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Cronicas-->O ESPELHO -- 12/01/2009 - 10:32 (Umbelina Linhares Pimenta Frota Bastos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ESPELHO

Em uma pequena cidade do nordeste, muito pobre, longe da civilização, o espelho era ainda desconhecido, a ponto de as moças ignorarem como eram suas faces, a não ser seus namorados, ou noivos, que, por sinal, falavam de sua beleza e traços físicos.

Nessa cidade, certo dia, um jovem encontrou na rua um espelho de bolso. Como era a primeira vez que via tal objeto, admirou-se ao ver nele sua face, refletida, ali, com olhos escuros e aspecto inteligente. Parou e pensou: é meu querido pai! Como pode este retrato encontrar-se aqui? Será, talvez, algum aviso? Com muito cuidado, guardou num lenço o objeto achado, escondendo-o no bolso. Ao chegar à sua casa, escondeu-o num grande jarro, por lhe parecer lugar seguro. Escondeu-o e nada disse à sua esposa.

Durante alguns dias, Raul esteve pensando constantemente no retrato e, às vezes, abandonava seu trabalho e voltava, rapidamente, para casa, feliz por contemplar seu tesouro. Porém, nessa cidade, os maridos jamais podiam ter segredo para com suas esposas. Corina, sua esposa, não podia entender a razão de suas visitas inesperadas, e, assim, decidiu vigiá-lo, desconfiada, sobretudo pelo fato de que ele, seu esposo, jamais abandoava o lar sem ter demorado alguns minutos na sala da parte detrás da casa. Então, minuciosamente, ela vasculhou tudo, sem, contudo, encontrar nada ali.

Um dia, ao entrar na sala, notou que seu esposo colocava, rapidamente, num certo ponto do lugar, um jarro de rosas. Momentos depois, assim que ele saíra, ela vasculhou naquele jarro até encontrar o tal espelho, e eis que a terrível verdade apareceu aos seus olhos. Que viu ela no espelho? O retrato de uma linda mulher?, ela que sempre tinha acreditado no carinho, no amor e na lealdade de seu esposo.

Cheia de ódio, tornou a olhar para o espelho, minutos depois, ficando admirada ante o fato de seu marido haver gostado de um rosto tão feio. Triste, sem ànimo para mais nada, sequer preocupou-se mais em preparar a refeição para seu marido, que, assim chegando à sua casa, postou-se atónito e descontente àquela desfeita. Foi, então, que ele indagou: "É assim que eu mereço ser tratado, um ano depois de casado com você?" "O mesmo lhe pergunto, é este o modo que me trata?" "Que quer você dizer?", replicou ele. "Quero dizer-lhe que guarda retratos de outras mulheres no meu jarro de rosas. Aqui está. Toma-o, pois, para nada o quero. Oh, que mulher feia!" "Não compreendo!", exclamou ele. "Como pode gostar dessa mulher mais que sua própria esposa?", perguntou ela. "Corina, o que você está dizendo? O retrato é a viva imagem do meu falecido pai. Encontrei-o outro dia na rua e, para maior segurança, guardei no jarro das rosas". "Julga-me incapaz de distinguir o rosto de um homem para o de uma mulher?", respondeu-lhe Corina, voltando-lhe as costas. A situação tornou-se séria. Corina já imaginava ver a sua felicidade destruída por aquele misterioso retrato, enquanto Raul achava perfeitamente ridícula a situação de sua esposa, pois o tal retrato era de seu falecido pai e não de uma mulher qualquer, como dizia sua esposa. Quanto a isso, ele não tinha a menor dúvida.

As palavras ásperas e rudes, trocadas entre os esposos, chamaram, ali, atenção de um sacerdote, que, por acaso, passava em frente à residência deles, atraído, então, pelo barulho e a discórdia, que se dilatava no ar.

Parando, enfim, à porta da residência do casal, eis que ele, o sacerdote, disse consigo mesmo: não devem continuar com essa discussão tola. Certamente, deve ser por motivo fútil. "Meus filhos, por que tanta discussão? Por que se zangam tanto assim?, disse ele, entrando pela porta da residência. "Padre, minha mulher está errada, enlouqueceu!", disse Raul. "É um erro buscar perfeição em alguma delas", explicou o sacerdote. "O meu marido, padre, escondeu no meu jarro de rosas o retrato de uma delas", disse Corina. "Juro, padre, que se trata do retrato de meu pai", buscou esclarecer Raul. "Mostre-me, então, o retrato", solicitou o padre. Assim que olhou para ele, inclinou-se, comovido, dizendo: "É o venerável retrato de um sacerdote. Não compreendo bem, como vocês puderam se enganar tanto, ao contemplar este rosto, que inspira enorme santidade?". Em seguida, abençoando-os, foi-se embora, levando consigo o espelho, para, enfim, colocá-lo entre as apreciadas relíquias de sua igreja.
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