O BANHO II
Lílian Maial
Esquece que é você,
Nem lembre o que é você!
Rompa a distância dos milímetros,
Envolva a estátua viva com mãos incandescentes,
Indecentes, impertinentes, reticentes...
Sorva toda a volúpia que seus sentidos possam apurar,
Contorne as curvas esguias e insinuantes,
Ultrapasse as barreiras do banho quente,
Me esquente mais, me ferva!
Misture o jato d água com sua saliva,
Deixe que os pingos de amor escorram lentamente,
Demarque seu espaço, adentre seu terreno
E venha tomar posse do que sempre foi seu.
A pele está quente e vermelha,
Os olhos estão cerrando de desejo,
O sangue lateja e faz pulsar os recônditos do prazer.
Já não se é mais eu e você...
Os corpos aderidos, pela goma indissolúvel,
Se deslizam em relevos e reentrâncias,
Se completam, se encaixam,
Buscam-se em frenesi,
Se bastam por si,
E a água, que tudo lava e tudo leva,
Vem lamber os tecidos ingurgitados,
Onde não se sabe mais o que é rosto,
O que é ventre, o que é perna,
O que dorso, o seu colosso,
O meu pescoço, é tudo nosso,
Já não tarda a explosão do vulcão,
Que derrama sua lava,
Majestosa e insolente,
Que seca e petrifica
Com a água do chuveiro.
E nada pode separá-los nesse momento...
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