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cronicas-->A memória e o dia -a-dia -- 12/03/2001 - 00:10 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
www.vaniadiniz.pro.br

Nunca poderei esquecer a casa meu avó, homem de influência, escritor e político. Vivia cheia de gente e para mim parecia sempre uma festa. Muitos anos depois quando meu avó morreu, minha avó costumava dizer que o prestígio perdura enquanto as pessoas vivem. Perguntei-lhe então o que ela queria dizer com isso e ela me respondeu
-Lembra-se quando seu avó era vivo? E da profusão de pessoas e de visitas? Dos jantares especiais e telefonemas que não paravam? Lembra-se como falavam dele?
-Todos sempre lembrarão dele, vovó. Todos.
- Você é muito jovem e seu avó morreu há pouco tempo. Um dia conversaremos.
Com o tempo passando vi que ela tinha razão. O movimento até aumentara no princípio pela emoção da sua partida mas aos poucos a casa adquiriu uma maior tranquilidade. Não completa, mas pelo menos evidente para quem estava acostumada como eu a ficar muito tempo ali. Entendi o que ela quis dizer.
Algum tempo depois fui a um asilo de velhos fazer uma visita em Jacarepaguá no Rio de Janeiro e encantada com tantos velhinhos simpáticos que se espalhavam pela casa querendo me ver e conversar notei uma figura familiar. Pensei comigo que não podia ser ela. Mas quando pensava assim Rosália se encaminhou em minha direção dizendo
-Vània querida! Vaninha!
Abracei-a encantada, mas admirada da sua presença ali. Conhecera-lhe desde que me entendia por gente pois era amiga de minha avó. Seus traços sempre guardaram a beleza que deveria ter ostentado no apogeu de sua vida. E então lhe perguntei
-O que está fazendo aqui?
-Moro aqui, minha querida. Estava me sentindo muito sozinha.
Ela estava sempre na casa de meus avós e me vira crescer. Conservava muito carinho por aquela mulher que me reservara tantas horas em sua vida. Muitas vezes ia visitá-la, pois morava sozinha desde que o marido morrera.
- Prefere morar aqui? perguntei
- Sua avó tem uma família inteira e ainda alguns amigos fiéis. Muitos na verdade. Eu não tive filhos, Vània. E o mundo me parece pequeno agora. Desde que meu marido morreu as pessoas foram se afastando porque ele tinha muitas coisas a oferecer: posição, prestígio e favores. Eu fiquei à sombra dele e não posso fazer por ninguém o que ele fazia.
Olhei-a abraçando-a perguntando angustiada
-E aqui?
-Nesse lugar encontro pessoas que tem os mesmos interesses e necessidades cujo mundo é limitado como o meu e que são capazes de me ouvir porque também querem ser ouvidos.
- Você tem a nós todos. E minha avó?
-Filha, tudo é diferente agora. O universo de sua avó é bem maior que o meu porque ela não ficou tão à parte na vida de seu avó. Porque era atuante, tinha seu próprio lugar e também porque lhe restou uma família que a adora. Fique tranquila. Estou bem, aqui. Não precisa ficar triste.
Visitei-a muitas vezes e sentia o quanto ela parecia realmente animada, entretanto suas palavras ressoavam em minha cabeça com uma persistência absoluta. Perguntava-me se depois de uma caminhada razoável as pessoas se sentiriam tão zozinhas. E se realmente eram esquecidas as que já tinham partido. Indagava-me se a memória das pessoas era tão curta. E se o sofrimento pela perda de alguém hoje já não seria lembrado amanhã.
E agora na partida de Mário Covas que tanto padeceu e cujo sofrimento foi chorado por toda uma população e em que o dia de sua morte foi acompanhado pela mídia de modo comovente eu me pergunto: Amanhã será lembrado com a mesma sensibilidade?
É certo que o tempo é um poderoso lenitivo. Se não fosse ele estaríamos num mundo de loucos porque ficaríamos num sofrimento sem tréguas. Mas será nossa memória tão fraca?
E a imagem da boa Rosália está sempre nos meus pensamentos ao lembrá-la naquele asilo e ainda satisfeita por ter encontrado amigos naquela fase solitária e difícil.


Vània Moreira Diniz
10-03-2001



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