Ao fim do corredor,
um frio olhar exige o susto.
Surge ali no vão da escada,
envolto à vermelhidão
e sádico sarcasmo.
"- Quietinha! Quietinha!
Tu vai aonde?"
- Meu Deus, onde é
que eu vou agora,
arrastando pela noite
dois olhos de fogo?
Um dos caninos à mostra,
nicotina no sorriso,
hálito quente.
Arma nas mãos,
a eloqüência é mantida:
"-Tu tem olho de gato!..."
Hoje, no quarto escuro,
tento recompor o olhar
(meu ou dele que o capturou?...)
adrenalina alastrada pelo corpo.
O olhar de minha gata
é sensível e defendido,
mas envolve com firmeza
o alvo da agressão.
O homem vacila,
diz que dou mole
num prédio de lojas falidas.
Leva-me os cheques,
relógio, dinheiro e cartão.
Manda a recomendação:
"- Polícia não!..."
A noite me inquieta...
Uns olhares vêm e vão
- outros não!
Do agressor desconheço o paradeiro,
se está vivo ou morto,
se tem filhos,
se está na prisão...
Mas sei que trago comigo
um olhar cruel que retalha
- e, Meu Deus, que desespero!
de tanto que em mim já doeu,
já nem sei mais se é dele ou meu...
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