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O Verbo “Ficar” Entre os Políticos
(por Domingos Oliveira Medeiros)
O “ficar” mais famoso e antigo que conheço é o Dia do Fico. Lá pelos idos do Império, em que D. Pedro I, pelo que dizem os historiadores, resolveu atender ao pedido de seu fã clube, e acabou ficando no Brasil; e, junto com ele, sua fama de “paquerador. Coincidência ou não, o fato é que, com o tempo, o sentido do verbo voltou às suas origens. Ou seja, a ação do verbo agregou mais um outro sentido.
Assim como D. Pedro I que, na sua época, já “ficava” com o sentido que hoje se empresta ao verbo. “FICAR”, agora, não significa mais ficar. Ficar, hoje, é quase um ”não vir”. Está mais para ir embora. Ficar é, na verdade, não ficar.
E, com isso, o mundo deu um giro de cento e oitenta graus. Ficou de cabeça para baixo. Mudaram-se, radicalmente, crenças e valores; hábitos e costumes. O que se dizia antes, hoje significa exatamente o contrário. É como utilizar o dicionário de sinônimos ou de antônimos, indiferentemente, sem que isso possa trazer qualquer prejuízo à compreensão.
Há, por conta disso, uma certa indiferença em relação as coisas. Apenas os ditames da moda permanecem como antes. O que for imposto pela moda, todos tendem a obedecer. . É ponto de honra para o grupo. Caso contrário, o estranho estará fora do contexto de sua tribo. É sinal que o indivíduo não está “ligado”. Ligado aqui, também, com outro sentido. Menos o de ligado, propriamente dito. Quer dizer, quem estiver ligado, nos dias de hoje, estará, com certeza, totalmente desligado. Ligou?
Sacar, também não tem nada a ver com o vôlei. Nem com o sistema bancário e tampouco tem a ver com o puxar de armas, facas e pistolas. Apesar de que, sacam-se armas de verdade, em bancos, para saques indevidos; são os assaltos por conta da violência de nossos tempos. Principalmente nas grandes cidades, onde a língua falada junto ao sexo, as drogas e a violência, de modo geral, criam expressões cada vez mais incompreensíveis. Notadamente da parte dos jovens.
Assim,.”ficar” significa uma relação que inclui “amassos” (nada a ver com lataria de carro batido) , carícias e sexo, basicamente. Sem qualquer tipo de compromisso. Pode-se, inclusive, numa mesma festa, “ficar”com vários parceiros. Em questão de minutos. E às vezes nem tanto. Tudo é aceito “num a boa”.
E este fato linguístico, por assim dizer, ultrapassou o campo restrito aos jovens e passou a integrar o mundo da política.
A partir das últimas eleições, a nova linguagem ficou com força total. E, paradoxalmente, serviu até para dar uma certa “racionalidade” ao que vem sendo praticado em relação às famosas coligações partidárias.
O PT , todos estão lembrados, anunciou que iria “ficar” com o PL. O PMDB “ficou” com o PSDB. E o PFL, tudo indica, é o que mais abusará do “ficar”. Uma hora, disse que iria ficar com o PSDB; outra hora, pendeu para o lado do PT; E, por fim, acabou dizendo que não iria ficar com ninguém. Antes só, do que mal acompanhado.
Em alguns Estados, vale lembrar, o PMDB acabou ficando, temporariamente, com o PDT.
Houve de tudo naquela eleição. Inclusive indícios de “ficar” entre o PT e o Partido do Garotinho.
Depois, - eu previa isto na época -, vai ficar muito difícil saber quem é o pai da criança. Isso se essas coligações durarem mais do que o previsto. Acho que não. Depois das eleições, tal como no “ficar” de fato, cada qual vai pro seu lado. E quem vai ficar na mão, com certeza, será o povo brasileiro. E ainda vai “dançar”, não de alegria, mas de tristeza, prá variar.
E parece que eu estava adivinhando. Vou ficar por aqui.
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