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Cartas-->Aos Amigos da Usina -- 26/12/2004 - 18:39 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


FELIZ ANO VELHO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)

É dezembro. Estamos quase no Natal. E muito próximo do Ano Novo. À esta altura, as cartas, com os pedidos das crianças, já estão sendo entregues ao nosso bom e conhecido destinatário. Mas não é do Natal e do Papai Noel que pretendo falar. Nem do Ano Novo, que se avizinha. Mas, sim, do Ano Velho que está terminando. Envelhecido e cansado.
Esquecido e, de certa forma, abandonado e rejeitado por todos.

Sei como você deve estar se sentindo, caro Ano Velho, nesta hora em que todos aguardam, ansiosos, o pipocar dos fogos de artifício, e as festividades em homenagem ao Ano Novo que se anuncia. Mais um Ano Novo! A bola da vez, agora, tem outro nome: 2005; ou seria outro número? Não importa. Só se fala nele. Todos jogam nele suas cartas; e, nele, apostam todas as suas fichas de esperanças. Até quem já admitiu perder todas elas, renovam a crença no milagre de que o Ano Novo trará, desta vez, as soluções para todos os seus anseios e problemas.

Todo ano a história se repete. A apologia ao mais novo. Ao mais recente. Ao mais bonito. Ao mais sensual. Ao mais ousado. Ao jovem senhor do inusitado. Ao que traz a promessa. Promessa não comprometida. Promessa, simplesmente. Não se fala no Ano Velho. Não se agradece ao velho amigo. Tratam-no como um traste. De quem temos péssimas recordações. Que só nos deixou tristezas e arrependimentos. Ano Velho que é sempre tido como pior do que o novo que se prenuncia.

Em todos os lugares, as festas estão sendo organizadas e aguardadas com carinho. Mais do que isso: com muita paixão. Nos grandes centros de consumo, já dá para perceber o movimento do povo, em formigueiros, invadindo lojas, aos empurrões, para garantir os produtos que serão postos à mesa, junto aos copos, pratos e talheres à disposição dos foliões deste carnaval antecipado.

Muitas expectativas em relação às festividades que, certamente, tomarão os espaços de bares, restaurantes, lanchonetes, clubes, ruas, bairros e cidades de todo o mundo. Com direito a beijos e abraços, muitos dos quais embaraçados, desajeitados, e ao som de músicas alegres e dançantes, sempre acima da média dos decibéis considerados prejudiciais aos nossos ouvidos. Afinal, estamos falando de Sua Excelência, de Sua Majestade, o Ano Novo.

Todos o reverenciam. Feliz Ano Novo! Este será, como sempre, o desejo de todos para todos; que se dará por volta de zero hora. Sem esquecer do “muito dinheiro no bolso” e do “saúde pra dar e vender”.

Não se dão conta, sequer, do horário de verão. Dos fusos horários. Dos ponteiros dos relógios que, nesta época do ano, aqui no Brasil, ocupam, para a mesma hora, posições diferentes. De uma, duas e até três horas de diferença. Seja pela questão dos fusos horários naturais, seja pela confusão do horário artificial de verão. O Ano Novo, desse modo, por nossas bandas, acontece cerca de quatro vezes no mesmo dia. Um recorde mundial.

Mas é isso mesmo! A vida é desse jeito! Também acontece com a gente. É o paradoxo do tempo. À medida que vamos envelhecendo - ao contrário do vinho e de outras bebidas fermentadas -, que vamos acumulando experiências, que trocamos a esperança dos mais jovens, pela certeza dos mais velhos, nos tornamos material inservível, descartável. Lixo que não se presta sequer para a reciclagem. Lixo que se amontoa nos asilos da vida, para não dar trabalho e nem atrapalhar os lixeiros mais jovens. Que costumam, com as exceções de sempre, jogar fora pedaços de vida novinhos em folha, por não saberem utilizar aquele tempo tão precioso e único.

Mas você, meu querido Ano Velho, não será esquecido. Nem vocÊ nem os outros que se foram. Tenho certeza de que muita gente, nesta hora, está lembrando de todos vocês; e agradecendo a Deus por ter tido o privilégio de boas lembranças e de bons momentos vividos junto com vocês. Desde o tempo em que éramos queridos e desejados como é, sempre, todo Ano Novo. Também tivemos nossos momentos de reconhecimento é certo. A despeito das horas difíceis porque, de igual modo, passamos.

Mas valeu. O que ficou na lembrança, foram as emoções sentidas. Nossos amores e conquistas. As amizades que criamos e preservamos. As nossas boas ações, e o fato de estarmos vivos, com chances para continuar nossa missão de ajudar ao próximo. Dentro do limites e possibilidades de cada um de nós.

Quantas boas lembranças trago daqueles momentos! O dia em que aprendi a ler: dia em que novas janelas se abriram para o mundo; o dia de minha formatura; do meu casamento; do nascimento de cada um de meus filhos; de minhas netas. Das árvores que plantei e que vi nascer; das sombras que delas desfrutei, por gratidão; das frutas colhidas. E das oportunidades que tive – e ainda tenho – de provar as cores, os odores, os sabores e os significados da natureza. Da chance de maior tempo que me foi concedido para melhorar como pessoa; para me arrepender por erros e enganos cometidos , e pleitear o perdão de Deus, sempre atento e misericordioso em relação aos nossos sinceros arrependimentos.


Sem esquecer, é bem verdade, dos maus momentos. Que fazem parte da cota de sofrimento, vale dizer, da cruz que cada um de nós tem que carregar de bom grado. Das doenças graves. De pequenos males. Das gripes e resfriados; dores de cabeça, dúvidas, dívidas, topadas, quedas, chuva e poeira. Cheguei a botar sangue pelo nariz, achando que era a pior coisa que me podia ter acontecido. Coisas que, hoje, estão arquivadas sob a denominação de “ mal menor”. Quanto aos maiores, também aprendemos a superá-los com galhardia; cicatrizando feridas e cirurgias impostas pelo tempo. Tudo com a ajuda de Deus, claro!

Só não foi melhor, meu caro Ano Velho, porque não conseguimos acabar com a fome no mundo. E nem com a miséria e a insensatez das guerras. E muito menos com as injustiças sociais. Com a violência, na acepção ampla do termo. Por conta da estupidez de algumas pessoas, que optaram pelo mal, em todas as suas modalidades olímpicas; quebrando recordes à cada Ano Novo; subindo o pódio da vaidade, da indiferença, do egoísmo e da tibieza.

Mas isso, meu velho amigo, para quem não sabe, faz parte da vida. Nós, mais velhos, se não formos omissos, e continuarmos formando fileiras ao lado do bem contra o mal, não teremos do que nos arrepender. Até porque, todo Ano Novo, um dia, será como nós, Velhos e desacreditados.

Só desejo que todos eles sejam como nós. Velhos, apenas em relação ao tempo; todavia, novos como todas as idéias e ações voltadas para o bem do próximo, para o bem da vida, na forma dos ensinamentos deixados por Cristo, há mais de dois mil anos velhos atrás.

Bom Natal e Feliz Ano Velho para todos.

Dezembro de 2004
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