Acompanhando o sofrimento do Governador de São Paulo me entristecia de sabê-lo passando pelo tormento que toda vítima dessa doença atravessa. Conhecidos ou não todos que passaram por essa etapa são heróis não alistados nessa frente de batalha triste e inglória. Uma luta tormentosa em que não há voluntários.
O Governador passou por outras momentos de sofrimentos e sempre foi muito corajoso. Admirava a sua figura pública, o modo de falar direto e firme , a tonalidade de voz já tão conhecida do nosso povo, os cabelos brancos, bastos e bonitos consumidos pela quimioterapia e a coragem admirável que o consagrou como herói na luta contra a morte.
Como homem público, honesto e bem intencionado tinha nos discursos aquela segurança que nos faz confiar, mesmo com o país tão consumido pela desesperança e falta de fé nos homens que lideram o país.
Não costumo dar muito crédito à s palavras transbordantes de otimismo dos candidatados ao altos ou pequenos postos do governo. Mas dei um crédito a esse homem que afinal cujo único defeito me pareceu ser impulsivo e gostar de enfrentar quem o desafiava. O que não é verdadeiramente um defeito. Apenas uma característica de personalidade. Chegou mesmo a sair ferido numa altercação com professores em frente à Secretaria de Educação.
Em 1969 foi cassado e teve seus direitos políticos suspensos e em 1979 assumiu a liderança do MDB Paulista. Lutou praticamente durante oito anos para assumir o governo paulista e trazer de volta todos aqueles que Orestes Quércia tinha tirado da vida política de São Paulo. Era batalhador e não se curvava diante de derrotas de qualquer natureza.
Era isso que exercia um certo fascínio em Covas e também porque apesar de amigo do presidente não se furtava a criticá-lo quando achava que devia. Não podemos esquecer que durante as eleições para presidente da república , vencidas por Collor havia se desentendido com o atual presidente Fernando Henrique porque era contra a participação do PSDB no governo do presidente eleito..
Tinha idéias definidas e opinião própria que externava abertamente. Não sei se era o político ideal, mas pelo menos era honesto em suas concepções e possuía um caráter ilibado não contestado nem pelos seus adversários.
Sua trajetória na política foi de 40 anos, mas o càncer o venceu definitivamente em três embora o tenha enfrentado com galhardia e à s vezes em certas entrevistas demonstrando um bom humor aparente.
Triste que essa odiosa doença já tenha atacado tantas pessoas e na maioria das vezes vencido com suas garras poderosas e afiadas Lamentável que apesar da evolução e do progresso da medicina todos que são vítimas sofram tanto e na maioria dos casos inutilmente. É um percurso doloroso e infinitamente amargo em que o portador desse mal sofre tanto até e com o próprio tratamento, que consegue ferir a dignidade humana e intrínseca em aspectos importantes e marcantes sem obter a vitória adequada. Nem uma qualidade de vida melhor durante o período em que a esperança ainda ronda se consegue porque na maioria das vezes a quimioterapia leva ao enfraquecimento, anemia e , perda de cabelos e efeitos colaterais que levam ao desànimo ensombrecedor quando não conduzem ao desespero.
Mais uma vez a peste do Càncer que tem feito sofrer tantos semelhantes abate definitivamente mais alguém e espero que nessa última viagem a energia e coragem do Governador de São Paulo o conduzam ao ambiente de paz e conforto e ele possa transitar no espaço definitivo com essa placidez tão necessária à felicidade completa e incomensurável.. Espero que nesse momento sua família possa ter a devida força na aflição dolorosa e saudade irremediável em que mais uma vez nos sentimentos pequeninos, inúteis e impotentes.
Espero que Mário Covas, herói ferido nessa batalha de doença irrecuperável possa ver de onde estiver pelo menos a melhoria de seu país para o qual tanto lutou e encontrar o difícil progresso e harmonia de uma nação superior preocupada com a maioria de seus filhos que até hoje não conseguiram entrever um vida com necessidades básicas completas , menos revolta e mais preocupação mútua e dignificante.
