O presbítero olhou-se no espelho. Passou a fina mão no rosto verificando se a barba fora perfeitamente feita. Os cabelos, ainda fartos, foram melimetricamente penteados. Sempre almejara a perfeição. Ser perfeito em tudo como se exigia de um padre. Ser perfeito para ter um mínimo de coerência. Coerência nem sempre presente entre seu falar e agir. Abotoou o paletó do clergyman e uma satisfação vaidosa apoderou-se de seu semblante desenhando-lhe um sorriso nos finos lábios. Ficava bem mais à vontade com aquele traje ao invés da batina. Os tempos eram outros. Uma certa modernidade bafejava os costumes do clero católico. Agora, meio padre e meio homem, pega a pequena mala e vai até a porta. Sai. Respira fundo e aliviado quando aparece um táxi desocupado.
- Aeroporto, por favor.
No avião, senta-se comodamente e deixa seu pensamento vagar à solta. Nada mal ter sido escolhido entre tantos para participar daquela importante reunião do clero. Teria oportunidade de expor seus trabalhos, ser admirado por sua inteligência; enfim, receber os aplausos bem merecidos. A capital da Bahia ele ainda não tivera a sorte de conhecer. Agora sim iria unir o útil ao agradável.
O vôo foi mais rápido do que pensara. De repente viu-se na rua esperando por um táxi.
- Vamos para onde doutor?
Após ter dado o endereço, apalpou os bolsos conferindo se os documentos e dinheiro ali estavam.
O taxista, querendo ser agradável, iniciou uma conversa de homem para homem.
- O doutor já conhece a cidade?
- Não, é a primeira vez que venho a Salvador.
- O doutor vai gostar. Quer algumas dicas?
- Seria muito bom, pois assim terei oportunidade para conhecer os pontos turísticos.
- Se o senhor quiser comer alguma mulher tenho vários endereços. Mulherio é que não falta. Gente boazuda. Cada mulherão!
Espantado, o padre, que não estava habituado com aquele linguajar, interroga:
- Mas, aqui em Salvador ainda existem antropófagos?