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Cronicas-->Paixão Fugaz -- 10/03/2001 - 19:59 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

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Quando o conheci fiquei admirada pela beleza máscula de seu rosto tão fascinante e terno tanto quanto os olhos pareciam amargurados. Passava sempre por aquele mesmo lugar e nos olhávamos enquanto eu atravessava a Rua Figueiredo de Magalhães em Copacabana onde ficavam muitas barracas de camelós vendendo suas mercadorias coloridas.
Olhávamo-nos profundamente e ele sentado em uma cadeira de rodas me parecia sempre mais cativante. Seus olhos eram castanhos e pareciam acariciar e todo seu rosto insinuava uma beleza que provinha principalmente de seu impressionante carisma.
Várias vezes tinha ocorrido a mesma cena e naquele dia enquanto eu andava pela Avenida Copacabana ele parou sua cadeira de rodas bem perto perguntando com um sorriso:
-Pode me dizer seu nome?
Meu coração bateu descompassado enquanto respondia a pergunta que me fizera. E então com singularidade falou, a voz agradavelmente modulada:
-Pode fazer a pergunta. Quer saber como vim parar nessa cadeira?
Sua voz era doce, mas o modo rude de se expressar me fez derramar lágrimas involuntárias.
-Não precisa me dizer nada. Por que fala assim?
- Porque sei que está curiosa. E porque quero conversar com você.
Olhei-o, insegura quanto ao desenrolar de um diálogo que começava estranho e triste. E, no entanto sua pergunta apesar de ter me chocado vibrava em minha cabeça e eu desejava aquela resposta. O rapaz era demasiado forte e estranhamente sedutor mesmo naquela melancólica situação e gostaria de saber o que o levara tão cedo a uma situação difícil e perturbadora. Ele apenas sorriu ironicamente enquanto eu via em sua expressão que queria prolongar aquele momento e que a aparente segurança estava encoberta pelo ar superior.
Não me contou a sua história e procuramos conversar sobre trivialidades. À medida que os dias passavam e nos víamos a paixão nascente cresceu com uma força de fogo queimando as ínfimas fibras. Mas não queríamos ceder. Eu tinha apenas quatorze anos e Marcos muito mais que o dobro da minha idade. E minha mãe que percebera tudo lutava contra aquela amizade que considerava sumamente perigosa.
Ao fim de algumas semanas entregamos os pontos ambos e completamente absorvidos pelo estranho sentimento, marcamos um encontro longe de Copacabana. Perguntava-me como ele iria até outro lugar e o jovem percebeu a dúvida que se instalava em minha inexperiente cabeça.
- Não se preocupe. Seja onde for estarei lá.
Percebendo o ar estranho que eu fizera continuou:
- Está mesmo apaixonada por esse paraplégico?
Ele tinha a capacidade de arrancar-me lágrimas pelo poder satírico e rude de suas palavras.
-Levantando o rosto e pela primeira vez enfrentando-o respondi
-Quer a verdade? Estou. Mas acho que tem muita pena de você mesmo. E por isso é tão rude.
Arrependi-me na mesma hora do que dissera e passei a mão em seu rosto que revelava sem disfarce o que lhe ia na alma: Revolta
-É jovem demais para compreender certas coisas e, no entanto acertou exatamente: Tenho pena de mim!

CONCLUSÃO

Marcamos um encontro num lugar tranquilo do Leblon e Marcos veio acompanhado de um amigo que discretamente se ausentou. Pudemos então sentir o quanto estávamos envolvidos, mas ele já tinha tomado uma decisão que seu bom senso dizia que era o certo.
-Estamos apaixonados, mas não vai dar certo. É preferível que soframos agora.Você é muito delicada e sou muito acre. É jovem e não vai compreender minhas crises. É saudável demais sou um inutilizado. É muito bonita e eu me conservarei sempre inválido. Não quero ser inferior ou sentir-me assim. Nossos mundos são opostos.
Enquanto ele falava as lágrimas corriam céleres pelo meu rosto e sentia raiva de mim mesma. Mas não gostava que o homem por quem estava apaixonada falasse daquela maneira. Estava disposta a ajudá-lo, mas o rapaz fazia questão de se amargurar e avaliava que eu era mais frágil do que na realidade. Olhando-o sabia o quanto estava envolvida, porém imaginava que realmente sempre iria haver um abismo entre nós. Não pela realidade da sua deficiência, mas porque ele não permitia que eu o ajudasse. Eu compreendia apesar da minha juventude que Marcos precisava fazer um tratamento psicoterápico para assumir a própria carência física. E só assim poderíamos ficar juntos.
Abraçamo-nos e beijamo-nos com uma força e vigor que mostrava o quanto havia de apaixonante em nosso relacionamento, entretanto Marcos procurava sempre ser ácido nas horas em que conversávamos e passado algum tempo pude compreender que o fizera premeditadamente. Foi a forma de se afastar de mim e ter nas horas de sofrimento não recordações doces, mas conflitos que lhe lembrariam uma relação atribulada. E de concluir erradamente que eu sofreria menos. Mas compreendi isso tarde demais!

Vània Moreira Diniz
09-03-2001
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