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cronicas-->Quem conta um conto... -- 09/02/2009 - 21:10 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quem conta um conto aumenta um ponto. Ele se lembrava de sua avó e sua célebre frase, em meio ao roseiral de seu jardim, rosas do tamanho de alfaces, brincos de princesa numa casa que não era sua ( era alugada) e de seu sorriso iluminado que o abençoava sempre ao deitar com uma prece mágica que a fazia dormir entre restos de palavras e o fazia adormecer com a suavidade de sua voz fina e sensível.

Haveria motivo para tal sorriso?

"Era uma vez um menino que era muito curioso", ela começava a aumentar seu ponto enquanto fazia suas blusas de lã, suas toalhas de renda finíssima, seus caminhos de mesa, suas cortinas barradas, seu crochê abençoado; suas mãos pareciam máquinas, fiando, tecendo, fabricando tessituras que iam parar nas diversas mesas da família que a cercava de carinho e que ela retribuía com a casa perfumada.

O siso do menino a espantava: "Qual a razão de tão sério mistério?" e ele saía de seu mundo particular, íntimo, só dele, onde com lupas explorava as propriedades do sol e as iluminuras do mundo pequenino. Sempre atento, mostrava à avó as curiosidades que ela talvez não compreendesse, mas levava a sério a ponto de aumentar os fatos quando a mãe dele chegava para apanhá-lo e levá-lo para sua casa.

"Esse menino! Hoje ele me mostrou o tamanho das formigas e disse que um dia cuidará de mim. Quer ser médico o danado!"

Sua mãe confirmava com a cabeça porque já conhecia os instintos do pequeno garoto mirrado, que sobrevivia graças ao seu talento de vida, sua capacidade de sonhar: Essa era e é sua marca ainda.

"Por que às vezes ele é tão sério? Às vezes..."

...Ele se perdia no mundo, vendo o movimento dos astros, sonhando acordado com os segredos do oculto mundo entre as folhagens dos jardins da casa modesta da avó: Só ele sabia da guerra secreta que se desenrolava no escuro da grama, entre as pedras do caminho que levavam para dentro da casa de dois andares. Ele observava nas ruas o movimento das árvores na chuva forte, que as vergava e as fazia gemerem no esforço da sobrevivência.

Sua avó tinha uma caixa onde guardava moedas, uma caixa de jogo de xadrez adaptado, onde havia mais do que moedas, um colar de pérolas falsas grandes que ele olhava fascinado contra a luz, vendo as cores da luz no prisma dos vidrinhos feito gemas.
"Quem conta um conto aumenta um ponto" e ele sorria, sabendo que era hora de tomar a gemada que ela fazia pelas próprias mãos, até ficar branca, macia, com consistência de creme. A avó era tão abnegada que misturava gotas de vinho do porto na guloseima, que se tornava irresistível! Suas festas eram memoráveis, os natais tinham o sabor da Itália e a família crescia e a cercava de mimos.

Quando se foi, ele já era homem feito. Já havia passado por uma crise, já havia se fortalecido, havia se formado médico e tentara cuidar dela o quanto pode, apesar de não ser cardiologista nem especialista. Eu conto este conto porque queria aumentar um ponto, o ponto de minha avó que ainda mora na forma de toalhas nas nossas mesas. O colar sumiu com o tempo mas a caixa, ah, essa caixa eu a vi numa cristaleira; bem guardada, deve ter dentro um tesouro incomensurável de alegrias.
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