CONTINUAM AS SACANICES
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Não pude mais me conter. Não tinha sequer palavras. Palavras para dizer. Da minha indignação. Recorri ao dicionário. Vocabulário emprestado. Foi a minha salvação. Não pude ficar calado. Não sabia o que fazer. Estava sendo roubado. Mas resolvi escrever. Resolvi dar o recado. Que nem é mais novidade. Todo ano, a mesma coisa. Repete-se o “disse-me-disse”. O Planalto e o Congresso. Unidos na sacanagem. Mais uma vez o recesso. Mais uma vez a sacanice.
Canalha, patife ou malandro. Assim não há quem agüente. Aprovaram num instante. A remuneração triplicada. Sem caráter o espertalhão. Gastando o dinheiro da gente. Mais um golpe traiçoeiro. Todo mundo apertado. Todo mundo sem dinheiro. E o deles aumentado. Na Câmara Federal. E também lá no Senado. Vinte e cinco mil e seiscentos. Para cada parlamentar. Um presente de Natal. A luta do bem contra o mal. Foi esse o percentual. Que deverá ser seguido. Na esfera estadual. E, quiçá, vereadores. Da Câmara Municipal. Por todo o território. A nível nacional. Desse país altaneiro. Que paga quinze bilhões. Se ufana o companheiro. De juros adiantado. Para o Fundo adorado. Mas pro salário de fome. Diz que não existe dinheiro. Apesar daquela promessa. Que o Mínimo seria dobrado.
Com tanto serviço atrasado. Apelaram mais uma vez. Pra tal da convocação. Aquela extraordinária. Que todo ano acontece. Cujo nome deveria. Chamar-se de ordinária. Já que aprova projetos. Que deveriam estar votados. Durante o ano inteiro. Que foram acumulados. Transformados em presente. Às custas do bolso da gente. E para tanto trabalho. Vejam só a covardia. Além de mais dois salários. O custo pode chegar. A mais de noventa e cinco. Milhões de reais do erário. Pois tem também o salário. De assessores parlamentares. E o valor das diárias. Mais todos os gastos extras. Pra funcionar o plenário. Café, água e energia. Material de consumo. Na ilha da fantasia. Gasta-se muito dinheiro. Do imposto que é pago. Pelo povo brasileiro. E ninguém faz disso segredo. Todo ano é assim. Afinal não é ruim. Só pra levantar o dedo. E votar dizendo sim.
Fim de ano garantido. Ousado e bem atrevido. Não houve contestação. Todo mundo foi servido. Do bolso do cidadão. Grande é seu coração. O povo que não entende. Aquela grande união. De siglas e de partidos. Em torno de mais tostão. Dinheiro pra lá de milhão. Nas costas da viúva. Do orçamento da União. Com o orçamento apertado. Salário bem encurtado. Vou gritar pega ladrão. O povo está sendo garfado. Tem muita gente atolado. Eleitor desesperado. Acreditando em promessa. Votou atrás de melhorias. Esquecer as baixarias. Que todo ano aparece. Promessas ninguém se lembra. Mas o povo não esquece. Sem falar dos privilégios. Da verba de gabinete. Só mesmo dando uma surra. De bengala ou de cacete.
Triste povo brasileiro. Mais uma vez o Congresso. Corre atrás, é o primeiro. Tira do pobre o dinheiro. Embolsa mais uma vez. O aumento ecológico. O aumento em cascata. Respinga no Vereador. O dele também aumentou. Está tudo atrelado. Mais renda para o seu bolso. E dane-se quem não gostou. A farra agora é geral. Aproxima-se o fim de ano. É o espírito de Natal.
E a desculpa esfarrapada. Do presidente do Senado. A favor da convocação. É que se faz necessário. Combater a corrupção. Não dar férias para a crise. Pois tudo será apurado. Em toda a sua extensão. Na CPI dos Correios. E até na do Mensalão. Mas não se toca no assunto. Da CPI do Banestado. Que não teve final feliz. Onde tudo foi arquivado. A do Bingo não tem pressa. Deixou tudo pra depois. O mesmo feijão com arroz. Nada de muita pressa. Não é sangria desatada. Afinal, na pizzaria. O forno é que interessa. A massa que anda fria. E a farsa da confraria. De há muito está montada. Basta ver que até agora. Ninguém sabia de nada. E só dois foram cassados. E outros indiciados. Estão sendo absolvidos.
E o nosso presidente. Presidente do Senado. Acerca da convocação. Que custa pra lá de milhão. Dá a sua opinião. Com cheiro de hipocrisia. Acha inútil a discussão. Se comparado à paralisia. De toda investigação. Dos escândalos e falcatruas. No bojo da Comissão. Como se não fosse possível. E mais barata a decisão. De esperar mais trinta dias. No final do feriadão. Até porque, na verdade. Toda e qualquer decisão. Constante do relatório. De toda e qualquer comissão. Daqui pra frente, parece. Será um trabalho é em vão. Por conta do voto secreto. Que não é justo, nem reto. Sugere corrupção. Acordo de cavalheiros. Pra dizer sempre não. E assim, de grão em grão. Salva-se quem for honesto. E também quem foi ladrão.
Isso é mais que sacanagem. Isto é mais que sacanice. Devassidão, bandalheira. Só mesmo falando besteira. Isso é pura roubalheira. Assim diz o dicionário. O povo vota calado. E dá uma de otário. Vai ficar chupando dedo. Ou comendo salgadinho. Aquele com queijo e tomate. Com salsicha e pimentão. Enfiado num palito. Que a gente segura na mão. Cujo nome é sacanagem. Já aprendi a lição. Ou a gente abre a boca. Ou acaba com a eleição. A coisa passou do limite. E ainda há quem acredite. Que é falta de educação. Ou de consideração. Mas na minha terra não. È pura esculhambação. Ou a gente para com isso. Ou acaba com a Nação.
O mais sensato seria. Trabalhar o ano inteiro. De segunda a segunda. Diminuir o recesso. Não à convocação. Mostrando boa vontade. Um pouco de responsabilidade. E muita compreensão. Sem nada cobrar do povo. Respeitando o cidadão. E se fosse por dinheiro. Que dividisse por trinta. Toda a remuneração. E recebesse por dia. Realmente trabalhado. Mas não dois meses de salário. Para um só dia contado. Dos dias que foram deixados. Pelos próprios deputados. Pra receber no Natal. O presente acostumado. Ganhar mais alguns trocados. Afrontado o seu irmão. Ao eleitor de plantão. Que agora foi lesado. E ainda por cima é culpado. De votar na eleição. Sem falar naquela turma. A turma do “mensalão”. Em gente que pouco faz. Pra merecer o diploma. Diploma de deputado. Pra não fazer o que é certo. Optar pelo errado. Tirando a comida da boca. De parte do eleitorado. Deixando o resto do povo. Vermelho de envergonhado.