Por que não sinto a mesma receptividade quando planejo ficar alguns dias na casa de minha filha como sinto quando digo que vou ficar com o meu sobrinho?
Eu gostaria que a minha filha demonstrasse a mesma alegria e satisfação que o meu sobrinho demonstra.
Ele deixou o seu apartamento em Copacabana à minha disposição e foi dormir um dia na casa do irmão, outro na casa da namorada, outro na casa de outra irmã e, finalmente, o quarto dia na casa de um amigo.
Tudo isto para me deixar bem à vontade com meu genro e as minhas filhas no apartamento dele.
Todas as vezes que planejei ir para a casa da minha filha em São Paulo ou em Cambridge ouvi alegações de que estaria muito ocupada, que eu exijo muita atenção e isto iria prejudicar a concentração que ela necessitava para desenvolver a tese de doutorado na qual estava trabalhando.
Não demonstrava nenhuma alegria ou disposição para sacrificar um pouco da privacidade e da rotina de trabalho dela para me receber.
O que foi que eu fiz para merecer do meu sobrinho tão boa receptividade e da minha filha não?
Estaria ela obrigada a sentir a mesma satisfação de me receber que sinto ao recebê-la?
Tem ela obrigação de ter comigo a mesma paciência e tolerância que tive com ela quando era criança e fazia suas trelas?
É claro que não!
Paciência, tolerância, alegria e satisfação com o outro não se cobra, se conquista, e eu não soube conquistar.