Eu estava numa calçada, de frente para um cruzamento, esperando o sinal de pedestres abrir, quando apareceu um baixinho esquisitão, que me perguntou:
-Ô esquipático, poderia me dizer as horas?
-Dez e trinta – respondi.
-Obrigado, esquipático. Tchau.
Foi o suficiente para eu ficar “encucado”. Fui para o trabalho pensando em descobrir o significado daquela palavra esdrúxula para saber se o baixinho era chinfrim ou tranchã. Perguntei para os meus colegas e ninguém sabia. Meu chefe, um sabichão, se fez de desentendido. Quando fui para casa, voei para cima do dicionário, folheando a letra “E”, mas nada de esquipático. Desesperei-me. Folheei as letras “H”, “I”, “Y”, mas não encontrei a insólita palavra.
As semanas iam-se passando e a palavra, cada vez mais, penetrava nos meus miolos, fosse no trabalho, fosse em qualquer lugar. Um mês, após o desagradável incidente, fui demitido. A partir daí, percebi que as coisas estavam muito mais sérias do que eu pensava. Por isto, apelei: procurei um psicanalista. Chegando ao consultório, encontrei seis porras-loucas esperando a vez. Um deles, se dizia Adolf César ou Júlio Hitler e, volta e meia, gritava “Ave, Hitler!”. Ignorei e esperei a minha vez. Duas horas e meia passadas e, finalmente, fui chamado. Médico feio, sério, com dois canários vivos na cabeça e uma caneta na mão. Quando me viu, perguntou:
-O senhor quer se sentar?
-Obrigado, esquipático, digo doutor.
-O seu problema, qual é? Pode se abrir comigo…
-Doutor: certo dia, estava num cruzamento, esperando o sinal de pedestres abrir, quando apareceu um baixinho que me chamou de esquipático. O senhor tem que me revelar o que significa isso, pois venho vivendo semanas de angústia por causa dessa maldita palavra. Diga-me, doutor: o que é ESQUIPÁTICO?
O doutor coçou a cabeça, pensou, pensou e retrucou:
-Pausa para um copo d’água, meu caro cliente.
Saiu e, na outra sala, folheou todos os dicionários que possuía, com pena de canário voando para todos os lados. Decepção. Uma hora depois, voltou o médico, tranqüilo e sereno.
-Mas doutor, o senhor foi beber a caixa d’água?
-Calma, meu jovem. Descobri a sua cura.
-Pelo amor de Deus!! Qual é? Qual é?!
-A partir de hoje, o prezado cliente deverá tomar chá de merua e fazer laborões durante seis meses para que, assim, evite a derrissão por parte de seus amigos.
-Merua?! Laborões?! Derrissão?! Vem cá, seu verme, deixa eu lhe estrangular só um pouquinho!!
-Socorro!! Pega este esquipático que não quer tomar chá de merua nem fazer laborões para evitar a derrissão vinda de seus conhecidos!!
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