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cronicas-->1982 - O Golzinho e as Marcas -- 07/01/2009 - 10:27 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tive um fusca amarelo bichado setenta e cinco, depois um fusquinha branco bala setenta e três, mais um branco nada bom e aí, um azul noturno setenta e nove, tinindo de novo. Beleza, um arraso, fusca prá lá e prá cá, assim foi, até querer trocar e por outro mesmo, porém, o vendedor atiçou - pegue um outro mais moderno, tá muito bom. Atiçado, peguei o tal do golzinho, branco, logo apelidado pelos cordiais amigos de gol-táxi. Era um-ponto-seis, andava mais, a primeira volta fui à faculdade, fins de novembro, que legal, prá não dizer que emoção. A esposa de companhia.
Senhor dono de um gol me realizei. Agora, vem o melhor ou pior, depende do ponto de vista; nada dramático, menos carismático, talvez temático, se eu terminar esta ladainha. Vamos lá: foi um carro amigo, sabujo daqueles, quase falava, era muito protetor, pois ninguém me batia, ele não deixava; que batesse nele, coitado, foi um saco de pancadas. No primeiro mês, lá em Campinas, esperando o trànsito passar, um ónibus, nele, quase passou, mas deixou uma marca, meio de fianco na ponta do pára-lama dianteiro direito, piorado por mim, que fui consertar com esmalte-base, ficou um horror. Depois, na Marginal de Pinheiros, brequei e a de trás não - tuc, bateu e levantou o pára-choque, entortou a placa, afundou a tampa do porta-malas, quebrou uma lanterna, tudo de leve, outras marcas. Comprei um rádio toca-fitas, da hora e da moda, instalado e roubado, quase imediatamente em frente ao Liceu, na Luz. Painel arrebentado, vidro quebrado, chave moída, enfim, novas marcas, que irritação. Mais batidinha na lateral da porta direita ou esquerda, não me lembro bem, mais marcas. Às vezes, até lavava o danado, um sujinho nato e com pedigree, fora rodas tortas, barulhos e barulhinhos, uma orquestra de chiados e miados, mas cumpridor, nunca me deixou na mão ou quase. Quando fui viajar de caminhão com meu pai, uns seis meses em oitenta e seis, o bichinho ficava lá abandonado, no fundo do quintal, tomando chuva, sol e pó, dava dó e dava alegria, só relar na partida e pronto, num tirinho já chegava em São Paulo, não respeitava ninguém naquela estrada vicinal sunmiguel-sunpaulo, esburacada - outras marcas. Voltei para São Paulo, fui trabalhar na firma em frente ao ginásio do Ibirapuera, conheci vários cobras e, de novo, o golzinho não negou fogo. Pra cima, pra baixo, ele roncava, maquinão já no quinto ano, que aconteceu? Outro assalto, levaram minha mala de catálogos, aliás, não sei porque eu andava com ela, quebraram o coitado. Alguém assoprou, mande reformar, conheço uma boa oficina, foi lá na Vila Mariana o crime, desmontaram inteirinho, lixa daqui, lixa dali e pinta e pinta, ficou impecável, uma quinzena depois fui buscá-lo, à noite dez horas. Acertei as contas e vamos pra casa; tu, tu-tu, tu, tu-tu, quéisso, atravessei a Paulista assim no compasso, parei no Silvio, ali no Palmeiras, um dos meninos veio olhar e falou - vamos andar, não demorou nadinha, era uma roda solta em todos os parafusos, morri de vergonha. Apertou, dei déizão e cheguei em casa. Todo mundo contente, o golzinho novinho, acho que era quinta, combinei de jantar com uma turma no sábado, lá no Demarchi em São Bernardo. Fomos de gol-bala, jantemos e bebemos, até demais, café na saída, beijos e abraços, peguei o gol-de-placa e, e ,e tuc,tac,toc, olhei pras trás, o tal do poste, meu guia, tinha uma enorme base de concreto, já adivinhou, né, bati feio e que marcona, nem treis dias depois de arrumadinho. Tadinho, aí ele falou, quase sussurrou e depois berrou - com vc não dá mais, quero trocar de dono, trate de se virar. Fui trocado lá na Avel em agosto de oitenta e sete, quase seis anos bem marcados.
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