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Humor-->Os pescadores, o medo do chifre e o policial (revisado) -- 08/05/2006 - 15:21 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Noutro dia, eu e mais quatro colegas fomos pescar no lago Serra da Mesa, próximo à cidade de Uruaçu, em Goiás. É um lago com cerca de 1.700 km² em que predomina o Tucunaré, além da Curvina, da Cachorra, do Jaú e do Surubim. Apesar de estarmos entre colegas, a pescaria é um momento em que ficamos a sós com nós mesmos. É quando refletimos sobre os problemas, e sem censura falamos os palavrões proibidos em público. Nestas ocasiões também revelamos nossos segredos, falamos da nossa infância, amores, sucessos e frustrações. Ouvimos conselhos, somos psicólogos, médicos e advogados. Enfim, como diz a atriz e escritora Maitê Proença, referindo-se às peladas de fim de semana, “as mulheres não têm uma diversão igual”. Assim também é a pescaria.

Mas vim relatar um fato acontecido certa vez. Como já disse, éramos cinco e havia um convidado que se juntou a nós pela primeira vez.

Final do dia, o sol se pondo, céu avermelhado, as aves chegando na maior agitação para o pernoite, um colega iniciou o assunto:

_ Ééé gente, nós aqui há dois dias, não pegamos nada, o barco cheio de homem... O que será que nossas mulheres estão fazendo?
Emendou o outro:
_ Espero que ela não esteja rodeada de machos como eu.
_ Já pensou se a gente vai naquele cabaré hoje a noite e vê nossas mulheres passando com a tralha de pesca e um garotão a tiracolo? - Atacou o terceiro.
_ Quando saio pra pescar minha mulher aproveita para visitar a mãe, os irmãos e todos os parentes dela. Mas ela nunca vai sozinha não, sempre leva as crianças.
Foi a maior gargalhada no barco, zombaria geral. Alguém não deixou por menos e completou:
– Ela leva as crianças, mas deixa na casa da mãe e vai ao cabeleireiro, certo?
_ Quando saio do acampamento eu já ligo pra casa que é para eu não dá um tiro no Ricardão. Já pensou eu matar o cara? Ir pra cadeia e perder as pescarias, nem pensar!!!... Vida longa ao Ric!
Comentou o outro:
_ A minha só sai com as crianças. Temos um casal.
_ Se eu pegar o Ricardão dentro de casa corro atrás e pego ele pelo chifre. Ele corre na frente e eu atrás chifrando a bunda dele. Comentou o sujeito que estava na proa.
Fui atacado quando alguém disse:
_A mulher do João deu a ele uma faca de fresco que tem até bússola. Ela faz tudo pra ele vim pescar.
_ E a sua, que te deu uma cadeirinha para você ficar sentadinho muitos dias aqui, sem ter pressa de voltar! - Retruquei, para a felicidade geral.

Essa conversa besta durou um tempão, a lua cheia já ia alta e iluminava todo o lago. Quando eu já estava com as bochechas cansadas de tanto rir, veio o novato, que até então se manteve calado, e lembrou-se de que precisava voltar logo para casa porque tinha umas notas promissórias para pagar.

_ Esquenta não. Deixa que o Ricardão paga. - Comentou alguém, para a delícia de todos.
Continuou o novato:
_Gente, eu preciso ir mesmo. Esqueci de falar com minha mulher sobre essas notas. - E tome galhofa.
Alguém cochichou no meu ouvido:
_A mulher desse novato é uma gatinha: loirinha, barriguinha batida, educada e nova. Esse detalhe é importante!
_ Ela gasta pouco? - Perguntei. Caímos na gargalhada e deixamos a turma curiosa querendo saber qual era a graça.

A cantilena desse chato durou até a madrugada. Ele era dono de uma locadora de vídeo e tivemos que acalmá-lo sobre os seus compromissos, afinal naqueles dias era carnaval, ninguém cobrava ninguém. Prometemos que logo cedo iríamos à cidade e ele ligaria para casa e para os credores. A maioria de nós já estava deitada e o sujeito já quase convencido quando alguém gritou da barraca:
_ E se ele ligar e o Ricardão atender?

Aí lascou de vez! O novato começou a choramingar e se lamentar para um colega que se mantivera calado e exibia apenas um sorriso tímido diante das brincadeiras. Dizia que estava com alergia aos mosquitos e que nunca havia dormido numa barraca, coisa e tal. Enfim, dormimos!

Quando acordei, e fui o primeiro a me levantar, o novato já havia desarmado e enrolado a barraca e estava sentado nela. A bolsa de roupas ao lado, olhos vermelhos de sono, e disse:
_ João, me deixa na cidade, por favor. Preciso voltar pra casa.
Ponderei.
– Meu amigo a cidade mais próxima fica a 100 km. Para ir e voltar serão 200 km. Calma rapaz, todos nós temos compromissos e família. Quando voltarmos tudo estará em ordem, mulher é um bicho competente... Se vira sem a gente por perto.

Um engraçadinho que ouvia a conversa gritou:
_ São tão competentes que quando saímos de casa logo elas arranjam outro.
_ Gritou alguém de dentro da barraca marrom. - Liga depois das dez porque o Ricardão não gosta de acordar cedo não.

Pronto, foi a gota d’água. O novato se levantou e saiu andando estrada a fora com a mochila nas costas. Disse que iria a pé mesmo. Saí atrás dele e o convenci a voltar. Numa conferência rápida e com alguns já irritados com o empestiado, resolvemos levantar acampamento.

Graças a esse simpático, ficamos dois dias, quando o programado eram cinco. Saímos sem maiores discussões e naquele dia vi o quanto éramos unidos. Demos os mantimentos para uns ribeirinhos e viemos embora.

Já no caminho de volta, eu vinha com dois colegas no carro. O novato vinha noutro carro com o colega que o convidou.

É agora que entra o policial. Ele é um senhor de uns cinqüenta anos, cabelos grisalhos e muito simpático. Já fomos pescar juntos várias vezes. Então ele começou:

_ Gente, sei o que este novato tá passando. É muito ruim. Comigo aconteceu o mesmo. Entrei para a polícia com dezoito anos e poucos dias depois eu me casei. Ainda estava na escola de formação, quando num certo plantão noturno os colegas mais antigos começaram a dizer que o militar está muito propenso a levar chifre. Ele tem horário fixo e rígido. O cara não pode sair no meio da sentinela e resolver coisas familiares. Se for um plantão de vinte e quatro horas, a mulher pode até ir a uma festa, chegar antes do marido e ele nem se dá conta... O que eles queriam era me amedrontar... E conseguiram. Aquela história me deixou preocupado, então fui para casa ver se estava tudo em ordem. Era alta madrugada quando inventei que uma patrulha estava pedindo socorro e saí de viatura para socorrer os supostos colegas. Chegando em casa entrei sorrateiramente, não acendi as luzes e me dirigi ao quarto do casal. Gelei dos pés à cabeça quando vi que minha mulher estava dormindo com alguém. Fiquei cego. As pernas tremeram e a garganta secou. Agradeci aos colegas por terem me alertado. De revólver em punho, fiquei na dúvida se atirava nos dois ou livrava minha mulher, se puxava o cassetete e guardava a arma. Desembainhei o cassetete. Os corpos estavam cobertos com os lençóis. Numa mão o cassetete, na outra, o revólver. No quarto só a penumbra. O coração acelerava. Avaliei quem era a minha mulher, mirei na altura das pernas... Ergui o braço o máximo que pude e com toda a força pimba, baixei o sarrafo na outra pessoa. Num pulo e num berro desesperado a minha sogra pulou da cama. Ela fora dormir lá em casa para fazer companhia a minha mulher. Coitada! Eu que minuto antes queira matar, agora eu queria morrer de vergonha. Isso foi há cerca de trinta anos, a velha até já morreu mas ainda hoje isso pesa na consciência. Esse fantasma me acompanha até hoje. É por isso que lá no barco falei pouco. Entendo o sofrimento do coitado.
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