Usina de Letras
Usina de Letras
269 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62165 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50574)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4754)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140790)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->DOIS DESASTRES ECOLÓGICOS -- 08/04/2003 - 22:15 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DOIS DESASTRES ECOLÓGICOS



Francisco Miguel de Moura*







Colocado num cantinho de página (“Datas”) da revista “VEJA”, de 9 abril do corrente ano, estou a lamentar, do primeiro, aquele que derramou 1 bilhão e 200 milhões de litros de dejetos químicos nos rios Pomba e Paraíba do Sul, em 29 de março passado, inutilizando (por quanto tempo?) essas duas fontes de abastecimento da imensa população de várias cidades do Estado de São Paulo, Rio e Minas. Foi ocasionado, dizem os responsáveis, pelo rompimento da barragem de contenção dos resíduos da Indústria Cataguases de Papéis, em Cataguases, Minas Gerais. Matando fauna e flora dos dois rios, afetou a vida de mais de 500 mil pessoas e de sete cidades de grande porte, ribeirinhas, como nunca tinha acontecido. A empresa já foi multada em 50 milhões de reais (será que isso paga?) e os seus diretores estão foragidos. Vale lembrar que todos esses dejetos venenosos, depois dos estragos aos rios, vão desaguar em praia do Estado do Rio de Janeiro, que ninguém sabe como ficará, nem quanto tempo levará para serem absorvidos pelo oceano.

O segundo desastre ecológico a que me quero referir, tomei conhecimento em detalhe por recorte de jornal enviado pelo escritor e historiador Joaquim de Montezuma de Carvalho. Meu correspondente fez o favor de colocar, com sua letra, algumas observações à margem. “Novas sem prestígio” é o que me diz, da tragédia do “Presige”, o petroleiro que em finais de 2002, afundou nos mares galegos de Finisterra/Costa do Norte e produziu os efeitos de uma catástrofe para a fauna marinha e para as comunidades da Galiza que vivem da pesca e ficaram impedidas de praticar sua atividade produtiva. Transcrevendo, em suas próprias palavras: “Nunca mais as níveas gaivotas do mar manchadas de“fuel-oil”, do chapapote , do horrível breu, pez, alcatrão, a merda dos diabos escondidos debaixo da terra (petróleo!) NUNCA MAIS! Será que a surda Madrid ouvirá?” (In semanário “A Nosa Terra”, Vigo, 10-1-2003).

Galiza terra de pescadores... Como pode agora ouvir-se a canção de Gabriela Mistral, a chilena do Nobel de Literatura, de 1945?

A canção de pescadores abre assim: Niñita de pescadores / que com viento y olas pudes, / duerme pintada de condras, /garabateada de redes... Como, se agora tudo está pintado e garabateado de negro e fedorento chapapote que o Prestige vomitou para o mar e as costas receberam , passivas na sua geografia de aguarestarem as marés do mar?”

Comovedora, também nesse jornal, é a carta que uma menina galega de 10 anos escreveu sobre a tragédia do “Pestige”:

“Señoras e Señores Deputados:

Chámome Celtia, teño 10 anos e vivo em Muxía que é a primeira zona a que chegou o chapapote. Neste época do ano estaríamos escribindo a carta aos Reis Magos, pero pólas circunstancias que estamos sufrindo desgraciadamente témovola que escribir a vós.

Antes os nosos pais ian ao mar e voltaban cargados de peixe, agora van o mar e voltan coa roupa chea de chapapote; na lonxa xa non se vende peixe senón que está chea de voluntários de todas as partes do mundo que viñeron axudar a Galícia.

A xente de Muxía pásase o dia na lonxa, para que non lles falte um prato quente cando veñen mollados e cansos de traballar.

Pero que menos, cando a palabra gracias queda pequena para agradecer todo o que lles debemos.

Os nossos pais dinnos que cando sexamos mayores igual xa non hai peixes porque están buscando augas mais limpas onde poder vivir.Cando me dixeron isto recordei aquel debuxo que vira na escola de Castelao, onde hai dous nenos sentados e um dille a outro: ‘as sardiñas volverían se os gobernos quixeran.’

Nós queremos que os gobernos queiran, para que volvan a aparecer sardiñas, araos e eses moluscos chamados percebes. Tamén me gustaria xogar no parque do Coido pero non podo pois mancheime toda, porque os columpios tamén están petroleados.

Nós queremos que o goberno queira que os nosos pais traballen de novo coma antes, para darnos un futuro mellor, porque sen mar non temos nada.

Como pensades que sairemos adiante?

Celtia.”

No Brasil, precisamos urgentemente de uma Celtia, que denuncie a tragédia do rio Paraíba do Sul, pois, como vimos, órgãos da grande imprensa como a “VEJA” estão mais preocupados em apoiar as diabruras e a carnificina dos Estados Unidos contra os pobres iraquianos e divulgá-las unilateralmente.

_________________________

Francisco Miguel de Moura é escritor, membro da Academia Piauiense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura. Mora em Teresina, Piauí.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui