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Cronicas-->De Bar em Bar -- 28/01/2009 - 19:28 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele pegou a taça de cerveja. Gotas orvalhadas se formavam na borda e na alça, formando multicoloridos reflexos em seus olhos. Ele olhou para o salão, muita gente conversava e ele estava só, de frente para o balcão, o garçom lavando a louça, com um sorriso cortês nos lábios.
--Mais uma patrão?
--Depois. Agora quero saborear essa daqui. Está muito boa!
--Das melhores.
Notou a conversa das pessoas. O tipo taciturno conversava com um amigo ao canto direito. No meio do salão, uma mesa cheia de moleques, deviam estar comemorando algo, porque falavam alto, cheios de gestos típicos da sua idade. O mais novo devia ter seus dezenove, vinte anos? Estavam dando risadas altas, mas não chegavam a incomodar exceto um senhor de cara azeda que tomava cerveja sozinho em frente a eles. Não se incomodaram, continuou a conversa, o bate-papo.
Duas mesas atrás havia um casal bem jovem, de aliança e tudo. Davam-se abraços apaixonados, beijavam-se de vez em quando; ele se lembrou de quando tivera a primeira namorada, como era bom! Ele deu um presente para ela, devia ser uma jóia porque ela olhou assombrada, ralhou com ele pelo preço exorbitante da tal iguaria mas aceitou lisonjeada e selou a conversa com um beijo.
--Bonito o amor hein patrão?
--Bonito...
--O senhor é casado?
--Sou e você?
--Ah, minha garota me abandonou, diz que essa vida de garçom não dá em nada, me despachou assim mesmo, tchau.
--Cruel! Mas ela morava com você?
--Não! Eu sou é homem de querer compromisso já?
--Só perguntei. Natural hoje em dia se fazer o "Test Drive".
--Ela dizia que não era carro e preferia morar na pensão para moças. Sei que agora está morando com um camarada que é pedreiro. Sinceramente, trocou seis por meia dúzia!
--Eu também acho, mas a construção civil é um meio meio perigoso. Eu preferiria trabalhar como garçom, mais seguro.
--Sem horário, o senhor sabe. Até o último cliente!
--Isso é vero?
--O papai aqui sabe como!
Ao fundo, num lugar meio reservado, vozes se alteraram, era um jogo de póquer a dinheiro, alguém não gostou da mão, mas chegou a turma do deixa disso e a coisa terminou como começara, novamente a partida prosseguiu em meio à bruma de cigarros e com os olhares enviesados dos blefadores e dos jogadores mais experientes.
--O senhor mora por aqui?
--Não. Resolvi dar uma passada, o local me agradou.
--Bem localizado nosso barzinho. Tem dia que lota; muitas garotas e garotos numa espécie de "point" como aqueles garotos ali, eles vêm sempre. Saem da Escola que fica do outro lado da rua e aparecem por aqui. Veja como falam!
--Demais!
--As garotas não falam menos. Teve uma vez que chegaram umas doze, duas delas encheram a cara, tiveram de carregar as beberronas!
--Não brinca!
--Acho que os clientes homens sabem dosar melhor o quanto bebem!
--Também acho. Aliás, tenho certeza disso.
Uma moça sozinha fazia o contraponto ali. Destacava-se pela beleza e algo em sua postura denotava que ela não queria saber de aproximações. Ela fumava um cigarro com graça e leveza, tal como as mulheres fazem. Os garotos a olhavam de vez em quando, deviam achar que ela era prostituta ou algo assim, porque davam risadas quando falavam dela que retribuía a tal conversa deles com um olhar que os calava imediatamente, de modo que ela ficou só o tempo todo. Bem, se ela era puta, devia ser das que pediam aquele preço!
--A garota ali deve ser difícil!
--É sirigaita senhor. Dessas que levam um homem à loucura, mas não se faz de rogada não.
--Como eu suspeitava. Mas como é bonita.
--É sim, meu amigo. Tem um belo par de coxas, um olhar que fulmina e um hálito perfumado. Os meninos a chamam de "Bela da Tarde" por causa de um filme, sei lá.
--Espere aí, ela por acaso é casada?
--Já veio com marido e tudo aqui!
--Nossa.
--Juro! O que mais faz é ficar aí, de tarde e vez por outra sai com um gajo aqui, outro lá. E sua esposa, é bonita?
--Sim, é bonita! Talentosa, fotógrafa de capas de revista.
--Minha namorada poderia ter sido modelo, mas não podia se bancar sabe como é e ainda foi embuchar agora!
--Grávida?
--A primeira coisa que aconteceu desde que começou a namorar o tal pedreiro. Uma mulatinha assim assim, uma graça. Olhos grandes e uma bunda de Beyoncé.
--Ligado você hein?
--Aquele monitor grandão o dono liga e sempre aparece aquela maravilha dançando e se insinuando para a gente; não tem como não olhar. Outra coisa que vejo muito aqui é futebol. Até partida de terceira divisão, até enjoa!
--Futebol enjoa. Veja, o jogador de futebol se empavona todo, joga um pouquinho e depois se supervaloriza, sai do Brasil e vai ao exterior onde recebe em Euros. A fama domina o futebol e eles passam a aparecer em colunas policiais. Um suspeito de estupro, outro agride o camarada, e assim vai.
--Verdade, mas que eles ganham bem hein!
--Ganhar bem é sinónimo de futebol. Antes o jogo era mais pelo esporte, era mais pela beleza estética das jogadas. Eu preferia essa época mais romàntica! No entanto, o que tinham em talento tinham de miséria, vide Garrincha e seu melancólico final.
--Ví esse menino ganhar a copa sozinho. Meu Deus. Ele era um trator!
Ele olhou a taça de cerveja ainda com resquícios de bebida dentro. Pediu mais uma e forrou o estómago com um salgado para rebater o efeito que podia sentir. Continuou a olhar o bar forrado de fotos bem tiradas, as melhores em preto e branco.
--Quem é o fotógrafo?
--Um cliente, ele sempre vem aqui, traz sempre gente boa aqui. Artistas de novela, gente do meio teatral.
--Bem frequentado hein?
--Graças a Deus! Outro dia um desses moços do teatro fez uma performance, de deixar a gente emocionada. Pensa o quê? Sou garçom, mas aprendo muito com o pessoal que vem aqui, viu?
--Mais do que certo! Afinal, esse é seu meio...
Apontou vago para todos e o garçom assentiu com a cabeça. Ele notou que a clientela aumentava e ele teve de chamar o colega para que pudesse conseguir dar conta do serviço. A sua conversa foi ficando entrecortada, mas ele esperou terminar a taça de cerveja antes de pedir a conta.
--Muito bom o seu bar. Foi um prazer, vou voltar mais vezes.
--Venha mesmo; traga os amigos!
Ele saiu do balcão a ponto de ver a tal bela da tarde já acompanhada saindo de fininho pelo corredor lateral. O senhorzinho de cara azeda estava lá, os jovens falavam mais alto porque havia chegado mais uma leva de gente nova. Várias garotas de rostos alegres e caras pintadas, celulares a tiracolo, vozerio. Novamente a tal mesa de jogo, dessa vez uma jogada genial, talvez um Street Flash meio blefado, o jogador forrava o bolso das notas que ganhara. Dessa vez, era a vez dele!
Afastou-se dali, pois tinha compromisso. Olhou para trás e guardou o nome, voltaria outras vezes.
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