem simplesmente da ciência, mas da política – de uma política pensada cientificamente, que sabe reconhecer a estrutura da história e da sociedade, indicando assim a estrada da revolução, da mudança de todas as coisas”. E conclui: “Assim, a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do homem, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro ‘reino de Deus’.” Como não lembrar aqui do slogan “Um outro mundo é possível”?

Matar Deus e reduzir a esperança bíblica à mera esperança do reino do homem: essas são as características principais da Teologia da Libertação, segundo Ratzinger e Bento XVI.

Como pastor, o papa ainda continua a nos orientar quanto às questões relativas aos problemas humanos que a espúria teologia não consegue resolver. Ele diz: “Devemos – é verdade – fazer tudo para superar o sofrimento, mas eliminá-lo completamente do mundo não entra nas nossas possibilidades, simplesmente porque não podemos nos desfazer da nossa finitude, e porque nenhum de nós é capaz de eliminar o poder do mal, da culpa que – como constatávamos – é fonte contínua de sofrimento.” Fala ainda mais pastoralmente: “Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor.”

Assim, temos duas análises sobre a Teologia da Libertação, ambas completamente coincidentes. Uma de um grande intelectual, o cardeal Ratzinger, e outra do Papa Bento XVI. Os católicos temos assim não só a fundamentação teológica e filosófica para refutar a Teologia da Libertação, mas também a fundamentação doutrinária do Magistério Ordinário da Igreja. Seja por honestidade intelectual, que toca a todos; seja por observação ao Magistério da Igreja, que toca especialmente aos católicos: devemos não só refutar, mas lutar contra esse arremedo de teologia.

Abusos doutrinários, teológicos, litúrgicos e lógicos vêm sendo cometidos há quase quatro décadas dentro da Igreja Católica, particularmente no Brasil. É bom ver que alguém quer colocar a casa em ordem, sobretudo porque essa Casa foi Deus quem fundou. É bom ver, ainda mais, que esse alguém é o representante do Chefe Supremo da Casa. [*]


[*] Ver, sobre este mesmo assunto: Antídotos contra a Teologia da Libertação e Lições das Missas Dominicais pós-Concílio Vaticano II


(*) O autor é professor de Engenharia da UFMG.



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