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Artigos-->184. SONHOS DE MENINA — LUÍS GUSTAVO GUIMARÃES -- 22/04/2003 - 07:05 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Era uma vez um bichinho de pelúcia. Vivia jogado pelos cantos, desprezado pela vaidosa menina, que só considerava como bom o que custava muito dinheiro. O ursinho tinha sido presente da madrinha e este fato impediu que fosse arremessado ao lixo. Como era descuidada, não percebeu que os olhinhos do fantoche se fixavam sempre em sua direção, como que observando todos os seus movimentos. Talvez fosse por ter tido algum pressentimento de estar sendo vigiada que se pôs de sobreaviso quanto a tudo que lhe ficasse ao alcance dos sentidos. Não deu, entretanto, qualquer importância ao desprezado brinquedo, que lá ficou esquecido no canto mais escuro do quarto.



Um dia, tendo-se deitado mais cedo, ainda sem sono, pôs-se a contar de si para consigo mesma os projetos de vida:



— Quero crescer a mais linda moça da cidade, do país. Quero ganhar todos os concursos de beleza. Quero ficar rica para sempre e, por isso, saberei escolher jovem bem bonito, muito rico, para me manter no topo de todas as listas sociais das “dez mais”. Vou estudar meio de descobrir alguma fórmula para a eterna juventude, nem se for preciso seduzir os cientistas mais inteligentes...



E por aí lhe caminhava o pensamento, quando, de súbito, deu com as vistas do ursinho descansando no chão, esquecido no fundo trevoso do quarto. Percebeu que os olhinhos do brinquedo brilhavam no escuro e olhavam fixamente para ela. De início, não ligou, mas ficou intrigada, tanto assim que interrompeu os sonhos de grandeza. Como não tivesse qualquer suspeita do que se passava, pôs-se a observar o animalzinho. Verificou que tinha a pelugem descascada e o focinho amassado. As pernas e os braços estavam esfolados e a cor da pelúcia desbotara. Mas os olhos brilhavam.



Incomodou-se e virou para o outro lado, na tentativa de fugir à influenciação magnetizadora daqueles olhos. Como não conseguiu furtar-se ao pensamento de olhar de novo para o objeto, resolveu levantar-se e ir ao banheiro jogar água fria no rosto. Mas, ao caminhar pelo aposento, notou que os olhinhos a seguiam, como que movidos por vontade própria. Não se atemorizou, contudo, pois já vira fotografias em que a pessoa fixou o olhar na objetiva, dando a impressão de estar correspondendo ao olhar do observador.



Quando veio de volta, resolveu apanhar o “espantalho” para pô-lo no armário, junto a outras bugigangas. Mas ao se aproximar do brinquedo, sentiu longo arrepio na espinha e por todo o corpo afloraram aquelas minúsculas protuberâncias que indicam que forte emoção está perpassando pelo organismo, reflexo evidente de desusado sentimento. Não se atreveu a tocar no animalzinho e pôs-se a soluçar baixinho, pedindo perdão por ter deixado o brinquedinho tão só. Atribuía ao objeto poder de vida, que, na realidade, não tinha. Fora apenas impressão; era agora obsessão.



Não se contentou em elevar preces ao céu pedindo misericórdia; juntou o que lhe restava de coragem, tocou o animalzinho de brinquedo e sentiu-lhe o pêlo rústico. Julgou que estivesse muito ferido e pôs-se a acariciá-lo, usando de palavras carinhosas para confortá-lo, como se estivesse profundamente magoado. Sentindo intenso arrependimento pelo que fizera, tomou o bichinho nos braços e carregou-o até o leito, acomodando-o debaixo das cobertas. Em seguida, fez as costumeiras preces e quase de imediato adormeceu.



Aí, desprendido do mundo da carne, seu espírito pairou no etéreo. Nesses instantes, recebia a visita de parentes e amigos interessados em que a bela bonequinha fosse cada vez mais o apanágio da família. Nesse dia, porém, aproximou-se dela espírito envolto em longa manta branca, que veio trazer-lhe o conforto de palavra de energia, temperada com a blandícia da mais suave ternura.



— Minha querida, você tem de tudo na vida: amor e carinho dos pais, toda a sorte de brinquedos e de luxo que o dinheiro pode comprar, amizades e companheiros dos mais diversos quilates e posições sociais, brilhante inteligência e vontade de viver plena de poder de realização. Hoje, no entanto, demonstrou faceta nova de sua personalidade: você se arrependeu. Esse é um poder mágico. Com esse arrependimento, granjeou o nosso mais sublime afeto e pôde captar a nossa vibração mais sensível. Queremos, amiguinha, que refaça a sua trajetória até a presente data. Você é extremamente jovem e muito terá para fazer sobre a face da Terra. Não fique tão-só em sonhos de grandeza pessoal. Busque concentrar os pensamentos nos “ursinhos de pelúcia” que existem perdidos pelo mundo. Ursinhos de todas as cores e de todos os matizes sociais. Ursinhos estropiados pelo destino malfadado a que os homens os arremessaram. Ursinhos súplices e verdadeiramente magoados. Ursinhos em plena dor e desespero. Saia de seu mundo de fantasias e adentre aquele da realidade tangível, para que venha a sentir a tristeza do drama de milhões de criaturas infelizes que clamam por um pouco mais de atenção. Utilize bem o sentimento do afeto com que acarinhou o animalzinho de brinquedo e terá diante de si caminhar de sacrifícios, mas de glórias iniludíveis. Adeus, minha filha. Fique nos braços do Senhor!



Pela manhã, surpreendeu-se a menininha por estar ainda aconchegada ao brinquedo desprezado. Mas como se sementinha plantada começasse a germinar, ponderou a respeito da sensação que tivera na noite anterior e pôs-se a fabricar acordada novo castelo de fantasia.



— Não mais quero ser a mais bela, mas vou ser a mais feliz das criaturas. Para isso, irei proceder orientada para a reparação dos erros. Verei, em cada semelhante, amigo necessitado de apoio. Buscarei em cada lar desfeito encontrar as palavras acertadas para recondução do casal à sua vida de compromissos. Não descansarei enquanto não encontrar amigo que possa comigo concretizar vida de felicidade conjugal baseada no amor, na tolerância, na fraternidade e na comiseração. Serei boa da bondade dos anjos, para merecer tudo o que me foi dado e que até agora esbanjei irresponsavelmente. Irei atrás da felicidade espiritual, mesmo que às custas de todos os meus bens...



E ia assim perdida em seu mundo de imaginação quando foi despertada pela mãe, que, carinhosamente, fez com que visse que estava na hora da escola. Despertada do devaneio, buscou realizar, naquela mesma hora, primeiro ato de boa vontade. Apanhou delicadamente o frágil brinquedo e acomodou-o com muito carinho sobre a cômoda, de onde pudesse sentir sobre si aquele olhar que lhe despertava a vontade de servir.







Essa a história que vim contar com o intuito de manter acesa a chama do amor no coração do amigo. Sei, por experiência própria, que é muito penoso ouvir histórias em que, ao final, prevalece a desgraça, as quais, por mais verdadeiras, deixam o leitor apreensivo. Quis imprimir à narrativa cunho verdadeiramente positivo, do otimismo real de quem sabe que todos caminhamos para o reino de Deus. Bem que gostaríamos que não houvesse delitos e que todos caminhássemos em plena felicidade. Embora saibamos que muito sofrimento espera por todos nós, temos de manter elevado o espírito de confiança e de fé em que Deus é pai misericordioso e nos dará a orientação necessária, para que trilhemos em paz o restante do longo caminho que temos para nos aproximarmos de seu augusto reino. Por isso, a invectiva contra os sonhos de grandeza mundana e o enaltecimento da visão do mundo sob o amparo das forças do bem.







Graças a Deus, chegamos ao final. Nunca duvidamos de que o faríamos, embora o amiguinho estivesse muito cansado. Agradecemos muito a sua volta ao trabalho e podemos afirmar que, durante o transporte, tivemos um pouco de inspiração para escrever o final da história. Vamos todos agradecer aos amigos que possibilitaram a imantação do ambiente e elevar os pensamentos a Deus, em fervorosa prece de agradecimento.









COMENTÁRIO — HOMERO



Luís Gustavo Guimarães elaborou texto muito tranqüilo. É claro que deixa no ar certo efeito dramático, pois não sabe o leitor exatamente qual será a reação da personagem, que, pelos esquemas utilizados vulgarmente na literatura, deveria manifestar-se sem profundidade, embora tivesse tido a visita de espírito de luz. Nesse aspecto, indo contra a corrente, pôde elaborar texto que objetivasse vir a ser surpreendente, como, na verdade, conseguiu.



Sua fidelidade aos conhecimentos adquiridos na “Escolinha de Evangelização” induziu-o a elevar o teor de magnetização que imprimiu ao texto, evocando os mais sábios pretextos para manter o espírito do leitor enlevado, em busca de concretização dos mesmos ideais espirituais da personagem com quem foi inequivocamente obrigado a identificar-se. Esse mérito do missivista é muito relevante, o que lhe torna o texto muito plausível e cheio de méritos para publicação.



Não se veja, entretanto, neste comentário, apologia ao desforço oratório. O que nos leva a aplaudir a mensagem é o descortino moral e espiritual do autor, o que, para o texto mediúnico, é o apanágio maior a ser considerado. Como se trata de jovem promissor, esperamos para breve outras peças de maior envergadura, com apanhados psicológicos mais próximos da realidade humana, para que os trabalhos adquiram maior poder de verossimilhança e teçam enredos mais complexos, em que os problemas a serem superados tenham contextura mais próxima das armadilhas que soem atrair e tragar os encarnados. Nesse sentido, poderemos oferecer a ajuda de nossa experiência, para o que convidamos o novel escritor a que compareça às nossas aulas de doutrinação espiritual.



Como o que temos a tratar ultrapassa os limites deste comentário, vamos encerrar a participação, crentes de que as ponderações possam servir de alavanca com que os leitores desobstruam a entrada de suas cavernas, para não ficarem vendo apenas as sombras que se movimentam ao fundo.



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