Quero romper com tudo, com a sociedade.
Quero romper com os preconceitos que me acorrentam ao passado, a tudo que já está esturricado pelo calor da vida, quero destruir as múmias da existência.
Não desejo continuar a perpetuar as farsas que me obrigam a usar máscaras de bons modos e posar de pacificador, justo e sábio.
Não sou sábio, e nem sabia disso.
Não sou nada. Naquele monólogo de Shakespeare, opto pelo “não ser”, pois não sendo, serei livre de todas as artimanhas sociais que se engendram para a dominação do ser.
Quero mesmo romper com a ordem estabelecida, enquanto estabeleço a desordem em meus pensamentos, virando de ponta-cabeça tudo que ficou predefinido.
Por assim dizer, digo não aos preconceitos, e por conseguinte também aos conceitos.
Não quero saber de nada e que nada saiba de mim, nem mesmo eu.
Quero me perder no infinito e me encontrar nele, para todo o sempre.
Nada de fantasias piegas de nirvanas e paraísos, meu paraíso talvez seja o próprio inferno.
Que seja!
Porque sorrir quando se quer morder?
Porque morder quando se quer abraçar?
Porque matar ou morrer?
-Mas o que é isso!?
Tenho mais o que fazer, se ficar a fazer nada.
No mesmo instante em que digito este amontoado de palavras, vêm-me ímpetos de deletar tudo.
É tão inútil ficar aqui, frente a essa geringonça, vendo páginas coloridinhas e imagens tão falsas como a própria virtualidade.
Pergunto-me : Porque ainda estou aqui?
Não tenho resposta, e talvez não queira tê-las.
Chega de tanta previsibilidade e coerência.
Chega de fazer coisas encadeadamente lógicas e com objetivo.
Quero a subjetividade do paradoxo. Quero a incoerência tal qual a vida é. Ilógica como a escuridão do universo.
Talvez falte pouco agora para eu ser encerrado numa clínica psicológica, atado a uma camisa-de-força, recebendo doses maciças de drogas zumbificantes ou choques elétricos para acalmar os nervos. Talvez até se justifique uma lobotomia.
Para os mortos-vivos que constituem a imensa maioria dos habitantes desse dantesco planeta, isso tudo se justifica plenamente, fazer o mal, como se fora o bem, é amplamente justificável pelos poderes instituído na desonestidade e pelos falsos santos que se aplicam tanto em condenar e absorver os outros, como se a eles fosse dado o direito de assim, desgraçadamente, proceder.
Agora basta!
Marco Antonio Cardoso
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