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Humor-->APOLOGIA AOS MAIS IDOSOS -- 26/12/2005 - 17:24 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


FELIZ ANO VELHO (Revisto e Atualizado)
(Por Domingos Oliveira Medeiros)


É dezembro. Mais um Natal que se finda. Estamos muito próximos do ano-novo. Os envelopes e embrulhos já foram abertos pelas crianças e pelos adultos. O chão de quartos e salas, e camas com lençóis bem esticados, estão repletos de papéis rasgados e amassados. Nos bairros mais distantes, e nos morros e favelas, há notícias de que algumas cestas, contendo alimentos e presentes de pouco valor material, fizeram a alegria de parte destes nossos irmãos mais sofridos.

Mas não é do Natal e nem do ano-novo que se avizinha que pretendo falar. Meu dedo de prosa é para o ano que se finda: envelhecido e cansado. À esta altura, indesejado. Quase esquecido. O ano que foi jovem, dinâmico, trazendo esperanças; muito querido e muito comemorado; e que, pelo passar do tempo, tornou-se velho, imprestável, superado, no entender dos que ditam as regras da sociedade “moderna”.

Meu querido Ano Velho, sei como você deve estar se sentindo, nesta hora em que todos aguardam, ansiosos, o pipocar dos fogos de artifício, e as festividades em homenagem ao ano-novo que se anuncia. A bola da vez, agora, tem outro nome, vale dizer, outro número: 2006. Só se fala nele. Todos apostam suas fichas na sua capacidade de atender a todos os desejos e esperanças de todas as pessoas. Todos acreditam no milagre de que 2006 trará, desta vez, as soluções para os nossos problemas e nossos dilemas. De todas as ordens: saúde, paz, amor, dinheiro, prosperidade ...

Todo ano a história se repete. A apologia ao mais novo. Ao mais recente. Ao mais bonito. Ao mais sensual. Ao mais ousado. Ao mais jovem senhor do inusitado. Ao que traz a promessa. Embora saibamos que o histórico não tem sido muito favorável. Promessas que nunca passam disso: promessas que ficam, simplesmente, em promessas.

Não se toca mais no seu nome. Não se fala do Ano Velho. Não se agradece ao velho amigo. Tratam-no como um traste. De quem temos péssimas recordações. Que só nos deixou tristezas e arrependimentos. O que, no meu entendimento, é demonstração de ingratidão. De gente que vive chorando de barriga de cheia, como diz a canção. Gente que prefere culpá-lo por seus eventuais infortúnios. Para essas pessoas, o ano que finda é sempre pior do que o ano que se prenuncia.

E 2006 já aponta no horizonte. Em todos os lugares, as festas estão sendo organizadas e aguardadas com carinho. Nos grandes centros de consumo percebe-se o movimento do público; público que, em formigueiros, invade lojas, aos empurrões, para garantir os produtos que serão postos à mesa: copos, pratos e talheres à disposição dos foliões deste carnaval antecipado. Comidas, bebidas, e até, ou principalmente, fogos de artifícios. Muitas expectativas em relação às festividades que, certamente, tomarão os espaços de bares, restaurantes, lanchonetes, clubes, ruas, bairros e cidades de todo o mundo. Com direito a beijos e abraços; embaraçados, e desajeitados; e ao som de músicas alegres e dançantes; sempre num tom acima da média dos decibéis considerados ideais para a saúde de nosso aparelho auditivo. Afinal, estamos falando de Sua Excelência, de Sua Majestade, 2006. O novo Ano Novo.

Todos o reverenciam. Feliz Ano Novo! Este será, como sempre, o desejo de todos para todos; que se dará por volta de zero hora. Sem esquecer do “muito dinheiro no bolso” e do “saúde pra dar e vender”. Não se dão conta, sequer, do horário de verão. Dos fusos horários. Dos ponteiros dos relógios que, nesta época do ano, aqui no Brasil, ocupam, para a mesma hora, posições diferentes. Seja pela questão dos fusos horários, seja pela confusão do horário artificial de verão. O Ano Novo, desse modo, por nossas bandas, acontece cerca de quatro vezes no mesmo dia. Um recorde mundial.

Mas é isso mesmo! A vida é desse jeito! Tem lá suas contradições e seus paradoxos. À medida que vamos envelhecendo - ao contrário do vinho, por exemplo -, e a despeito de acumularmos experiência, trocando nossas certezas com as esperanças dos mais jovens, a sociedade, de modo geral, parece duvidar de nossa capacidade produtiva, de nossa inteligência, e de nossa sabedoria consolidada pelo tempo; e desse modo, somos transformados em material inservível, descartável; lixo que não se presta sequer para reciclagem; lixo que se amontoa nos asilos da vida, sob a rotulagem do pior dos lixos: o “lixo hospitalar. Lixo que é rejeitado pelos lixeiros mais jovens, principalmente, os mais inexperientes. Jovens que não se dão conta de que daquele lixo, durante muito tempo, tiraram o próprio sustento, para crescer e aprender a andar com suas próprias pernas. Lixo que esconde, por assim dizer, pedaços de vida que foram jogados fora e que poderiam ser melhor aproveitados. Notadamente no que diz respeito aos ensinamentos que guardam na memória, muitas das quais preservadas, intactas, novinhas em folha. Necessitando, apenas, na maioria das vezes, de um pequeno conserto, simples e barato: atenção e respeito.

Mas você, meu querido Ano Velho, não será esquecido. Nem você nem os outros que se foram. Tenho certeza de que muita gente, nesta hora, lembrará de bons momentos vividos sob seu reinado; e agradecerá a Deus por ter tido o privilégio de ter vivido junto com vocês. Tempos em que todos vocês eram queridos e desejados como qualquer Ano Novo. E todos seremos eternamente gratos por tudo de bom que nos aconteceu. E diremos, afinal, que valeu à pena: pelas emoções sentidas; pelos amores e conquistas vivenciados; pelas amizades preservadas; pelas boas ações praticadas, e, mais importante, pelo fato de que continuamos vivos e mais crescidos espiritualmente.

Boas lembranças trago daqueles momentos: o dia em que aprendi a ler; o dia de minha formatura; do meu casamento; do nascimento de meus filhos; de minhas netas. Das árvores que plantei e que vi nascer; das sombras e dos frutos que desfrutei; Da chance de maior tempo que me foi concedido para melhorar como pessoa. Levo em conta, também, os maus momentos e os percalços. A cota de sofrimento de todos nós, simbolizado pela cruz que cada um de nós temos que carregar. Que arquivamos sob o título de “ mal-menor”. Porque, a bem da verdade, o sofrimento reforça a nossa fé. Aprendemos a superá-los com galhardia, cicatrizando feridas do corpo e da alma, impostas pelo tempo da curta passagem por este mundo terreno.

Por fim, meu prezado e mais novo Ano Velho, devo dizer-lhe que minha experiência com você, e, como de resto, com outros anos velhos, só não foi melhor porque não conseguimos acabar com a fome no mundo; nem com a miséria e a insensatez das guerras; e muito menos com as injustiças sociais. Nem com a violência, na acepção ampla do termo, por conta da estupidez de algumas pessoas, que optaram pelo mal, em todas as suas modalidades olímpicas: quebrando recordes à cada ano que se inicia. Subindo nos pódios da vaidade e da indiferença; do egoísmo e da tibieza.

Mas isso, meu velho amigo, para quem não sabe, faz parte da vida. Nós, mais velhos, se não formos omissos, e continuarmos formando fileiras ao lado do bem contra o mal, não teremos do que nos arrepender. Até porque, todo Ano Novo, um dia, será como nós, velhos e desacreditados. Só desejo que todos sejam velhos, apenas, em relação ao tempo; todavia, eternamente novos em idéias e ações voltadas para o bem do próximo, para o bem da vida, praticando a caridade e exercitando a fraternidade e a tolerância, na forma dos ensinamentos deixados por Cristo, há mais de dois mil anos velhos atrás. Sem perdermos, NUNCA, nossa capacidade de SONHAR, de nos INDIGNARMOS e de LUTARMOS por um mundo melhor.

FELIZ ANO VELHO para todos. E, apesar de tudo, um próspero Ano Novo, também.


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