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Cronicas-->O Regresso -- 13/03/2001 - 23:56 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

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Estava viajando há muitas horas, mas o pensamento me perseguia numa só direção. As recordações que minha terra e minha gente traziam numa estranha e profunda reminiscência que me deixava por vezes atónita. Tinha a impressão que não devia voltar, mas aquela sensação forte que nos liga às raízes falava alto e com voz de comando.
Havia abandonado muito jovem a minha casa premida pelas circunstàncias, envolvida num terremoto de censuras maternais, esmagada pela descrença de uma existência complicada e que exigia de mim sonhos que eu não tinha e que poderia anular meus ideais maiores.
Minha mãe costumava dizer que eu nascera num mundo que não era meu e concordava com ela. Sabia o quanto minha sofreguidão de viver como se fosse morrer amanhã, enchia-lhe a alma de amargura. Mesmo assim premida pela tristeza de meus pais resolvi seguir meu próprio destino. Muito cedo e demasiadamente inexperiente. Com o entusiasmo e fé que só a extrema juventude concede.. Estava realizada e feliz, mas as saudades se acumulavam de uma maneira tão grande que tinha resolvido empreender um breve regresso. E fazer-lhes uma surpresa...
À medida que se aproximava a hora do reencontro sentia uma insegurança que não fazia parte do meu temperamento. Pensava na figura altiva e predominante de minha mãe. Como estaria ela? Era a minha pergunta constante e medrosa.
Quando o táxi parou perto da rua em que passara minha infància vi que dificilmente seguraria as lágrimas e imaginei como seria bom ver meu pai e aspirar aquela força que sempre admirei. Naqueles anos todos de ausência seu olhar profundo e expressivo era a única coisa do passado que eu realmente procurava com ansiedade. Resolvi andar um pouco para que meu coração ficasse mais tranquilo e recordei quando meu pai me falava dos instantes que jamais voltariam e da força que a vida imprimia a cada acontecimento em seus detalhes emocionais completos.
Estava em frente à praia que tanto amava. Tirando os sapatos pisei na areia branca que me dava inefável prazer na infància. Nesses devaneios parece que a saudade de casa aumentava e quase correndo passei pela rua movimentada em que fora criada e que àquela hora estava ligeiramente mais calma.
O porteiro conheceu-me imediatamente e cumprimentou-me olhando-me em expectativa. Antes de abrir a portaria perguntou-me:
-Não quer avisar a sua mãe?
-Não disse, eu, quero fazer-lhes uma surpresa.
Senti sua hesitação e imaginei se ele pensaria que minha família me negaria a entrada lá. Mas foi rápida e ele então pegou a pouca bagagem que eu tinha trazido e que se encontrava ao lado do enorme prédio.
Subi o elevador em ansiedade e então a velha babá que me criara abriu a porta completamente surpresa pela minha presença e eu caí em seus braços. Quando levantei a cabeça, vi minha mãe que me olhava em um àngulo que para ela era mais favorecedor em termos de visão. Mas pude constatar o quanto estava envelhecida e quantos cabelos brancos aureolavam o seu rosto de traços bonitos.
Chorando afastei-me delicadamente de Manoela e aproximei-me com carinho de minha mãe. Abraçei-a enquanto sentia a sua frieza e indagava-me porque os anos não haviam amenizado as diferenças.
-Por que veio hoje? Perguntou-me enquanto duas lágrimas desciam pelo seu rosto cansado
-Quero ver meu pai. Senti muita vontade de falar com ele.
-Depois desses anos todos?
-Sempre senti falta de vocês. Mas ultimamente parece que precisava falar com ele. E se não falei mais cedo foi porque todas as minhas cartas voltavam. Por que?
-Seu pai sofreu muito. Achei melhor assim.
- Mandei para vocês meu endereço eletrónico.Meu celular.
-Liguei para seu celular. Jamais conseguia falar.
- Mãe, agora não adianta ficarmos aqui nos culpando. Quero só ver meu pai.
Ela olhou-me com indisfarçável desprezo enquanto falava, cada sílaba parecendo uma chicotada...
-Seu pai morreu há quinze dias. Tentei lhe comunicar.
Caí sentada na almofada da enorme sala que agora me parecia mais fria e nada aconchegante e pensei sem entender porque durante tantos anos eu pensara nele achando sempre que estaria à minha espera no momento que regressasse. E compreendi porque ele me dizia que devíamos aproveitar cada segundo pois aquele momento preciso jamais voltaria.

Vània Moreira Diniz
23-02-2001




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