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Contos-->De como e por quê -- 13/07/2001 - 12:12 (Felipe Cerquize) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nascido no dia 25 de dezembro de 1982, numa favela da periferia, Sebastião Jesus Sobrinho foi o primeiro filho de José Lopes Sobrinho e Maria de Almeida Sobrinho, migrantes que, há algum tempo, já estavam na condição de favelados. Como a maioria das crianças, foi amamentado, sendo um desses privilegiados que recebem o leite materno. Com um ano de idade, apresentava-se como uma criança normal. O seu pai trabalhava numa construtora, ganhando dois salários mínimos, e a sua mãe fazia alguns biscates como faxineira. Realmente, era sacrificante manter aquele lar, ainda mais quando nasceram, vítimas de uma “gemelaridade” univitelina, duas irmãzinhas, para fazerem Sebastião distrair-se um pouco em casa.

O tempo passava e, apesar de todas as adversidades, era possível deixar de pé toda a família. Maria e José conseguiam olhar para o futuro vendo alguma coisa melhor acontecendo para eles, como o Sebastião sendo doutor ou o próprio José recebendo um salário que não fosse tão ridículo. Mas isso não aconteceu. Pelo contrário, o que aconteceu foi uma desgraça, pois, quando Sebastião já estava com os seus cinco anos de idade, seu pai sofreu um acidente e faleceu no hospital em que foi socorrido, deixando Maria em prantos, com o quarto filho no ventre. Um funeral bem simples, custeado pela construtora onde trabalhava, que, posteriormente, agilizou todos os papéis para que Maria passasse a receber a pensão.

Veio o quarto filho e, aos seis anos, Sebastião tornou-se o “chefinho da casa”, indo pelas ruas da cidade para tentar ser guardador de automóveis. Indo para as feiras para tentar vender o que desse, pegando, no final, a xepa também cobiçada por outros. Às vezes, ficava sem duas refeições, não raramente tendo nenhuma. Outra saída, era ficar nas portas dos bares e lanchonetes, pedindo um trocado para sua mãe e irmãos. Muita gente negava, supondo que ele fosse um faveladozinho mentiroso que, quando consegue alguns reais, corre para fumar um cigarro a varejo ou cheirar uma cola, ao invés de comprar um pão.

Um dia, aconteceu pela primeira vez. Induzido por um colega de rua, resolveu fazer um pequeno furto, para se livrar da fome miserável que aos poucos estava matando ele e sua família. O furto deu certo e ele conseguiu ajudar sua mãe e seus irmãos. Daí por diante, continuou afanando nos momentos mais necessários e nos de menor necessidade. Acabou contando para a sua mãe como conseguia ajudá-la e ela recriminou-o severamente. Ele enfureceu-se, xingou-a, maltratou-a e, aí, surgiu-lhe a parte má, até então camuflada. Saiu de casa e foi morar com uns marginaizinhos, que viviam do outro lado da favela.

O tempo, sempre indiferente aos fatos, viu SJS conquistar, aos treze anos, a sua primeira arma de fogo. Viu, também, a sua primeira vítima fatal, que ele fez com muito receio, mas que, depois, tornou-se rotina nos becos escuros. Uma noite, em reunião com uns amigos de maioridade, “da pesada”, foi decidida a sua participação em um grande assalto. A meta seria um banco, relativamente afastado do centro, que apresentava grandes possibilidades. Foi aí que houve uma freada em sua vida, pois, quando fugiam, após o roubo, houve perseguição, sendo ele preso por policiais, que o encaminharam para o juizado de menores. Acabou sendo levado para a FEBEM.

Passou quatro anos internado, quando conseguiu fugir, junto com outros dois colegas em igual situação. Ele já estava com dezessete anos, na iminência de se tornar um adulto no sentido penal. Não mudou, isto é, continuou a fazer seus roubos e mortes, pois não havia mais condição de ser um cidadão. No dia 25 de dezembro de 2000, quando fazia mais um roubo, ganhou um balaço na cabeça e morreu.

Resta-nos saber se Sebastião Jesus Sobrinho foi o culpado ou a vítima. Se suas maldades vinham de sua índole ou do meio em que viveu. Todos dirão que ele foi o culpado, pois, afinal de contas, só quem acompanhou a sua formação foi ele próprio e o seu verdadeiro caráter morreu a partir do momento em que ele conheceu as regras do jogo.
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