Usina de Letras
Usina de Letras
56 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62193 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50599)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Renascimento -- 22/11/2008 - 17:45 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ela acordou em meio estranho. Lembrava que havia adormecido e agora acordara em um campo, uma espécie de milharal, batido por ventos e ela nunca havia conhecido um lugar assim, até porque sempre estivera na cidade, nunca saíra dela. Pelo menos é o que ela se lembrava. O milharal, conforme o vento vinha, emitia pequenos rangidos e ela, fascinada, via as folhas se inclinarem num movimento harmonioso, uníssono, como que concordando com as rajadas que o açoitavam.

Ela não sentiu medo e sim, uma enorme curiosidade. Há bem pouco tempo, deitara em sua cama. Já ouvira falar de sonhos reais, mas este... Ela raciocinou: "Se estou aqui, deve haver um tipo de propósito, então tenho de explorar este campo". Ela tinha razão, até porque não tinha alternativa senão levantar e sair pelo campo verde e batido pelo sol e pelas rajadas. Conforme ela se levantou, ela póde observar ao longe uma espécie de casa, um celeiro talvez? Nada que pensasse fazia sentido, por que ela estava sonhando assim, por que viera parar ali?

(As respostas estão perto, minha cara.)

Ela ouvira o sussurro e se assustara.

--Quem está aí?

O sol batia a pino. Quente, um disco amarelo gigantesco; um mundo abrasado, mas o calor que chegava a ela era tépido. Era como se tivesse um amortecimento, algo a protegia da inclemência do agreste onde ela estava, uma lente filtrava o mundo e para ela, as coisas começavam a se definir lentamente.

--Como pode ser? Estou em minha cama. Eu sei! Mais uma noite sem o cachorro do meu namorado, ele me paga. Mas se meu corpo está ali, o que é isto aqui que não faz sentido?

(Nada é por acaso, querida.)

A voz não tinha um tom melodramático, era uma voz anódina, quase como se fosse um anúncio de rádio, como se fora uma voz automática, dessas que se ouve no elevador que leva você para a cadeira do dentista, onde mil surpresas o aguardam... Ela estremeceu ao pensar na cadeira do dentista (tinha horror!) e caminhou inicialmente de forma gradual, mas seu corpo tomou forma e velocidade e quando se deu conta, tinha a velocidade do vento e batia nas folhas do milharal que se curvava à sua presença delicadamente. Ela parou para pensar, ali a forma e o conteúdo eram uma coisa só! Ela fazia parte e era a própria parte ou parte dela se projetava nas folhas ao seu mínimo desejo, se imbricando nas formas do real partindo do imaginário?

Na verdade, agora, ela já não sabia os limites de si mesma, porque se viu caminhando em direção ao celeiro e olhou para lá e para cá. O telhado era cheio de furos e olhado de dentro, havia manchas de luz por toda parte, devia chover lá dentro e muito.

O vento se transformara em brisa. Ela recebia a suavidade em seu rosto e ouvia os milhares de ruídos que se pode ouvir na solidão do campo. Os pássaros e suas cantorias, o coro de chiados, pios, algaravias, guinchos...

(Veja a cor dos pássaros. Eles flutuam no ar em suas vidas breves. Sabem-se voadores, detêm o poder de estar acima dos outros, mas nem mesmo assim, perdem o contato com o mundo que lhes cabe. Quisera pudéssemos fazer o mesmo, não, meu doce?)

Ela sentia a intensidade do momento, sentindo em seus ossos a luz do sol, como se cristal transparente compusesse seu esqueleto. Ela podia ouvir todos os ruídos da brisa, eles podiam ser decifrados como notas musicais. Viu-se andando sob o teto cheio de furos do celeiro e ela percebia que caminhava lentamente, às vezes embriagada de tanta luz, outras maravilhada com o perfume das árvores que chegava nas emanações do campo de milho que se estendia por milhas. O que ela fazia ali?

(Quantas perguntas. Só podia ser mesmo uma pessoa da cidade, acostumada à dura realidade, à seca determinação dos segundos do relógio, das mil ampulhetas que se impõem às suas vidas regradas, mecanizadas e embrulhadas em papel plastificado, onde vocês escrevem parte de suas existências mesquinhas pensando que se trata de algo importante, mas não: Quando se dão conta, todos os pássaros fugiram e sobrou somente o lento abismo, santo sepulcro de sua estupidez onde vocês descansarão para todo o sempre.)

Ela pouco a pouco abandonava as células de organização que teimavam em tolher sua liberdade de movimentos por toda a parte. Ela aos poucos soltava sua casca que a prendia ao lugar comum dos homens para penetrar numa dimensão superior, onde podia entender como as manchas no teto do celeiro eram as estrelas de um Universo infinito que nascia para ela naquele sonho maravilhoso; foi olhando o teto que viu as estrelas se adensarem num ponto, numa concentração de tempos, atraindo toda a luz de si mesma e num impulso vertiginoso a fez saltar da semi- escuridão onde se encontrava para a cegante luz de uma espécie de quarto e ela finalmente respirava agora, vertida em realidade, os fiapos de sonho de despegando de seus pés, o calor aos poucos a envolvendo em carinhoso abraço, uma dor distante em seu pé esquerdo e a urgente necessidade de se sentir protegida.

Não foi sem surpresa que ouviu a canção que a acompanhava há milênios e virou o rosto, calmamente, e parou de chorar ao olhar o rosto de sua mãe que a acalentava com os braços.

(Agora você sabe.)

--Seu nome será...

O sono a acolheu acalentada pelo calor dos seios de sua mãe.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui