A melhor atitude do médium diante do trabalho será aquela de permitir a livre manifestação do espírito comunicador. Se for consciente, deverá oferecer seu repositório de palavras para que o espírito possa escolher as que melhor se coadunem com o texto que tem em mente. Quanto à construção frasal, advém da escolha da palavra, uma vez que verbos pedem complementos com ou sem preposição, conjunções estipulam tempos e modos verbais e assim por diante. No que respeita aos períodos e parágrafos, estes, então, fluem mais naturalmente, segundo os princípios que regem cada configuração. Caberá ao receptador tão-só ordenar, após leitura atenta, toda a estrutura da mensagem no aspecto tecnolingüístico.
No entanto, muitos médiuns existem que deliberadamente cismam de bloquear os textos de certos espíritos, pelas razões mais variegadas: uns por entenderem que o espírito é pouco evoluído, outros por desejarem interferir no conteúdo, quer por considerarem impróprio, quer por acharem que, sendo muito “avançados”, estão querendo ser impingidos por espíritos “sagazes”, no intuito de desacreditar o mediador. Existem casos extremos de médiuns que só aceitam receber mensagens de seus orientadores, por se sentirem mais confiantes. Em nenhum destes casos de frustração da transmissão ou de parte dela, vemos razão para não ser apanhado o texto e, depois, com meticulosa minudência, “passar o pente fino” da crítica doutrinária, para surpreender o que de irrelevante ou contraditório possa subsistir subjacente, em muitos casos em belas palavras que camuflam a maldade.
Sendo assim, amigo leitor, se você estiver neste caso, abra o coração e ofereça a mente, sem medo de errar. Caso o texto seja claramente deformado, trazendo no bojo evidentes sinais de falhas doutrinais, não importa. Reze pelo espírito que veio para o trabalho, rogando à Divindade que lhe ofereça meios seguros de ultrapassar os limites da ignorância ou mesmo da maldade. O seu espírito de franqueza, de boa vontade e de honestidade intelectual e moral ficará a salvo da responsabilidade da mensagem, pois foi o emissor quem, como vimos no preâmbulo, escolheu a terminologia e os demais petrechos lingüísticos para a elaboração do texto.
Deixar-se envolver pelas idéias contidas nas mensagens espúrias é que é, realmente, desastroso. Podemos citar caso interessante de médium brasileiro conhecido que, durante alguns anos, só apanhou ditados defeituosos, mas não arredou pé um centímetro da postura de oferecer os serviços de sua pena ao círculo dos desencarnados que o visitavam. Não se perturbava, porém, com o teor das mensagens, pois era muito estudioso e conhecia profundamente os princípios doutrinários do Espiritismo Kardecista, além de possuir extensa cultura geral. Pois bem, tanto escreveu necedades que conseguiu atrair a atenção de equipe de auxílio socorrista, que foi doutrinando, domesticamente, cada um dos perversos emissores, de forma que, não demorou, se viu livre dos obsessores, podendo progredir em sua mediunidade devido ao fato de se ter deixado imantar com freqüência. Hoje, participa de roda de médiuns em uma das casas de assistência de São Paulo, onde é dos mais concorridos pelos emissores, pois é capaz de conseguir contacto com o plano espiritual em larga faixa de onda, podendo oferecer não só o braço para a escrita. como emprestar o aparelho fonológico para a fala, indo, inclusive, via transporte consciente, observar os trabalhos socorristas sempre que solicitado, dada a facilidade de sua concentração e disponibilidade mediúnica.
Evidentemente, não estamos escrevendo texto para jovens recrutas das hostes do espiritismo prático. A estes, o trabalho braçal de ajuda no empacotamento e distribuição de alimentos, a confecção de máscaras e demais petrechos para as representações cênicas, o trabalho no palco do aprendizado nas aulas de evangelização, o estudo acurado dos textos consagrados, a meditação profícua a respeito dos temas mais apaixonantes: a reencarnação, a mediunidade, a moralidade cristã, o respeito às leis de Deus, o procedimento evangélico, as virtudes excelsas e demais tópicos que soem ser objeto dos debates que necessariamente devem ocorrer durante as sessões de aprendizagem.
Escrevemos para pessoas afeitas ao trabalho mediúnico sério, levado a efeito junto às mesas de nossas instituições espiríticas ou em algum local isolado mas resguardado pelas equipes de espíritos devidamente autorizadas para manter aberto canal de comunicação de via direta, como ocorre neste cantinho, com o nosso mui digno escrevente. Esses amigos médiuns não devem oferecer qualquer espécie de resistência, por temor de que sejam envolvidos pelas artimanhas e estratagemas dos fanáticos em ilusão e perturbação moral dos que se mantiverem desatentos. Por exemplo, o nosso amigo agora mesmo demonstrou certo temor de que nós mesmos pudéssemos estar a solicitar total entrega às nossas mãos, para que conseguíssemos, com mais facilidade, perturbar os trabalhos daqui por diante, como se fôssemos espíritos como aqueles acima citados. Ao mesmo tempo, raciocinou rapidamente que o teor do texto pode vir a ser submetido à análise a que também nos referimos e serenou a mente. Fez tudo isso, entretanto, sem apresentar um único instante de hesitação na recepção da mensagem, confiante em que o nosso poder de imantação pudesse prosseguir e a mensagem vir a ser concluída sem solução de continuidade. É esta justamente a atitude que estamos proclamando como a mais necessária para que se dê curso às comunicações, as quais necessitam chegar ao fim para oferecer aos doutrinadores e aos mentores, oportunidade de concluir o trabalho a nível socorrista, ou ao leitor, o poder de efetuar real julgamento de valor.
Não viemos, fique sossegado, com o intuito de perturbação. Claro está que esta mensagem pode sofrer os reparos da entidades superiormente dotadas ou as restrições naturais dos encarnados, quase sempre preocupados com problemas específicos, como a natureza de um substantivo, a evocação de um verbo ou um ponto da doutrina. Tudo bem! Mas que não se esqueçam de levantar todas as nossas razões, os nossos argumentos, para favorecer ponto de vista abrangente de todo o contexto e não somente de parte não representativa da mensagem.
Neste ponto, vamos encerrar a peroração, procurando manter o padrão vibratório do ambiente para favorecer outras transmissões, de modo especial do nosso comentarista, que prezamos como a doutor muito sábio, pois consegue palavras de estímulo ao lado de percuciente e planejada orientação textual e de contexto. Ao querido amigo médium, o mais feliz agradecimento, pois nos deu a oportunidade de dizer tudo o que planejamos, sem interferir de modo algum, auxiliando-nos, inclusive, em alguns tópicos, como na escrita desta palavra em caracteres gregos. Ergamos os pensamentos aos céus e agradeçamos a Deus este dom maravilhoso da mediunidade, quer transmissora, quer receptora.
COMENTÁRIO — HOMERO (ORIENTADOR)
Não veja o leitor, nas palavras do novato Homero, longa e frustrada experiência no campo da mediunidade. O que fez o querido discípulo foi resumo das discussões levadas a efeito por nossos disciplinadores a respeito do tema sobre que discorreu, o que é muito comum junto aos diletantes.
O importante na mensagem é que soube captar muito bem toda a extensão do problema, focalizando o assunto objetivamente, dando ao leitor visão exata do pensamento dos orientadores, no que concerne a muitos médiuns que obstaculizam as transmissões pelas mais variadas razões, que seu instinto ou sua experiência determinam. Essa tem sido constante preocupação em nosso meio, uma vez que uma de nossas tarefas é a de oferecer treinamento aos aprendizes, o que, se não for feito com extrema segurança e cuidado, pode oferecer percalços difíceis de superar em pouco tempo.
Por isso é que aplaudimos o cometimento do jovem discursador, que soube concatenar texto muito seguro, com exemplificação notável e com argumentação forte. Só teremos palavras de elogios, pois sua postura diante do médium se deu como se fosse ser dotado de toda a gama vibratória, de sorte que o serviço, neste aspecto, se deu perfeito, ainda mais do que o nosso, que está recebendo interferências várias por parte de emissores a quem se está dando guarida no ambiente.
Vamos, por isto, antecipar a conclusão, oferecendo o braço para apoio dos que, inseguros, pretendem ultrapassar a difícil fase de propor-se a trabalho sem interferências de ordem pessoal. Aos queridos amigos da “Escolinha de Evangelização”, respeitosos cumprimentos pelo maravilhoso trabalho que vem sendo realizado, haja vista a fabulosa plêiade de alunos que, cada vez mais competentes, comparecem para seu “début” na mediunização.
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