Num rápido descuido, derrubei minha bandeja repleta de palavras.
Todas ao chão num emaranhado de frases desfeitas.
Línguas estranhas ali escritas e à espera de uma tradução convincente.
Pasmo, fiquei diante de minhas palavras tentando entender como seria possível reuni-las outra vez no formato do meu longo texto de vida.
Mas o que importaria agora tamanha preocupação?
De que adiantaria minha tentativa de montar aquele complicado quebra-cabeças?
Tratei apenas de juntar minhas palavras e depois as deixei em minha bandeja num descanso que poderia ser eterno.
Recordo de ter apanhado com as mãos firmes, palavras com o mais puro sentido de paixão, de amor, de felicidade, de lágrimas, de dores confusas e passadas e muitas outras que simplesmente expressavam essas agruras do dia após dia.
Peguei-me tentando depois formar alguma frase de efeito, totalmente sem defeito, no sentido mais perfeito da essência vindo do meu peito.
A frase não se formou, porque minhas palavras estavam emaranhadas e a essência decidiu ir passear com a inspiração.
De certo voltariam logo e assim, eu iria poder reformular meu texto, impactar minhas frases e escolher as palavras certas para as expressões mais contundentes.
A noite emoldurou-se num enorme quadro-negro cujas escritas eram apenas e tão somente estrelas cintilantes.
Cada uma delas, uma palavra. E todas reunidas no firmamento numa única constelação escreveram sim, todas as possibilidades que estão lá no fundo da alma.
Palavras então são um mero acaso do gesto de escrever. A bem da verdade, já nasceram por lá, prontinhas e decididas as unirem-se em frases que desenham a existência e finalmente, decidem ocupar os palcos da alma para exibir a magnífica coreografia da vida que neste exato momento se traduz em pura poesia.
Soprei agora mesmo minhas palavras ao vento e todas bateram suas asas como um bando de andorinhas felizes a escrever qualquer coisa na imensidão azul do céu.
*S. José dos Pinhais - 07/03/2009