Só quando eu também estiver doido voltarei para o Asilo…
Moacir Rodrigues
Encontrei-me ontem, eventualmente, quando fazia compras na Feira de Vila Velha,com o Sr. Pedro, um amigo que foi meu vizinho por doze anos e que completará no próximo dia 15 de maio seus 92 anos, mas inteiramente lúcido. Como mudamos do prédio em que morávamos, perdemos o contato e eu tive um enorme prejuízo, porque julgava importante ouvir os casos que contava, além do fato de ser ele um homem extremamente simpático e com um passado que lhe deu muita experiência, tendo, é claro, muitas histórias bonitas para contar. Ontem, quando encontramos foi aquela festa de amigos que não se vêem há muito tempo, mas ele me deu uma notícia que me deixou um pouco triste: a sua esposa faleceu em agosto último. Como ficou sozinho e não tem descendentes e nem parentes no ES, onde já vive há sessenta anos, doou o seu apartamento a duas afilhadas do casal, reservando usufruto vitalício, e foi morar num Asilo que, segundo ele, é extremamente organizado. No entanto, alguns meses depois decidiu voltar para Vila Velha porque está muito lúcido e percebeu que os velhinhos seus companheiros do Asilo estavam todos meio doidos, o que o levou a tomar uma decisão: “Só quando eu também estiver doido irei voltar para o Asilo.”
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