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Artigos-->O Homem Sentado de Enéas Athanázio -- 20/04/2003 - 17:24 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Homem Sentado

Enéas Athanázio*



Em minha última viagem ao Recife visitei, mais uma vez, o “Solar de Apipucos”, palacete onde viveu o sociólogo Gilberto Freyre. É um casarão senhorial, em meio a amplo bosque de velhas e frondosas árvores, inclusive as pitangueiras de cujas frutas ele próprio preparava o celebrado ( e misterioso) conhaque de pitanga oferecido aos visitantes e merecedor dos elogios de personalidades mundiais. Em virtude do renome internacional de seu morador, o solar ficou conhecido no Brasil e no Exterior, e Gilberto Freyre recebia com freqüência o tratamento de “Mestre de Apipucos”. Ali funciona hoje a “Fundação Gilberto Freyre”, guardiã da obra, da biblioteca e dos objetos pessoais e artísticos do sociólogo, de sua memória, enfim.

Entre os objetos que adquiri na ocasião, veio o CD “Gilberto Freyre em Prosa e Verso”, produzido pela própria Fundação, contendo depoimentos e textos do sociólogo, gravado na sua inconfundível voz, além de músicas e poesias relacionadas. Entre os textos, o mais curioso é aquele em que ele aborda um fato de que nem sempre nos damos conta – o de que passamos a vida sentados!

Diante dessa constatação, - diz ele, - o Século XX deve ser considerado o “século do homem sentado” e assim também é nossa civilização. Com efeito, basta pensar um pouco para lembrarmos que passamos a infância sentados no carrinho do bebê, nas cadeirinhas de crianças, nas cadeiras da escola. Sentamos depois na cadeira da faculdade e da mesa de refeição, nas poltronas das boates, dos bares, da sala da namorada, dos carros, ônibus e aviões. Nos intervalos, para variar, sentamos nas poltronas caseiras ou nas cadeiras praianas.

Ficamos grande parte do dia sentados à mesa de trabalho, quando não estamos sentados à espera nos consultórios de médicos e dentistas ou nos bancos (quando há onde sentar). Ou quando levamos um “chá de cadeira” nas ante-salas de políticos, autoridades disto e daquilo, funcionários e cartórios (argh!). Também sentamos durante as missas e os cultos, os casamentos e os velórios, que ninguém é de ferro. E por aí vamos, levando a vida sentados ao volante dos carros ou nos selins de bicicletas e motos, ainda que montados. Todos os dias sentamos no “trono” e alguns privilegiados dispõem de colos.

Isso acontece nas cidades, grandes, médias e pequenas, nas vilas e nos campos, inclusive de futebol, com os reservas que “ficaram no banco”. Uns sentam nos bancos dos tratores, outros na boléia das carroças. Existem os que sentam com as pernas para cima, ancoradas no parapeito ou em banquetas almofadas, e os que cruzam as pernas, posição não aconselhada pelos médicos. Também existem os que sentam nos bancos das canoas, lanchas e jets-skis. E existem ainda ao que, mesmo contrariados (e muito), são sentados na cadeira elétrica ou no formigueiro, como foi o caso do Negrinho do Pastoreio – mas esta vai aí por minha conta.

E assim vamos nós, vivendo sentados, ainda que se diga e repita que é o caminho mais rápido para a morte. Mestre Gilberto Freyre sabia observar este mundo e, talvez para ser diferente, sentava com uma perna sobre o braço da poltrona onde escrevia. Poltrona que, por sinal, continua lá e na qual dei uma sentadinha, só para experimentar.

(*) Escritor Catarinense, com vários livros publicados. Editor do Jornal do Enéas- Camboriú-SC.

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