Logo após o esplendor
Da excelsa sensação
O êxtase, seja qual for,
Só alcança dimensão
Se o enlace da candura
Como dádiva sincera
Estiver à nossa espera
Com amorosa ternura.
As fontes de água pura
Estão condenadas à foz
Carregadas de amargura
Tal e qual como nós;
Rios grandes ou pequenos
Todos acabam no mar,
Ora lentos e serenos,
Ora em lanços de arrasar.
Todos temos de acabar
Para quiçá renascer
E de novo começar
Mas sem nunca mais saber
Ou até sentir sequer
O que é o desamor
Que tivemos de sofrer
Logo após o esplendor.
Neste real ascensor
Que deveras é a vida
Há os que sobem melhor
E os que não logram subida;
No entanto a descida
Custa menos aos que estão
Na hora da despedida
Muito mais perto do chão.
De resto, tudo é em vão
Quer se queira ou não queira
E se não fosse a ilusão
Viver seria uma asneira;
Por isso nada lamento
E louvo pleno o amor,
Esse bendito fermento
Logo após o esplendor!