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Artigos-->Entrevista de VM à Revista Profissão Mestre -- 18/04/2003 - 14:09 (vicente martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Entrevista - Matéria



Ensina-se a ser gay?



A homossexualidade pode estar escrita na ponta do giz, do lápis ou do nosso próprio nariz. Que influência a direção, a escola, os professores e os pais podem ter em todo esse processo?



Por Alessandra Assad e Josiane Benedet



Cinquenta e nove alunos. Cerca de 20% dos estudantes do Colégio Ribeirão*, uma pequena instituição particular de ensino, localizada no interior desse país tão grande que é o Brasil, foram transferidos de escola por seus pais no final do ano passado. O motivo? A homossexualidade de alguns professores estaria influenciando a orientação sexual dos alunos. Para o diretor da escola, João Francisco*, demitir educadores gays não resolveu o problema, pois o índice de matrículas nesse ano foi baixíssimo. O prejuízo no fluxo de caixa foi tão grande, que a escola, tradicional da cidade, quase oprecisou fechar as portas. "Perdemos excelentes professores e alunos expoentes, foi uma lástima", conta o diretor, que preferiu preservar a sua identidade para não expor o Colégio nem os professores que sofreram com a situação que acaba de ser descrita. Mas seria o Colégio *Ribeirão o único do País a passar por essa situação? Quantos diretores se vêem divididos todos os dias em função de pressão de pais e alunos para que demitam seus professores e professoras gays? Seria esse um prejuízo apenas para os bolsos das escolas particulares ou para toda uma sociedade?

Diretora de uma das sedes de uma grande rede de Ensino Católico (presente em dez estados brasileiros), a irmã Efigênia* foi categórica ao contar para a nossa equipe de reportagem que a escola não contrata professores homossexuais por ser uma instituição de ensino católico. "Seria contra a nossa filosofia", diz. Ela acredita que os pais dos alunos não aceitariam, pois procuram o colégio justamente por oferecer um ensino tradicional, religioso.""Às vezes, quando o professor faz algum tipo de brincadeira ou trata de um tema mais polêmico, os pais dos alunos procuram a escola para reclamar", relata. Na opinião da diretora, com certeza um professor homossexual influenciaria na formação e aprendizado do aluno, porque é muito difícil separar a vida profissional da pessoal. Ela reconhece que a discriminação existe ao não contratar um professor ou uma professora somente por causa da orientação sexual, mas trata-se de normas. Será que as normas são válidas para todas as escolas, sejam elas públicas, particulares, católicas ou não?



As diferenças

Os filhos de Ana Maria* estudam numa escola da rede pública de ensino de São Paulo. Ela acredita que para os pais aceitarem o fato dos filhos terem aulas com gays, primeiro precisa acontecer uma mudança social. "É estranho, por exemplo, a sua filha ter uma professora lésbica. Num momento em que ela está abraçando ou fazendo algum tipo de carinho na aluna, a mãe, com certeza vai olhar com outros olhos, imaginando que a professora está molestando a aluna. Pelo menos, comigo seria assim", e complementa, "se eu tivesse condições financeiras, colocaria meus filhos em colégios particulares católicos. Na maioria deles jamais serão admitidos professores gays". Será mesmo?

Para o professor do Centro de Letras e Artes da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, Vicente Martins, ao fazer referência às escolas públicas, essa questão da homossexualidade sofre com um preconceito muito acentuado. Ao fazer referência às escolas privadas, pouco se discute, pouco se fala, pouco se reflete, gerando, não poucas vezes, comportamentos sutilmente agressivos de professores com relação aos alunos homossexuais, sejam meninos ou meninas. Nas escolas privadas, aceita-se o matriculado, mas não se tolera o educando com tendência homossexual. A diferença entre escola pública e privada, nesse particular, é que, naquela, não há o princípio de tolerância.



Será que eles são?

Em recente pesquisa realizada pela revista Profissão Mestre, cerca de 67% dos professores entrevistados responderam que sabem identificar um homossexual, seja homem ou mulher e desses, perto de 95% relataram que não teriam qualquer tipo de problema ou objeção em dividir a sala dos professores com colegas gays. Rafael* é professor de educação física há um ano numa escola católica tradicional de Curitiba-PR. Lá, ninguém sabe de sua orientação sexual e por isso a relação com os alunos é natural, normal, longe de qualquer tipo de discriminação. Ele acredita que, se alguém descobrir, não terá problemas, pois conhece outros docentes homossexuais na escola, e está lecionando nesse colégio pelo profissionalismo, e não pela orientação sexual. Quanto aos pais, Rafael* acredita que interfeririam quando soubessem que os filhos têm aulas com professores homossexuais, uma vez que estariam fugindo do padrão que a sociedade impõe. "Muitos pais hoje, não têm tempo para educar os filhos e acabam jogando mais essa responsabilidade para a escola. Os alunos estão em período de formação e se espelham no professor", acredita irmã Efigênia*.

"Eu não gostaria que meus filhos tivessem aulas com professores gays, principalmente na idade em que estão (uma menina com dez , outra com 14 e um menino com 17). Essa idade já é meio complicada, eles estão descobrindo o corpo, as vontades... provavelmente um professor gay poderá interferir na formação dessas crianças", relata Ana Maria*. "Pode ser que eu esteja sendo preconceituosa, pode ser até que meus filhos sejam homossexuais e não sabemos, ninguém está livre disso, mas se isso realmente acontecesse, eu iria imaginar que sofreram alguma influencia do professor".



Você contrataria?

Cerca de 15% das pessoas que responderam a essa pergunta disseram que não contrariam um professor homossexual. Por que motivos? 46% por causa dos pais, 36% acredita que os alunos não o respeitariam, 27% por convicções pessoais e 24% por defender a filosofia da escola em que trabalha.

Mas será que a maioria dos ambientes escolares continuam a ser tão ameaçadores para o corpo docente e os funcionários da escola tal como o são para os jovens gays, lésbicas e heterossexuais, que por sua vez necessitam do apoio e da orientação dos primeiros?

Segundo as conclusões do Dr. Alfred Kinsey, um dos sexólogos mais conhecidos e respeitados do mundo, quase ninguém é totalmente heterossexual ou totalmente gay. Ele descobriu que a maioria das pessoas sente ou sentiu alguma atração por alguém do mesmo sexo no decorrer de suas vidas, e que muitas pessoas tiveram experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo ou de ambos os sexos.

Algumas estimativas dizem que uma de cada dez pessoas é gay. Ou seja, 10% da humanidade é constituída por homossexuais. Existem gays em todos os lugares a sua volta - só que nem sempre você pode saber quem são eles. Com uma média de 10% de homossexuais na população, existem não só professores, como também estudantes gays e lésbicas na sua escola que você provavelmente conhece, mas não sabe que são - ou que pode ser que ainda não os tenha conhecido.



O começo de tudo

A palavra homossexual é universal e foi criada em 1869 pelo jornalista gay-húngaro Benkert, para definir a quem ama e sente atração pelo mesmo sexo. Todos nós nascemos machos ou fêmeas. É a sociedade que vai nos definir como homens ou mulheres. As ciências naturais e sociais garantem que o fato de nascer macho não leva obrigatoriamente o homem a ter atração física pelo sexo oposto. Entre os humanos, cada povo é que vai determinar como vai ser a vida sexual de seus membros, se pode ter uma ou várias mulheres, se os jovens vão poder ou não ter relações sexuais antes do casamento, se a homossexualidade será aceita ou condenada, entre outras questões.

Homofobia é ódio ou intolerância à homossexualidade. É uma doença anti-social como o machismo e o racismo. Homofobia é doença que se cura com a informação e punição daqueles que desrespeitam os direitos humanos dos homossexuais. No Brasil, estima-se que deve existir mais de 15 milhões de homossexuais, população uma vez e meia superior aos habitantes dos sete estados da região Norte do país.

Até hoje, por mais que se pesquise, ainda não chegaram os cientistas a uma conclusão definitiva para explicar a origem da homossexualismo. As teorias que tentaram explicar as causas da tendência homossexual por razões biológicas, genéticas, glandulares, psicológicas, sociais, todas são insuficientes e muitas vezes, umas contradizem as outras. O fato é que nenhuma delas cita o ambiente escolar como provável causa da tendência homossexual de um indivíduo.



Silêncio!

Vicente Martins, afirma que estamos, do ponto de vista tecnológico, na era da informática, mas em se tratando de educação de valores, na Idade Média. "Em se tratando de civilização brasileira, avançamos muito pouco com relação às idéias sobre corpo, alma e sexualidade inculcadas no século XVI. A situação é ainda mais acentuada quando fazemos referência às questões de ordem sexual no âmbito da educação escolar", afirma.

Ele acredita que a homossexualidade é tema que educadores, sejam diretores, coordenadores ou professores, com ou sem pós-graduação, fazem questão de silenciar. "Nós evitamos comentar o assunto. Ignoramos as crianças e adolescentes com tendências homossexuais e ficamos torcendo, de forma iníqua, que no futuro, isto é, na fase adulta, os homossexuais mudem de opção sexual".



O medo

Gays correm o risco de serem espancados, expulsos de suas casas e despedidos dos seus empregos - simplesmente porque são gays. As pessoas geralmente temem aquilo que não entendem, e odeiam aquilo que temem. Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela USP, Mestre em Etnologia pela Sorbonne, Paris, doutor em Antropologia, Unicamp, Luiz Mott é antropólogo, professor titular do departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia desde 1979, vice-chefe do departamento, recentemente aprovado para o concurso de titular, nota dez, o posto mais alto da carreira acadêmica não escapou do preconceito, já tendo recebido ameaças de morte, casa pichada e carro depredado. "Quando eu entrei na universidade, numa reunião, o meu nome foi indicado para ser chefe de departamento. Eu era o mais titulado e com melhor perfil para ocupar esse cargo. Na minha ausênsia da reunião, o professor decano do departamento perguntou em voz alta: "E viado pode ser chefe de departamento? "Não houve resposta dos demais". Por conta disso, o professor ficou contrariado, e declarou nunca aceitar a chefia de departamento. "Não valia a pena enfrentar esse tipo de constrangimento", desabafa.

Mott afirma que 99% dos gays e lésbicas professores vivem presos dentro da gaveta do enrustimento. "Eles têm medo de se assumir, com medo de serem demitidos ou terem sua carreira profissional prejudicada. Cerca de 1% dos "assumidos/as" raramente utiliza as salas de aula para falar a verdade sobre a homossexualidade, embora todos os alunos e colegas saibam de sua orientação sexual". Ele acredita que professores e pesquisadores gays e lésbicas se vêem forçados a permanecer na gaveta a fim de não sofrerem discriminações funcionais; muitos são os docentes que ainda usam a cátedra para divulgar opiniões negativas em relação à homossexualidade.



Professor, isso é perseguição

Há casos de professores homossexuais que foram perseguidos no Rio Grande do Sul, na década de 80, pela Secretaria Estadual de Educação, e entraram na justiça. Há um professor em Natal que sofreu constrangimentos por ter publicado um poema homoerótico numa revista nacional.

Em contrapartida, alunos e alunas homossexuais são discriminados por seus professores, vendo-se impedidos de assumir sua verdadeira identidade existencial; pesquisadores são desestimulados ou mesmo barrados a investigar temas relativos à sexualidade humana. "Muitos acadêmicos continuam agindo como "cães de guarda da moral hegemônica". Para Luiz Mott, um mito equivocado no Brasil e herdeiro do preconceito ainda mais forte originário da Inglaterra e dos EUA associa a homossexualidade dos adultos a um comportamento que influenciaria e "contaminaria" as novas gerações. Daí a ver o receio de que professores gays ou professoras lésbicas pudessem influenciar na orientação sexual dos alunos, crianças ou adolescentes. "Pesquisas revelam que pais ou mestres homossexuais não têm influência direta na orientação sexual dos jovens, tanto que praticamente todos os homossexuais tiveram pais e professores heterossexuais", afirma.



O comportamento do professor interfere na orientação sexual do aluno?

Minha colega Elvira*, professora de educação física, bissexual, ouviu de nossa colega de história, que ela representava a decadência de uma sociedade que poderia ser civilizada. A mesma disse que os homossexuais deveriam ser tratados como doentes e que não poderiam de maneira alguma andar soltos por aí, principalmente em uma escola, pois influenciam os alunos com seus hábitos pervertidos. Não concordei, assim como a maioria de nossos colegas. De 36 professores da nossa escola, apenas três a olham pela mesma ótica da professora Lucimara*, de história. Na realidade a colega de educação física é uma pessoa superamiga, profissional, competente e dinâmica. Suas preferências sexuais não interferem em sua conduta moral. O depoimento indignado vem da leitora Kátia, de Gonçalves Dias. Mas até onde o comportamento homo, bi, ou heterossexual dos professores interfere na orientação sexual dos alunos como muitos acreditam?

O mestre em marketing, Paulo Ricardo Meira, afirma que a homossexualidade pode conflitar em muito com a venda da imagem do professor, uma vez que pode haver uma percepção errônea dele tanto pelo corpo docente quanto pelo discente. "em vez do aluno prestar atenção aos ensinamentos, procurará imaginar o professor em situações "não-dignas", bem como um entendimento da direção da instituição de que determinado professor(a) é um mau exemplo aos alunos, até por temor de uma eventual rejeição pelos pais desses alunos".



Qual a idade mais perigosa?

O escritor Içami Tiba, referência na área de educação brasileira declarou que apesar da sociedade ainda ter resquícios machistas, ela interfere cada vez menos na educação. Ele afirma que toda criança tem três idades: a infância, a puberdade e a adolescência. Para as crianças o professor ser ou não ser gay não vai fazer a menor diferença, acredita que a direção nesse caso, só terá problemas com os pais, que pedirão providências.

Para Içami Tiba, a fase mais crítica é a da puberdade. "Aí sim os problemas surgirão, inclusive de violência". Ele explica que nessa fase a criança mata a sua porção homossexual para assumir uma identidade sexual. "Tem meninos que não podem ouvir falar em gays, que já saem batendo em todo mundo". Segundo ele, é a fase da formação da personalidade. "Ele precisa se posicionar perante a sociedade, e por isso a reação chega a ser a mais cruel e violenta das três", explica.

Já o adolescente procura a sociabilidade na busca pelo relacionamento. Por mais que ele seja inseguro em relação ao sexo oposto, ele já se definiu com relação à sua sexualidade. Ele acredita que os maiores problemas de aceitabilidade estão entre os alunos de escolas mais tradicionais. Mesmo assim, Içami Tiba é taxativo ao afirmar que em nenhuma das fases o exemplo do professor gay vai influenciar no comportamento do aluno. O que pode acontecer, é o aluno que tem uma homossexualidade latente despertá-la pelo exemplo do professor ao ver que o mesmo se assume perante a sociedade.





Onde você aprendeu isso?

Alexandre* relata que descobriu sua homossexualidade mais ou menos aos 14 anos de idade, na adolescência. "Posso afirmar que escola não teve nenhuma influência na minha opção sexual". Ele nunca teve um professor ou professora homossexual. Vânia Figueira, nossa leitora, relata que enquanto cursou o segundo grau teve dois professores que eram homossexuais e em nenhum momento isso interferiu na qualidade de suas aulas e nem mesmo na relação que mantiveram com seus alunos ou com a escola, muito pelo contrário, sempre tiveram uma postura bastante adequada, demonstrando competência e conquistando o respeito da instituição, dos pais e dos alunos. "Com certeza, essa experiência foi relevante na construção dos meus valores morais e éticos".

Ela, que é heterossexual, acredita que a escola deva ter um papel importante na formação de crianças e adultos, preparando-os, principalmente, para lidar com as questões humanas e sociais de forma crítica e livre de qualquer tipo de preconceito. "Sendo assim, não poderia concordar que a preferência sexual de um professor determinasse sua exclusão profissional, desde que o mesmo não tivesse nenhum comportamento inadequado que comprometesse sua atuação. Isso vale para qualquer outro profissional".



Foi na escola ou foi em casa?

Marcelo Cerqueira, jornalista, responsável pelo site do grupo gay da Bahia (www.ggb.org.br) relata que é possível que os pais pensem que seu filho foi levado para a homossexualidade por outra pessoa. Ele afirma que a idéia homofóbica de que os homossexuais "desencaminham" as pessoas é muito comum. "A verdade é que ninguém "fez" de seu filho um gay nem de sua filha uma lésbica. É mais provável que ele ou ela tenha se sentido "diferente" por um longo tempo - nenhuma pessoa ou grupo de pessoas "converteu" seu filho".

Cerqueira complementa afirmando que outros pais acham que o comportamento deles, enquanto pais, causaram tal identidade sexual no seu filho. Por muitos anos, a psicologia e a psiquiatria divulgaram suas teorias de que a homossexualidade era causada pelos tipos de personalidade dos pais - a mulher dominante, o homem fraco - ou pela ausência de modelos sociais do mesmo sexo. Essas teorias não são mais aceitas dentro da psicologia ou da psiquiatria, e parte do trabalho do trabalho do Grupo Gay da Bahia é ajudar a apagar estes conceitos errôneos da cultura popular. Gays vêm de famílias "modelo", aquelas com mães dominantes ou submissas, pais fortes ou fracos. gays, lésbicas e bissexuais são filhos únicos, ou caçulas, ou intermediários, ou os mais velhos. Eles vêm de famílias com irmãos gays e de famílias sem irmãos gays.



Freud Explica?

Não se pode negar que a influência da psicanálise tem sido considerável na educação. A visão psicanalítica foi adotada, inclusive, pelos marxistas, que hoje dominam praticamente toda a área do ensino, não só no país, como em grande parte do mundo ocidental. Isto levou grupos que ambicionam subjugar as massas e incutir-lhes suas doutrinas, a ter, como objetivo prioritário, o domínio de todas as instituições através das quais poderia controlar a vida intelectual da sociedade, em particular as escolas, universidades e a mídia. Assim, a educação assumiu um cunho nitidamente político, alvo de todos os grupos sectários ou religiosos.

A psicopedagoga Izabella Blond Klock, afirma que a orientação sexual do professor não interfere na sua função, missão e nem no aprendizado do aluno."O que vejo como básico e indispensável é que tenha-se ética compatível com o papel que desempenha", enfatiza. Ela concorda que a maioria dos pais não quer que os filhos tenham aulas com professores homossexuais por acreditarem que os filhos serão influenciados pelo comportamento do professor, embora defenda que a capacidade profissional e o caráter estejam acima do preconceito da escolha sexual de cada um. A psicóloga Ceres de Araújo afirma que os gays reclamam que a carreira profissional deles nunca mais vai ser a mesma depois que o chefe ou patrão ficar sabendo das novidades. "Não espanta que tantos prefiram trilhar o caminho do segredo eterno".

Em entrevista ao Jornal das Missões, o professor Célio Golin disse acreditar que parte da insegurança dos professores ao tratarem o assunto de frente deve-se ao fato da grande maioria não tem sua própria sexualidade resolvida, isto dificulta a abertura de espaços para discussão. Outra: acham melhor se omitirem, pois não querem enfrentar os pais, que por outro lado jogam a responsabilidade para a escola. Para ele, a escola cumpre uma função fundamental na vida dos jovens, pois é um grande espaço de socialização e deve servir para que todos possam conviver com a diversidade. Então a recíproca é verdadeira?



Evasão Escolar

O índice de abandono escolar entre jovens gays é muito alto devido à forma como são tratados. Atualmente, em Salvador e em outras cidades do Brasil existe uma lei que proíbe a discriminação com base na sua orientação sexual. É um primeiro passo para enfrentar o preconceito: crime não é ser homossexual, mas discriminar os gays e lésbicas.

Carlos Hernández, coordenador dos assuntos relacionados com a juventude no trabalho da Fundación Triângulo, a organização espanhola dedicada à igualdade social das pessoas gays acredita que as visões negativas sobre eles expressadas de um modo tão comum pelos estudantes na turma e durante as atividades escolares levam o adolescente homossexual a desenvolver uma imagem negativa de si próprio. Sem ninguém com quem falar e sofrendo abuso geral, para o adolescente homossexual a escola torna-se não num local de auto-realização mas num lugar onde este aprende a detestar-se. Ele afirma que em muitos casos, os sentimentos de alienação na turma e nas atividades da escola combinados com a hostilidade dos seus semelhantes faz com que os adolescentes homossexuais sejam incapazes de completar o ensino secundário.



A lei

Não existe no Brasil nenhuma lei que condene os gays, lésbicas, travestis e transexuais. Ninguém pode ser preso por ser homossexual. Nem o Código Penal nem a Constituição Federal condenam a homossexualidade e nem a sua prática entre pessoas maiores e com consentimento mútuo. O preconceito e a discriminação, sim, são proibidos pelas leis brasileiras. Se algum policial, autoridade ou qualquer pessoa insultar, agredir, prender ou discriminar alguém por ser gay, lésbica, transexual ou travesti, é possível reagir e denunciar na Delegacia de Polícia mais próxima ou nas Comissões de Direitos Humanos, nos jornais ou junto ao grupo homossexual da cidade ou Estado onde vivem.

Castigar crianças ou adolescentes por manifestarem tendências homoeróticas é crueldade e fere o Estatuto da Criança e do Adolescente e um direito fundamental de todo ser humano: a livre orientação sexual. Como a homossexualidade não é crime nem doença, impedir alguém de realizar sua verdadeira orientação sexual é tirania, crueldade, abuso do poder e desrespeito aos direitos humanos.

A advogada Ana Paula Lorenzoni, da Venzo e Lorenzoni advogados associados, enfatiza que um colégio não pode demitir ou deixar de admitir professor única e exclusivamente por ele ser homossexual, justamente por afrontar os princípios constitucionais mencionados. "Caso isso ocorra, a pessoa pode entrar na justiça pleiteando Indenização por Danos Morais e, ainda, na hipótese de demissão, pedir a reintegração no emprego e o pagamento dos salários a que tinha direito no período da suspensão". Cabe lembrar que nesse caso é o ofendido quem deve provar o dano moral, bem como demonstrar que a demissão ou a não admissão decorreu apenas por motivo da sua orientação sexual.







Dicas de procedimentos para professores gays:



1 - Posicionamento - Em termos de marketing pessoal, é que o assunto seja jamais discutido profissionalmente, pois trata-se de algo fora do contexto de ensino, fora do ambiente da sala de aula, sala dos professores ou das reuniões de círculo de pais e mestres. Imagine se um professor hipocondríaco começa a relatar seus temores em relação a doenças. Em pouco tempo, estará estigmatizado e afastado pelo grupo - ou pior - por seus empregadores. Assim, deve-se tratar, no ambiente profissional, de assuntos profissionais e não de preferências sexuais. O oposto também vale. Imagine-se a imagem perante os colegas de um professor que "baba" ao ver passar de saia suas jovens e adolescentes alunas. É tão ruim quanto.

2 - Ter personalidade - ser original, ou ser engraçado, ou ser elegante, enfim, querer tratar pelo marketing pessoal uma característica de homossexualidade é a mesma coisa que querer dizer: "olá, empregue-me, pois sou o professor que só usa calças jeans. Se um determinado atributo não for diferenciador para melhor, em relação à concorrência, não vale a pena ser exaltado ou comunicado, pois os clientes vão se perguntar "e eu com isso"?

3 - Baseie-se em qualidades e não em atributos - Explicando melhor: um professor que é doutor tem isso como qualidade, como diferencial, e pode explorar em seu marketing pessoal. No entanto, um professor basear seu posicionamento no mercado - sem trocadilho - como homossexual seria estupidez por que tal condição não lhe agrega valor nenhum que fosse superior aos demais professores heterossexuais.

4 - Esteja preparado - Ao resolver se assumir perante a sociedade e os colegas de trabalho, esteja preparado para reações de todas as ordens do inconsciente coletivo. Tenha em mente que o movimento antigay é maior do que você.







Curiosidades



• Em Roma o líder da direitista Aliança Nacional italiana, Gianfranco Fini, provocou reações iradas de vários setores ao declarar na televisão que professores homossexuais não deveriam lecionar em escolas primárias. Alessandra Mussolini, membro da AN e neta do Duce, tentou abrandar o estrago. O dirigente direitista, disse ela, "confundiu homossexualismo com pedofilia".



• Em São Paulo, um grupo de professores, a maioria homossexual, montou um cursinho pré-vestibular voltado a estudantes gays.



• A capa e a matéria principal da revista Newsweek, de 14 de setembro de 1992 foi sobre esse assunto. A capa dizia "Gays Under Fire - What America Thinks. A Newsweek Poll" ( Os gays sob fogo - O que a América acha. Uma pesquisa da Newsweek ). Em resposta à pergunta "Homossexuais devem ser contratados para trabalhar como professores?",54% concordaram que os gays devem podem ser professores de escolas de segundo grau, e 51% concordaram que podem ser professores da escola primária. A resposta causou preocupação aos pais cristãos, pois os professores sempre foram modelos para muitos alunos. Constantemente, advertimos nossos ouvintes que as escolas públicas nos EUA hoje são perigosas para as almas das nossas crianças, por causa dos valores anticristãos que agora são ensinados. Agora, a pressão ficará ainda maior, pois homossexuais e lésbicas serão contratados como professores no sistema de escola pública.



• O primeiro curso de formadores/coordenadores foi administrado em agosto de 2000 e o segundo curso de formação "Criar Escolas Válidas e Seguras para Estudantes, Professores e Funcionários Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais ", ocorreu em Oulu, Finlândia , de 20 a 27 de julho de 2002.









Considerações:



"Começaram as minhas aulas essa semana. Saco ter que acordar cedo. Mas por enquanto tá tranqüilo. Toda a "minha" turma saiu, ficou eu e mais um amigo. Ai que saudade de todo mundo. Ai que saco ter que se aproximar do povo novo lá da sala. Trocaram alguns professores, não tenho mais professores gays, so sad."

Vivis, uma estudante em sala de bate-papo na Internet às 4h26



"Demiti um colega professor homossexual. Apesar da extrema inteligência e capacidade, o que afastava dos colegas e alunos era justamente o comportamento muitas vezes impróprio e descontrolado para as ocasiões que surgiam".

Leitora anônima, via pesquisa



"Particularmente, tive professores homossexuais que foram excelentes profissionais, além de grandes parceiros de trabalho. Só tenho a dizer que um professor que foi demitido em função do homossexualismo era meu melhor amigo, que compreendia e me apoiava como ninguém. Foi injusto e desumano o que ele sofreu".

Leitora anônima, via Internet



"Tenho dois filhos e não vejo nenhum problema em qualquer um dos dois venha a ter, algum dia, um professor homossexual. Conviver com o diferente sempre vai fazer bem ao ser humano - e acredito que é mesmo um ganho. Se meu filho um dia chegar em casa dizendo "Mãe, meu professor é gay!!!", será uma ótima oportunidade para sentarmos e conversarmos sobre o assunto".

Valéria Toledo Kukla, redatora







Depoimento



Nasci em Brusque, no belo estado de Santa Catarina, no dia 17 de agosto de 1958. Sou católico e a Igreja Católica teve grande influência na formação da minha personalidade. Aos treze anos, entrei na Escola Apostólica Sagrado Coração de Jesus, em Corupá - SC. Eu queria me tornar padre. Fiz o segundo grau (ensino médio) em Curitiba, num seminário da mesma congregação. Fui noviço em 1978, em Jaraguá do Sul. A faculdade de teologia fiz até o quinto semestre, no Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté - SP. Desde o final do noviciado, fevereiro de 1979, eu fiz, temporariamente, os votos de pobreza, de obediência e de castidade.

Em 1986, morando em São Paulo, eu encontrei o grande amor da minha vida, um rapaz. Sou homossexual e o nosso amor fez uma grande revolução na minha vida. Abandonei o voto de obediência. Sobrou apenas o voto de pobreza e parece que Deus ainda não me dispensou desse voto. Em 1987, descobri que estava portador do HIV. As dificuldades foram muitas, mas eu não me escondi. Em 1990, resolvi escrever o De Agosto em Agosto com muito gosto. Foi um dos primeiros livros, no Brasil, alguém contando, mesmo em terceira pessoa, a sua história de HIV positivo e da sua homossexualidade. Em muitos lugares, a AIDS não assustava, assustava a minha homossexualidade assumida e declarada. Tive sempre o carinho de diferentes seguimentos da sociedade. As pessoas sabiam que eu lutava pela dignidade humana e por um Brasil mais democrático, mais feliz.

Mário Rudolf, escritor, autor do livro De Agosto em Agosto com muito gosto









Frases:



"Escola não respeita os gays". (www.paradasp.org.br)



"Onde foi que eu errei?", perguntam os pais. Não há quem não se sinta responsável ou queira culpar a escola pelo fato de o filho ou a filha ser homossexual.



"A universidade é extremamente moralista. A sociedade brasileira toda vive mergulhada numa invisibilidade homossexual assustadora".

Trevisan, em entrevista ao jornal Correio Brasiliense



"Quase todo mundo, mais cedo ou mais tarde, se apaixona por alguém do mesmo sexo, como um professor que se admira ou o irmão ou irmã de um amigo. O "melhor amigo" de quase todo mundo é uma pessoa do mesmo sexo. Mas nada disso significa que você é gay".



"Se o indivíduo é íntegro, nada mais importa. Se o indivíduo não é íntegro, nada mais importa."

Alan Simpson



"Exemplo ninguém segue por segui, por melhor que seja o professor".









Para saber mais:



SOS Contra Violência Anti-Gay

Fone: (71) 322-2552

Sites:

ggb@ggb.org.br

http://www.gapabahia.org.br

http://www.edgls.com.br

http://web.that.com.br/gtpos

http://www.iglhrc.org





No período de 21 a 25/02/03 a revista Profissão Mestre realizou pesquisa on-line tratando do tema "Homossexualidade na Escola" entre os leitores Veja o resultado da pesquisa:



Em sua escola trabalha(m) professor(es) homossexuais?

47,67 % sim

22,64% não

29,69% não tenho certeza



Você sabe identificar um homossexual, seja homem ou mulher?

67,33% sim

32,66% não



Você, como pai, teria alguma objeção se o(a) professor(a) de seu filho fosse homossexual?

14,23% sim

85,77% não



Você, como professor, teria alguma objeção a um(a) professor(a) colega de trabalho que fosse homossexual?

4,22% sim

95,78% não



Você já teve um(a) professor(a) homossexual?

65,12% sim

34,88% não



Você, como diretor de uma escola, teria alguma objeção a um(a) professor(a) que fosse homossexual?

11,58% sim

88,42% não



Você, como diretor, contrataria um(a) professor(a) homossexual?

86,54% sim

13,46% não



Caso tenha respondido que não, por que não contrataria? (marque quantas achar necessário)

27,27% questão de convicção pessoal

24,24% não combina com a filosofia da escola

46,97% os pais podem não gostar

36,36% os alunos não o(a) respeitariam



Você é homossexual?

2,76% sim

97,24% não



Você, como diretor, acredita que ter um(a) professor(a) homossexual pode influenciar no índice de matrículas da escola?

25,80% sim

74,20% não



















Celebridades que amaram o mesmo sexo. O que teria sido dessas pessoas se tivessem sido discriminadas em função da orientação sexual?

João Silvério Trevisan(Escritor)

Francis Bacon (filósofo, ensaísta e estadista)

James Baldwin (romancista)

Luiz Mott (escritor e antropólogo);

Mario de Andrade (poeta)

João Antônio Mascarenhas (advogado)

Lota de Macedo Soares (esteta)

Elizabeth Bishop (poeta)

Camille Paglia (escritora)

Cássia Eller (cantora)

Renato Russo( cantor)

Pedro Almodovar (cineasta)

Elton John (cantor)

Ney Matogrosso (cantor)

Lord Byron (poeta)

Júlio César (general e imperador romano)

John Cheever (escritor)

John Cocteau (romancista, dramaturgo e poeta)

Colette (escritora)

James Dean (ator)

Emily Dickinson (poeta)

Marlene Dietrich (atriz)

Brian Epstein (empresário dos Beatles)

E. M. Forster (romancista)

Deputado Barney Frank

Allen Ginsberg (poeta)

Alexander Hamilton (estadista, primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos)

Rock Hudson (ator)

T.E. Lawrence (escritor e aventureiro)

Michelangelo (artista);

Yukio Mishima (romancista)

Martina Navratilova (campeã de tênis)

Florence Nightingale (fundadora da enfermagem moderna)

Sir Lawrence Olivier (ator)

Platão (filósofo)

Marcel Proust (romancista)

Dick Sargent (ator)

Franz Schubert (compositor)

Bessie Smith (cantora)

Madame de Stael (escritora)

Joe Steffan (cadete da marinha americana, recebeu inúmeras condecorações)

Gertrude Stein (escritora)

Deputado Gerry Studds

Peter Ilyich Tchaikovsky (compositor)

Rudolf Valentino (ator)

Leonardo da Vinci (artista)

Walt Whitman (poeta)

Oscar Wilde (poeta, romancista e dramaturgo)

Tennessee Williams (dramaturgo)

Virginia Woolf (romancista e crítica)

Wu (imperador chinês)

Caio Fernando de Abreu ( escritor )

(Fonte: Nossos filhos e filhas - Texto original: "Our Daughters And Sons" PFLAG, Federation of Parents of Lesbians and Gays, Washington,1994 - Adaptado por Marcelo Cerqueira.)



* Os nomes foram trocados para preservar a privacidade da fonte









Nota da editora: muitas escolas, professores, consultores e profissionais da educação procurados pela equipe de reportagem preferiram silenciar-se a fazer qualquer declaração sobre o tema abordado.

Colaboraram nessa matéria: Brasílio Andrade Neto, Cione Haires, Rodrigo Saporiti, Valéria Poletti e Vivian de Albuquerque





Fonte: http://www.profissaomestre.com.br/php/pm_entrevista.php. Capturado em 17 de abril de 2003.
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