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cronicas-->FA-SE ESTALAÇÕES -- 02/03/2001 - 02:34 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando me deparei com a placa que trazia, pintados em branco, os dizeres do título, conclui, maldoso: Mais um "artista prástico".
Mas não, leitor amigo, nada disso. Apenas mais um cara se virando, ganhando o seu troco, inserindo-se na nossa economia informal em expansão desenfreada. Não que os artistas plásticos não se virem. Cada um deles acaba arranjando o seu. Mas, no caso, era apenas um desses sujeitos que livram a nossa cara e quebram os nosso galhos, quando o problema é a instalação elétrica ou algum eletrodoméstico enguiçado.
Poderíamos falar de um "prático", assim como existe, por exemplo, o prático em medicina alternativa, o cara que é prático em massagem, enfermeiro, etc.
A minha primeira reação pressuporia um outro cenário que ainda desconhecemos, com as artes plásticas - alguém saberia definir com precisão o que lá isso seja? - popularizando-se, vulgarizando-se a tal ponto, que já começaríamos a encontrar "artistas prásticos" até na periferia das nossas cidades. Nós que já somos a periferia do mundo, dizem. Mas, também, por que não? Será que a periferia só pode produzir mesmo hip-hop, rap, coisas assim tipicamente brasileiras, com esse ranço nacionalista?
E um artista plástico de periferia poderia também começar a transformar essa coisa chique, as instalações de arte, em mais uma das formas de arte aplicadas ao cotidiano. Um artista que faria "estalações" para fora. Imaginaram? Então sigam comigo.
O "artista prástico" em questão queria vender o seu peixe, digo, a sua obra, melhor, suas obras, suas performances, suas "estalações". Tinta branca, algumas ripas de madeira que já foram caixão de quitanda ou supermercado, e pronto: o ready-made reinventado por um "mano" qualquer.
Quando me deparei com aquela placa, fiquei também comovido, ao ver como cada um faz o que pode, seus milagres, com esse nosso idioma que a gente, na verdade, acaba só falando, deixando de lado todas as outras possibilidades de fazer coisas com ele.
FA-SE ESTALAÇÕES já é - naquele suporte (ripas de madeira), com aquela moldura (uma casa de construção bastante precária, num bairro perdido de um município idem na Califórnia brasileira, profunda), uma verdadeira obra de arte. Aquilo tudo junto, uma "estalação". Arbitrária, aleatória como todas as outras. A profissão do curador teria, é claro, de ser reinventada. Algum intermediário teria de surgir, no caso, para que a obra chegasse a uma bienal e, quem sabe, a algum museu famoso da Europa ou dos Estados Unidos.
E eu bem poderia concluir esta crónica com uma frase de efeito avassalador, de fazer babar na gravata ao mais empedernido dos ateus: O mundo, na verdade, não passa de uma enorme "estalação de arte". E Deus? Pois Deus é o "artista prástico" por excelência. Só isso explica o milagre dessa tinta branca sobre ripas de madeira, fazendo ainda algum sentido, e com uma utilidade prática inegável.

No mais, o mundo está como está por falta de fé, por falta de temor de Deus. Na formulação de uma senhora muito amiga minha aqui em Araraquara, "é por isso que acontece essas castrofe [sic] que a gente vê na televisão." Ela diz isso, enquanto vai organizando "iter por iter" [sic] os produtos por cuja venda é - altamente - responsável. Produtos, diga-se ainda, que ela própria não vai poder adquirir. E, mesmo que pudesse adquiri-los, não iria saber ler. Jornais e revistas. Quem lê tanta notícia? Num país em que só há 2008 livrarias. São 84.500 pessoas para cada uma delas. Só Buenos Aires, diz a matéria da Folha de hoje, há mais estabelecimentos do ramo do que os possui o Brasil inteiro.

Na Folha ainda, voltando à última flor do Lácio, a jornalista Eliane Castanhêde desencravou, em seu artigo de hoje (primeira quinta-feira do ano, do século, do milênio - passado o carnaval), a expressão "ao rés do esgoto". Eu já conhecia "rés do chão" essa coisa que parece só servir para descrever certas construções européias, assim como "água furtada". São coisas que desconhecemos. Só mesmo os tradutores para acreditar em sua existência concreta, palpável. É como as "bolotas de plátano", que só eu já usei umas quatro ou cinco vezes. Alguém sabe lá o que é isso?
Pois a expressão usada pela jornalista tem mesmo tudo a ver com esse bate-boca que se trava entre Brasília e Miami, enquanto o Grande Painho não regressa à pátria. As coisas, em Brasília, estão "ao rés do esgoto". Sensacional. O que quer, o que pode esta língua?!

A propósito, hoje ainda vi pelas paredes do campus (Araraquara) um anúncio intrigante: "COLÇHÕES", a preços módicos, para estudantes. Assim mesmo, com essa cedilha insidiosa. Sei lá! Deve ser alguma nova invenção japonesa para quem está "com o sistema nervoso", ou, então, para quem apresenta "pobremas" de coluna. E, como diz o grande MILLÓR, quem tem um "pobrema", tem logo dois. Viva a cedilha! Viva a contribuição milionária de todos os erros.

E voltando a Brasília, o negócio é rezar, e muito, para evitar maiores "castrofes", ali, ao rés do esgoto.
O nosso grande Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas" deixou firmada esta frase para sempre: "O sertão é assim. Deus mesmo, se vier, que venha armado."

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