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Poesias-->Para Wolf, Conde de Kalckreuth -- 04/08/2001 - 22:26 (Elpídio de Toledo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
De: René Karl Johann Josef Maria Rilke





Escrito em 4 e 5 de novembro de 1908, em Paris.





Realmente, eu nunca te vi? Meu coração está

Tão pesaroso por ti como um difícil início

Que se adia. Tenho que te dizer

Tu estás morto, tu boa vontade,

Tu, lamentavelmente, morto. Foi tudo

tuave como tu pensavas, ou

o nâo mais viver demora para estar morto?

Tu acreditavas melhor no ter de lá,

Onde a posse nenhum valor tem. A ti parecia

Que lá em cima tu estarias dentro da paisagem,

Como um cenário que se segue ao daqui,

E que dali derivarias na amada

E passarias por tudo, forte e agitado.



Oh, tu, que não mais prolongaste a ilusão

Dos teus equívocos de rapaz.

Fostes tu que, solto e embalado na corrente da saudade

Somente meio inconsciente,

Do movimento em torno de longínquas estrelas

A alegria encontraste, a que tu daqui

Logo levaste com a morte dos teus sonhos.

Quão perto estiveste dela, caríssimo, aqui.

Tal qual era ela aqui em casa, ela, que tu pensavas

A mais séria alegria da tua forte ânsia.

Quando tu, desiludido de ser feliz ou infeliz,

Buscavas a ti mesmo, com um juízo

Penoso elevavaste, sob o peso

Que quase despedaçava tuas obscuras descobertas:

Então, trazias a que tu não reconheceste,

A alegria do teu pequeno Salvador trazias,

Fardo trazias pelo teu sangue e seguias.

O que tu não esperaste, que viria

A insuportável tesoura: então, transformaste-a

E com muita dificuldade, porque tão pura. Vês

Este foi talvez o teu mais próximo momento.;

Talvez ele tenha se esforçado em frente à porta

Para endireitar a cornija, ao batê-la com força.

Como anda ele pelo Infinito,



Oh, se esta batida fosse uma ponteaguda rajada de vento

De impaciência, de qualquer parte, para abrir o que está fechado.

Quem pode jurar que numa fenda na terra

Não se estende uma semente saudável.;

Quem procurou saber se entre animais domésticos

Não palpita um exuberante prazer por matar,

Se, de repente, há um clarão em teu cérebro.

Quem sabe da convergência , a que de nossas trocas

Salta para uma ponto ideal próximo,

E quem o acompanha para onde tudo se encaminha?

Ainda que tenhas fracassado. Ainda que devam dizer isto de ti

Por toda a eternidade.

E quando um herói é iminente, aquele

Que nos deixa a par do sentido das coisas

Como uma máscara arrancada e furioso

Nos desmascara, cujos olhar silencioso

De há muito, à espreita, nos contempla:

Essa é a face, e não se transformará

Ainda que tenhas fracassado. As lousas ficaram lá,

E , no ar em torno delas já passou o rítmo

De uma obra, nada mais a reter.;

Tu passastes por elas e não viste como te cobrem,

Uma esconde de ti a outra.; cada lousa

Pareceu-te para estabelecer, quando tu em visita

Por ela procurares, sem ter certeza,

Que estiveste do lado de cá. E tu ergueste ambas

Desesperado, mas somente para

Devolvê-las à pedreira hiante

De modo que elas, dilatadas por teu coração,

Nunca mais passem. Uma senhora teria pousado

A leve mão sobre estas iras

Logo no teu tênue início .; seria uma que

Se ocupou, com todo o teu coração,

Encontrar-te em silêncio, pois tu saíste calado

Para te matares — .; sim, tiveste somente teu caminho

Ladeado por uma desperta oficina,

Onde homens martelam, onde o dia realmente

Se harmoniza.; houvesse em teu caminho

Espaço suficiente para a imagem

De um besouro que se esforça para participar,

Tu terias, de repente, uma clara razão

Para ler o escrito, cujos sinais tu,

Desde a tua infância, de há muito internalizou,

De tempos em tempos pesquisando, se uma frase

Dali nasceria: mas, ele parecia-lhe sem sentido.

Eu sei, eu sei: tu te debruçavas e dedilhava os sulcos,

Como se apalpa o epitáfio

Da lousa de uma tumba. O que de luz, de qualquer lugar,

Parecia reluzir, davas como um candeeiro



Para aquela linha.; mas a chama apagava

Antes que tu a concebesses, por causa de um bocejo,

Ou de um eventual tremor de tua mão.; talvez,

Também, por causa de você mesmo, como as chamas d.v.q. se vão.

Tu nunca percebestes isso.Mas, nós nunca ousamos

Perceber através da dor e de longe.

Somente observamos via poesias, as que ainda,

Por tendência dos teus sentires, para baixo

Trazem as palavras que tu escolhes. Não,

Nem todas tu escolhes.; frequentemente, um início

Tu impões, como aquele conjunto que tu repetias

Como uma incumbência. E ele parecia-lhe triste.

Ora, tu nunca o terias em nada obedecido.

Teu anjo, agora, fala mais alto ainda e enfatiza

O mesmo teor de outras, e em mim reflete

Intensa alegria por poder dizer da tua habilidade,

O júbilo por ti, pois isso era teu:

Que cada amor que de ti novamente desprendeu,

Que tu , na saudade, reconheceu que o recusou

E que matou o crescimento dele.

Isso era teu, teu, artista.; estas três

Formas abertas. Vês, aqui está a primeira

Parte aguda em torno do teu sentir.; e ali

Daqueles tempos canto para ti a contemplação



Que nada deseja, a grande contemplação do artista.;

E a terceira, a que tu mesmo muito cedo

Despedaçaste. Neste caso, bastou o primeiro impulso

Como alimento embriagador para incandescer o coração

— Foi uma morte planejada

Para ser uma morte singular,

A que tanto precisa de nós, porque, enquanto vivos,

Mais próximos dela, em parte alguma, estamos como aqui.

Isso tudo foram teus bens e tua amizade.;

Tu sempre a pressentiste. Mas,

O vão daquela fôrma te espantou,

Colheste às mãos o vazio

E te lamentaste — Oh, velho infortúnio dos poetas,

O de lamentar-se, quanto têm a dizer,

Eles sempre julgam seu sentir

Ao invés de moldá-lo.; eles sempre expressam

O que sentem de triste ou alegre,

Disso sempre tiveram consciência e salientar em poemas

Lamentando ou enaltecendo. Como os doentes

Precisam da fala para explicitar em detalhes

Suas dores, onde neles tudo dói,

Ao invés de, insensíveis, se perderem em queixumes,

Como o incrustar do canteiro de uma catedral

Para se converter na imparcialidade da pedra



Isso era a salvação. Tivesses visto uma só vez

Como o destino navega rio abaixo nos versos

E não volta, como dentro deles se forma a paisagem

E nada como a paisagem, nenhuma outra tal qual

Um antepassado teu em moldura, quando tu vez por outra miras,

Que ora parece, ora não parece contigo —:

Tu perseveraste.

Mas isso é insignificante

Pensar sobre o que não se deu. Também, há uma aparência

De crítica na comparação, que não te fere.

O que acontece leva uma tal vantagem

Sobre nossas opiniões, que nós nunca mais o recuperamos.

E nunca o experimentamos, como ele realmente parece.

Não te envergonhes, quando os mortos te roçarem

Os outros mortos, os quais até o fim

Perseveram. (O que quer dizer o fim?) Troca

Um olhar com eles, calmamente, naturalmente,

E não temas que nosso luto te sobrecarregue

A ponto de tu ficares em evidência.

As grandes palavras dos tempos

Em que acontecer não era visível, não são para nós.

Quem fala de vitórias? Superar é tudo.

**************************************************



FÜR WOLF GRAF VON KALCKREUTH

Geschriben am 4. Und 5. November 1908 in Paris

Sah ich dich wirklich nie? Mir ist das Herz

so schwer von dir wie von zu schwerem Anfang,

den man hinausschibt. Dass ich dich begänne

zu sagen, Toter du bist.; du gerne,

du leidenschaftlich Toter. War das so

erleichternd wie du meintest, oder war

das Nichtmehrleben doch noch weit vom Totsein?

Du wähntest, besser zu besitzen dort,

wo keiner Wert legt auf Besitz. Dir schien,

dort drüben wärst du innen in der Landschaft,

die wie ein Bild hier immer vor dir zuging,

und kämst von innen her in die Geliebte

und gingest hin durch alles, stark und schwingend.



O dass du nun die Täuschung nicht zu lang

nachtrügest deinem knabenhaften Irrtum.

Dass du, gelöst in einer Strömung Wehmut

und hingerissen, halb nur bei Bewstsein,

in der Bewegung um die fernen Sterne

die Freude fändest, die du von hier fort

verlegt hast in das Totsein deiner Träume.

Wie nahe warst du, Lieber, hier an ihr.

Wie war sie hier zuhaus, die, die du meintest,

die ernste Freude deiner strengen Sehnsucht.

Wenn du, enttäuscht von Glücklichsein und Unglück,

dich in dich wühltest und mit einer Einsicht

mühsam heraufkamst, unter dem Gewicht

beinah zerbrechend deines dunkeln Fundes:

da trugst du sie, sie, die du nicht erkannt hast,

die Freude trugst du, deines kleinen Heilands

Last trugst du durch dein Blut und holtest über.

Was hast du nicht gewartet, dass die Schere

ganz unerträglich wird: da schlägt sie um

und ist so schwer, weil sie so echt ist. Siehst du,

dies war vielleicht dein nächster Augenblick.;

er rückte sich vielleicht vor deiner Tür

den Kranz im Haar zurecht, da du sie zuwarfst.

O dieser Schlag, wie geht er durch das Weltall,



wenn irgendwo vom harten scharfen Zugwind

der Ungeduld ein Offenes ins Schloss fällt.

Wer kann beschwören, dass nicht in der Erde

ein Sprung sich hinzieht durch gesunde Samen.;

wer hat erforscht, ob in gezähmten Tieren

nicht eine Lust zu töten geilig aufzuckt,

wenn dieser Ruck ein Blitzlicht in ihr Hirn wirft.

Wer kennt den Einfluss, der von unserm Handeln

hinüberspringt in eine nahe Spitze,

und wer begleitet ihn, wo alles leitet?

Dass du zerstört hast. Dass man dies von dir

wird sagen müssen bis in alle Zeiten.

Und wenn ein Held bersteht, der den Sinn,

den wir für das Gesicht der Dinge nehmen,

wie eine Maske abreisst und uns rasend

Gesichter aufdeckt, deren Augen längst

uns lautlos durch verstellte Löcher anschhaun:

dies ist Gesicht und wird sich nicht verwandeln:

dass du zerstört hast. Blöcke lagen da,

und in der Luft um sie war schon der Rhytmus

von einem Bauwerk, kaum mehr zu verhalten.;

du gingst herum und sahst nicht ihre Ordnung,

einer verdeckte dir den ander.; jeder

schien dir zu wurzeln, wenn du im Vorbeigehn

an ihm versuchtest, ohne rechtes Zutraun,

dass du ihn hübest. Und du hobst sie alle

in der Verzweiflung, aber nur, um sie

zurückzuschleudern in den klaffen Steinbruch,

in den sie, ausgedehnt von deinem Herzen,

nicht mehr hineingehn. Hätte eine Frau

die leichte Hand gelegt auf dieses Zornes

noch zarten Anfang.; wäre einer, der

beschäftigt war, im Innersten beschäftigt,

dir still begegnet, da du stumm hinausgingst,

die Tat zu tun — .; ja hätte nur dein Weg

vorbeigeführt an einer wachen Werkstatt,

wo Männer hämmern, wo der Tag sich schlicht

verwirklicht.; wär in deinem vollen Blick

nur so viel Raum gewesen, dass das Abbild

von einem Käfer, der sich müht, hineinging,

du hättest jäh bei einem hellen Einsehn

die Schrift gelesen, deren Zeichen du

seit deiner Kindheit langsam in dich eingrubst,

von Zeit zu Zeit versuchend, ob ein Satz

dabei sich bilde: ach, er schien dir sinnlos.

Ich weiss.; ich weiss: du lagst davor und griffst

die Rillen ab, wie man auf einem Grabstein

die Inschrift abfühlt. Was dir irgend licht

zu brennen schien, das hieltest du als Leuchte



vor diese Zeile.; doch die Flamme losch

eh du begriffst, vielleicht von deinem Atem,

vielleicht vom Zittern deiner Hand.; vielleicht

auch ganz von selbst, wie Flammen manchmal ausgehn.

Du lasest´s nie. Wir aber wagen nicht,

zu lesen durch den Schmerz und aus der Ferne.

Nur den Gedichten sehn wir zu, die noch

über die Neigung deines Fühlens abwärts

die Worte tragen, die du wähltest. Nein,

nicht alle wähltest du.; oft ward ein Anfang

dir auferlegt als Ganzes, den du nachsprachst

wie einen Auftrag. Und er schien dir traurig.

Ach hättest du ihn nie von dir gehört.

Dein Engel lautet jetzt noch und betont

denselben Wortlaut anders, und mir bricht

der Jubel über aus bei seiner Art zu sagen,

der Jubel über dich: denn dies war dein:

Dass jedes Liebe wieder von dir abfiel,

dass du im Sehendwerden den Verzicht

erkannt hast und im Tode deinen Fortschritt.

Dieses war dein, du, Künstler.; diese drei

offenen Formen. Sieh, hier ist der Ausguss

der ersten: Raum um dein Gefühl.; und da

aus jener zeiten schlag ich dir das Anschaun



das nichts begehrt, des grossen Künstlers Anschaun.;

und in der dritten, die du selbst zu früh

zerbroch hast, da kaum der erste Schuss

bebender Speise aus des Herzens Weissglut

hineinfuhr —, war ein Tod von guter Arbeit

vertieft gebildet, jener eigne Tod,

der uns so nötig hat, weil wir ihn leben,

unter dem wir nirgends näher sind als hier.

Dies alles war dein Gut und deine Freundschaft.;

du hast es oft geahnt.; dann aber hat

das Hohle jener Formen dich geschreckt,

du griffst hinein und schöpftest Leere und

beklagest dich.— O alter Fluch der Dichter,

die sich beklagen, so wie sagen sollten,

die immer urteiln über ihr Gefühl

statt es zu bilden.; die noch immer meinen,

was traurig ist in ihnen oder froh,

das wüssten sie und dürftens im Gedicht

bedauern oder rühmen. Wie die Kranken

gebrauchen sie die Sprache voller Wehleid,

um zu beschreiben, wo es ihnen wehtut,

statt hart sich in die Worte zu verwandeln,

wie sich der Steinmetz eine Kathedrale

verbissen um setzt in des Steins Gleichmut.



Dies war die Rettung . Hättest du nur ein Mal

gesehn, wie Schicksal in die Verse eingeht

und nicht zurückkommt, wie es drinnen Bild wird

und nichts als Bild, nicht anders als ein Ahnherr,

der dir im Rahmen, wenn du manchmal aufsiehst,

zu gleichen scheint und wieder nicht zu gleichen—:

du hättest ausgeharrt.

Doch dies ist kleinlich,

zu denken, was nicht war. Auch ist ein Schein

von Vorwurf im Vergleich, der dich nicht trifft.

Das, was geschieht, hat einen solchen Vorsprung

von unserm Meinen, dass wirs niemals einholn

und nie erfahren, wie es wirklich aussah.

Sei nicht beschämt, wenn dich die Toten streifen,

die ander Toten, welche bis ans Ende

aushielten. (Was will Ende sagen?) Tausche

den Blick mit ihnen, ruhig, wie Brauch ist,

und fürchte nicht, dass unser Trauern dich

seltsam belädt, so dass du ihnen auffällst.

Die grossen Worte aus den Zeiten, da

Geschehn noch sichtbar war, sind nicht für uns.

Wer spricht von Siegen? Überstehn ist alles.



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