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Artigos-->Um tempo em que não se diz mais ‘eu te amo’ -- 11/04/2003 - 14:49 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um tempo em que não se diz mais ‘eu te amo’



Leonardo Teixeira



Quantas páginas já foram escritas, protestando contra a guerra forçada que se vê na iminência de se tornar mundial? O medo de vingança e do ódio, esparramado pelas tropas dos ianques, tem movido canetas do mundo inteiro. Como a memória é limitada aos assuntos que estão na moda, muitos incautos e lúcidos discutem a respeito da violência. Quais são as razões? Como diminuir seus altos índices, em patamares celestes?



Segundo o ranking da ONU, o Brasil só perde para a Colômbia na disputa pelo primeiro lugar do alto índice de violência. No País, com aproximadamente 170 milhões de habitantes, com mais de 30 milhões de miseráveis, 49 mil pessoas são vítimas anuais de morte extremamente violenta. Sangue e mais sangue ao Drácula! Para se ter uma idéia, nos EUA, com sua população de aproximadamente 260 milhões de habitantes, são 27 mil assassinatos violentos ao ano; uma diferença gritante, quando são verificados esses quatro números num único contexto.



Virou moda matar juízes e promotores, já que agentes e delegados de polícia não causam tanto impacto na mídia e no povo. O Estado paralelo, conhecido por crime organizado, aglutina os três poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário – nas próprias mãos armadas de, no mínimo, um fuzilzinho AR-15, uma metralhadorinha israelita, uma bazuquinha russa, uma granadinha coreana e outras “espoletinhas” mais grossas.



Na cartilha de ação de um desses grupos de soldados paralelos, está escrito que “durante o assalto, se houver testemunhas, mate-as; se houver reação da vítima, mate-a; estupre a vítima e seus parentes mais próximos, para que o medo e a vergonha impeçam a busca de ajuda das autoridades”. Não! Não é mais uma cena de Cidade de Deus, Carandiru, Oz e outros congêneres. É uma norma de ação dos criminosos compulsivos.



O ser humano possui a intensa preocupação em buscar culpados. A culpa não é só do desemprego, da pobreza socioeconômica. Não é só a falta de cultura. Escritores talentosos têm seus dons quase desperdiçados pela falta de incentivos e de leitores suficientes, além da prioridade que se dá às traduções. Toda a cultura neonazista-racista e machista tem ajudado na instalação do caos. Há um complexo entre causas e efeitos que transcende a própria corrupção.



A rua é a escola primária do crime, o lar é um estímulo de universidade, as celas do sistema penitenciário são a pós-graduação e, com a experiência, chega-se ao doutorado! As drogas são o alimento, as armas são os objetos – modus operandi – das leis e o sangue é a assinatura da sentença cumprida.



Dizem que a mídia é culpada pela idolatria aos “bandidos marginais” (já que existem os bandidos chiques, de colarinho branco, terno e gravata!); culpada pela orgia desregrada de costumes imorais e por vender a desgraça alheia com os maiores detalhes possíveis. Mas ela é apenas uma pedra – que atrapalhou os caminhos de Drummond – em face da grande montanha de culpa.



A falência institucional do poder público, entre eles, o Poder Judiciário, onde sentença virou produto do comércio em muitos casos. A medida socioeducativa do menor infrator é de no máximo três anos. “Oba, vou aproveitar para aprontar!”, diz a rima do jovem delinqüente. Essa falência arruína a própria sociedade.



A percepção da realidade, através do materialismo mecanicista rigoroso, dita por Thomas Hobbes (quem não conhece a “guerra de todos contra todos” e “o homem é o lobo do próprio homem”?), o empirismo de John Locke, já que “a percepção é a única realidade de que podemos estar certos. Não nos é dado conhecer com certeza a natureza dos objetos físicos do mundo vivencial” (George Berkeley), confirma essa ruína fragmentada do nosso mundo.



A maior culpa é do próprio homem, que trocou o ser pelo ter, que desistiu dos sonhos e convenceu-se das críticas, que se esqueceu da cordialidade e abraçou o egoísmo, que se preocupou em demasia com o futuro, nunca se esqueceu das dores e remorsos do passado e se esqueceu do presente, que não amou seus filhos e seus companheiros como deveria, que trocou a fraternidade pelo “xenofobismo familiar”, que não se perdoa e não pede perdão, que não teve gratidão aos pais e por falta de coragem não proferiu as palavras “eu te amo”, talvez por excesso de timidez e pelo fato de que as palavras que geram vida doem a alma. O problema não é a árdua labuta do tempo, que nos faz trabalhar e dormir bem mais do que dar atenção aos que amamos. O problema não é a viagem do trabalho que implanta a ausência dos pais no lar, mas a ausência deles quando estão presentes.



A maior culpa é dessa falência – sem concordata – da mais importante instituição: a família. Os chineses já sabiam que a mais alta das torres começou no solo. O maior tesouro possui um valor simples, que não pode ser comprado: a felicidade. E quem adia o seu encontro com a felicidade, antecipa o seu encontro com a morte. Mas, quando ela chega – quase sempre sem avisar – a pessoa está sozinha num hospital, olhando para um médico desconhecido. Não há mais tempo para dizer adeus, nem para dizer eu te amo.



Se a mudança de atitude e o medo do espelho impedem que as palavras de amor voem livres da boca, até os ouvidos dos nossos irmãos, então, fazer cada um a sua parte é compromisso vão e impraticável, com cláusulas proibitivas de demonstrações de afeto. É preciso ter fé, vontade de se ligar a Deus, independentemente da religião, para que o tripé espírito-alma-corpo fique equilibrado, porém, a busca pelo amor e a verdade deve ser saciada com humildade.



O melhor da vida não é ter um carro importado, um bom emprego com um gordo salário, um apartamento ou uma chácara. Como a conhecida história nos diz, o melhor da vida percebe-se mesmo após um dia difícil e exaustivo, quando, após a oração, já com a cabeça no travesseiro, uma doce carícia é sentida e Deus diz “obrigado, meu filho, por continuar a me dar esperanças na minha própria criação!”









Leonardo Teixeira é escritor, membro da União Brasileira de Escritores,

bacharel em Direito pela UFG, cronista do POPULAR e autor do livro Afinadores

de Piano, que detém dez premiações em concursos literários de contos







Publicado no jornal O POPULAR no dia 02/04/03

Este texto pode ser acessado na página:

http://www2.opopular.com.br/anteriores/02abr2003/opiniao/artigo1.htm
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