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cronicas-->Vertigem -- 21/03/2009 - 20:03 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sempre que me vem a vertigem, lembro de teus olhos brilhantes, cintilantes como a luz da lua cheia refletida nas águas do calmo lago que se esvaiu, levando gansos, peixes, assombrações, militantes ecochatos e cisnes, lixo e dinheiro jogado em pencas para estranhas promessas e pedaços podres de madeira e barcos afundados que nunca chegaram a navegar. Lembro de tua voz ecoando na concha acústica, emanando dos galhos das árvores imensas que em dia de tempestade, tendem a cair nas vias públicas sobre carros estacionados e casais distraídos em performances mais do que suspeitas.

Há sobre a avenida que margeia o lago falecido cipós que pendem vindos de um bosque que faz as vezes de jardim do paraíso perdido de uma igreja onde fiz a primeira comunhão, de onde guardo a vaga lembrança de um gosto de pão sem sal e de uma fé que profunda vinha de uma poderosa sensação, hoje perdida, de paz, quietude e confiança absoluta num futuro que ora se mostrava distante, ora se mostrava enevoado mas sempre à frente, movendo as entranhas do mundo que entrava pela minha boca, num rito de respeito absoluto que culminava no beijo em um anel de rubi que fascinava os olhos de quem o via. Assim que eu sinto a vertigem, brilha o vermelho do rubi prometido que agora deve habitar outras mãos; lembro da figura do Cristo iluminada em uma moldura minúscula que guardei não sei onde e lembro dos teus olhos sorridentes, a fixar minha frágil figura, tão importante no mágico momento de receber a luz do mundo.

Vem a tontura e eu beijo a garrafa que me redime, cónscio de que da última vez, eu prometi que não o faria, mas novamente sorvo o acre sabor do imundo vício que me persegue e me consome, esquecido agora do insosso sabor da fé que movia as montanhas do mundo que agora são frágeis, seco que o lago está, com as sobras preenchidas de suas entranhas e com as estruturas de outrora abrigando peixes que ainda resistem em manter as guelras funcionando mesmo na lama que rescende ao passado de uma época que já não existe, como as mãos que ungiram meu sonho de vida, assim como seus cabelos esvoaçantes.

A vida é frágil e só eu sei o quanto custa saber disto na pele, este frágil envoltório que faz nosso limite com a realidade, este envoltório que resiste às intempéries; lembro de tua tez aveludada, de tuas orelhas minúsculas (como eu gostava delas) e vem a impressão exata, num sonho de medusas impossíveis de uma lagoa de recifes que jamais pousaria na Sé, nem na Luz. Enfim, jamais saberia o sabor do salgado ar do amor se não fossem tuas mãos percorrendo minha nuca, em meio aos espasmos do incontrolável que nos unia.

Desta vez, eu prometo: A garrafa vai ao fundo do lodo onde se debatem cisnes perdidos, onde pessoas caridosas espalham baldes para salvar o que resta das tilápias, dos dourados, das multicoloridas carpas que habitavam o fundo, sedentas de pão jogado aos domingos por meninos irrequietos e famílias que admiravam a paisagem espelhada nos teus olhos, a copa das árvores aneladas de teus cabelos, ouvindo o som dos pássaros que revoavam à procura do diamante perdido.

Vou te procurar, de uma vez por todas, de uma maneira definitiva, como se procura a melhor palavra para ornar um conto inexistente, uma rica rima num poema que teima em sair ou uma óstia que me trazia a beleza do Universo à minha boca.

É só passar e vertigem.
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