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Cronicas-->SEM DESAFINAR -- 01/01/2009 - 15:42 (JOAQUIM FURTADO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SEM DESAFINAR

1965. Por aquela época, a bodega do seu Antonio Pinheiro fora alugada a seu Zequinha e a esposa, dona Leni. Seu Zequinha usava cabelos cortados à escovinha e ao que parece, tinha jogado futebol num time suburbano, dos tantos que então infestavam os bairros de Fortaleza; dona Leni que era professora, ajudava o marido na bodega e ainda costurava na máquina colocada na parte de fora do balcão, junto a uma das portas da mercearia .
Estava dona Leni, certa tarde, absorta na sua lide de modista caseira, quando sentei na calçada da bodega e, à falta do que fazer, sozinho ali, cantei por inteiro uma canção que aprendera com dona Zuleika, professora do grupo escolar Hermenegildo Firmeza, que fica vizinho à casa do papai. Eu contava de oito para nove anos de idade e cantei à moda de menino, sem prestar atenção a quem estava perto, como qualquer menino que canta apenas para seu próprio prazer. E aquela canção, segundo fixei, teria sido obra da própria dona Zuleika e outras mestras do mencionado educandário e ainda hoje trago decorados os seus versos. Seu teor inteiro, salvo falha de memória, é o seguinte:
Antigamente não havia esta festa
hoje a fazemos, embora modesta,
Com muito amor e com muita alegria
comemoramos a mamãe neste dia
Mas pelo nosso querer,
que beleza havia de ser
Nós queríamos um buquê,
um buquê para ofertar -
Um buquê bem bonito de flores
perfumadas, de todas as cores...
Para a mamãe! Para a mamãe...
Mas não tendo encontrado um buquê a rigor,
A mamãe vai ganhar uma flor!
Quando terminei de cantar, dona Leni, de quem me esquecera completamente, ensimesmado que estava na minha solidão de menino, surpreendeu-me e assustou-me:
- Achei bonito. Cante de novo.
Disparei a correr no rumo de casa, encabulado como se fora apanhado em meio a uma travessura. E fiquei olhando de longe, através das frestas da cerca...
Eu sei porque lembrei agora desse episódio da minha infància. É que dia desses, em viagem de passeio que fiz ao interior cearense, caminhava pelas matas que circundam as áreas próximas da casa de meu tio Hilário, no Sítio Cuandu, quando escutei uma voz ainda infantil lançada ao ar a plena força dos pulmões, numa interpretação sem qualquer timidez de uma música popular. Buscando identificar a quem pertenciam tão sadias cordas vocais, caminhei por entre os arbustos em direção ao ponto de onde pareciam vir os sons ritmados. E quase soltei sonora gargalhada ao deparar, à margem de pequeno córrego de leito seco, com um garoto de uns dez anos de idade, que tendo arriado o calção até os pés, satisfazia uma necessidade comum a todos nós, enquanto deleitava-se com a própria voz.
______________________________________
João Pessoa, Novembro de 00.
Joaquim Furtado da Silva
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