O Jornal O Globo on line trás a notícia que de a UFF vai criar o curso de graduação em Segurança Pública. Não vejo muitas razões para comemorar. O Brasil é o país dos bacharéis. Aqui, há pouquíssimos cientistas e tecnólogos. Entretanto, há bacharéis aos montes, que brotam no mercado de trabalho como cogumelos após a chuva.
O Brasil de hoje é igual ao de Lima Barreto há um século atrás. Vivemos aqui como em Bruzundanga. Um sujeito formado em Segurança Pública vai ser a reencarnação do Dr. Rocha, de Triste Fim de Policarpo Quaresma. No provincianismo de antanho, o simples título de bacharel conferia ao sujeito uma autoridade de remover montanhas. Dava opiniões sobre os mais variados temas, e seus "achismos" eram tomados sempre como expressão da suprema sapiência.
Uma graduação em Segurança Pública é o tipo de curso no qual o sujeito aprenderá quase nada sobre quase tudo. Um cadinho de sociologia, de ciência política, de direito, de estatística, de antropologia, de psicologia, e eis aí mais um bacharel! Não será mais necessário recorrer a policiais e bombeiros quando o assunto for segurança pública. Consultar-se-á a figura do bacharel, e pronto, resolvido.
Percebe-se que existe ainda no país uma má vontade histórica em relação à s instituições policiais. Há inúmeros preconceitos, dentre eles o pressuposto de que os órgãos de segurança pública são compostos por seres acéfalos, incapazes de abstrair e teorizar sobre seu próprio labor. Em razão disso, quando se fala em segurança pública, recorre-se aos "ólogos" de toda espécie. Ninguém nunca chamou, por exemplo, um policial para compor a banca de doutorado em sociologia. Mas sempre que o tema é polícia, violência, criminalidade, etc, chamam todos os "ólogos" disponíveis no mercado, menos os policiais.
Deixando de lado essas questões graves, o lado mais pitoresco da notícia é que os alunos de ciências humanas e filosofia protestaram contra a criação do curso. Receiam que tal graduação atraia muitos policiais, coisa que lhes desagrada tanto quanto, presume-se, a presença de leprosos. Um dos slogans empunhado pelos alunos era: "A universidade é do povo, polícia não". Mas será que os policiais não são do povo? A turma das ciências sociais já está mostrando que entende da coisa. Outro slogan era: "Abaixo a repressão". Mas... repressão a quê? O que eles temem? Deixo as conclusões para os leitores que conhecem ou já frequentaram um campus universitário. Os que não conhecem, podem clicar aqui.