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Cronicas-->Lula, o heresiarca -- 17/03/2009 - 11:18 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Truque besta

Ao defender o aborto como dever moral, Lula insiste em enfatizar que o faz "como cristão e católico", o que o enquadra, sem a mais mínima possibilidade de dúvida, na categoria dos heresiarcas.

Olavo de Carvalho (*)

10/3/2009

O sr. presidente da República mostra-se escandalizado, chocado, abalado até o fundo de seus sentimentos éticos mais nobres quando a Igreja discorda de sua singela opinião de que para proteger uma criança deve-se matar duas. Se ele fosse ateu, budista ou membro da Seicho-no-Ie, tudo o que os católicos poderiam fazer diante de seu discurso abortista seria resmungar. Mas ao defender o aborto como dever moral, ele insiste em enfatizar que o faz "como cristão e católico", o que o enquadra, sem a mais mínima possibilidade de dúvida, na categoria dos heresiarcas.

Heresia, para quem não sabe, não é qualquer doutrina adversa à da Igreja: é falsa doutrina católica vendida como católica - exatamente como o discurso presidencial contra Dom José Cardoso Sobrinho. Mas, no fundo, isso não faz a menor diferença. Por seu apoio continuado e impenitente aos regimes e partidos comunistas, Lula já está excomungado latae sententiae faz muito tempo e não precisa ser excomungado de novo. A excomunhão latae sententiae, isto é, "em sentido amplo" decorre automaticamente de ações ou palavras, independentemente de sentença oficial e até mesmo de aviso ao excomungado.

Na mesma categoria encontra-se a sra. Dilma Roussef. A presença de qualquer um desses dois num templo católico - quanto mais junto ao altar, na condição de co-celebrantes - é uma ofensa intolerável a todos os fiéis, e só o oportunismo de um clero corrupto até à medula explica que ela seja tolerada e até festejada entre sorrisos de subserviência abjeta. Neste caso, como em todos os similares, a covardia e a omissão não explicam tudo. Alguém manda nos covardes e omissos, e este alguém não é nada disso: é ousado e ativíssimo a serviço do comunismo.

Quanto ao exército inteiro dos que se fingem de indignados junto com o sr. presidente - e ainda o apóiam nesse paroxismo de hipocrisia que é o "Dia Nacional de Luta contra a Hipocrisia" -, seu papel no caso é dos mais evidentes. Os estupros de crianças, cujo número crescente escandaliza e choca a população, são constantemente alegados por essa gente como pretextos para debilitar a autoridade dos pais e submeter as famílias a controles governamentais cada vez mais invasivos.

A ONU, os partidos de esquerda, a mídia iluminada, os educadores progressistas e uma infinidade de ONGs - as mesmas entidades que promoveram o feminismo, o divórcio, o gayzismo e todos os demais movimentos que destruíram a integridade das famílias - posam hoje como os heróicos defensores das crianças contra o risco permanente de ser estupradas por seus próprios pais. Toda a credibilidade dessas campanhas advém da ocultação sistemática de um dado estatístico inúmeras vezes comprovado: a quase totalidade dos casos de abuso sexual de crianças acontecem em casas de mães solteiras, cujo namorado - ou namorada - é o autor preferencial desse tipo de delito. Na Inglaterra, os filhos de mães solteiras sofrem 73 vezes mais abusos fatais - e 33 vezes mais abusos sérios sem morte - do que as crianças criadas em famílias completas.

Nos EUA, 55 % dos assassinatos de menores de idade ocorrem em casas de mães solteiras. Raríssimos casos de abusos de menores acontecem em lares íntegros, com pai e mãe regularmente casados. A presença de um pai é, hoje como sempre, a maior garantia de segurança física para as crianças. Aqueles que removeram esse pai, entregando as crianças à mercê dos amantes de suas mães, são diretamente culpados pela epidemia crescente de violência contra crianças, e são eles mesmos que tiram proveito dela, arrogando-se cada vez mais autoridade para solapar a da família constituída e colocar um número cada vez maior de crianças sob a guarda de assistentes sociais politicamente corretos.

A sequência dialética é de uma nitidez impressionante. Tese: a pretexto de proteger mulheres e crianças, procede-se à demolição da autoridade paterna, bem como dos princípios morais que a sustentam; antítese: nas famílias desfeitas - surpresa! -, proliferam os estupros e a gravidez infantil; síntese: o aborto é elevado à categoria de obrigação moral, e em seu nome o Estado condena a religião como imoral e desumana e se autoconstitui em guia espiritual da sociedade.

Pensando bem, é um truque simples, até besta. Mas o tempo decorrido entre a tese e a síntese torna invisível a continuidade do processo aos olhos da multidão.


(*) Olavo de Carvalho é ensaísta, jornalista e professor de Filosofia




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