O brasileiro tem uma tendência natural para o humor.
Assim, dono de funerária é chamado de "papa-defunto", telefone público vira "orelhão", o longo prédio da Universidade de Brasília, curvo, de 800 m de comprimento, é o "minhocão", os ónibus articulados são os "papa-filas", a moça que gosta de rapaz com carro é "maria-gasolina", bicicleta é "magrela", segurança de boate é "armário", agente secreto é "araponga", Imposto de Renda é "Leão" (com letra maiúscula), evangélico é "bíblia", católico carola é "papa-hóstia", bajulador é "puxa-saco" ou "baba-ovo".
Na década de 1960, durante o governo de João Goulart, Santiago Dantas pretendeu criar a Frente Única, formada pelo PTB, PSD e PCB, para dar início à s tais "reformas de base". A frente não se concretizou, porque Brizola não aceitava os conservadores do PSD no grupo. O brasileiro, gozador como sempre, apelidou de "frente única" aquela minúscula blusa feminina, que deixava todas as costas de fora - à s vezes dava para espiar os seios, até o mamilo, principalmente quando a moça esticava o braço pra se segurar no ónibus...
O Tesouro Nacional virou a "Viúva", a que sempre tem o cofre cheio...
O PAC do governo Lula virou "Programa de Ajuda aos Companheiros"... (Mas também pode chamar de "Plano de Assalto ao Cofre", de Adhemar de Barros, roubo realizado pelo grupo terrorista VAR-Palmares de Dilma "Estela" Rousseff.)
O mais novo neologismo é "petralha". Reinaldo Azevedo acabou de lançar um livro sobre os companheiros gatunos, "O País dos Petralhas" (Record, 337 pg.). Segundo o autor do livro, existe um glossário no fim do livro, onde esclarece o significado da nova palavra: "Neologismo criado com a fusão das palavras `petista` e `metralha` - dos Irmãos Metralha, sempre de olho na caixa-forte do Tio Patinhas. Um petralha defende o roubo social".
Além dessas expressões bem-humoradas, o brasileiro tem uma peculiar capacidade para criar palavras e expressões de baixíssimo calão, como se dizia antigamente. Ou seja, os famosos palavrões. Vejamos alguns exemplos:
- Feito nas coxas. O significado é o sujeito sem nenhum valor, rapidamente "feito nas coxas" num sarro numa esquina escura. Mas tem o significado também das telhas que os antigos escravos faziam, ao moldar o barro na coxa, daí a expressão.
Meu irmão Válter, numa ida ao Paraguai para comprar os presentes de Natal da família, esperava o lanche na mesa, quando levantou para tirar água do joelho. Ao passar perto da cozinha, viu uma gorda e suada paraguaia afinando a massa de pastel na coxa. A vontade de comer pastel passou na hora...
- Cu de bêbado não tem dono. Um primor de frase, sem maiores comentários. Agora, com a Lei Seca, existe, em algumas cidadezinhas do interior, até um "táxi-bêbado", um carrinho-de-mão adaptado para levar o pinguço até em casa. Onde passará novamente a ser dono do fiofó.
- Cagar no pau. Outra frase que merece uma medalha de ouro. Além de chamar o cara de "viado", ainda reclama que o cara "cagou no pau". Aí já é demais...
- Fazer cocó cheiroso. Refere-se à s pessoas metidas a besta, aquelas que "cagam cheiroso". A expressão mais amena é "fazer cheiroso". Há mulheres tão lindas que, eu acho, nem cocó fazem. Se fazem, deve ser bem cheiroso...
- Cair de boca: sexo oral.
- Cair de quatro. Pode ser o Flamengo perder de 4 a 0, mas pode também designar a posição subserviente de alguém, que fica na "posição de Napoleão", para ser enrabado. Guido Mantega, após o colapso do Lehman Brothers, disse que em outro tempo o Brasil já "estaria de quatro". Por enquanto, o sarro ainda é de pé...
- De cu pra Lua. Sujeito de muita sorte. Há expressões mais amenas, "de quina pra Lua" ou "virado pra Lua".
- Putaria franciscana. Confesso que na primeira vez que ouvi esta expressão, dita pela mãe desbocada de uma antiga namorada minha, no Rio de Janeiro, eu fiquei bastante chocado. Como ex-seminarista franciscano, não entendi o significado. Consultei o Aurélio e lá estava confirmada a expressão, mas em outros termos. Só que, até hoje, não sei que sacanagem ou que putaria é essa. Alguém aí pode me explicar o berço desta expressão?
- Dança do créu. Aqueles gestos de "chamar para a responsa" que, hoje em dia, até crianças de 3 anos imitam. Tudo na maior tranquilidade neste país que é o reinado da pornografia infantil.
- Meia foda. É como se chama o baixinho, também cognominado de "tampinha", "pintor de rodapé", "cu de cobra". Segundo o modo politicamente besta de se expressar, anão não é mais "anão", mas "indivíduo verticalmente prejudicado"... A propósito, cego é "cego", não deficiente visual, como dizem os bestas. Deficiente visual sou eu, um míope.
- Cofrinho. Aquele orifício onde fica a "poupança". Nos países árabes, dizem que as mulheres usam a "poupança" porque devem se casar virgens. Tem marido que até hoje exige o lençol sujo de sangue na noite de núpcias.
- OK: aquele gesto "ouquêi" (tudo legal!) dos americanos, fazendo um círculo ao unir as pontas do polegar com o indicador, no Brasil significa "aqui, ó!", "aqui, pra você!"
- Aspone: Assessor de Porra Nenhuma. No quartel do Rio, na década de 1980, tínhamos a "Repone" - Reunião de Porra Nenhuma. Era quando o comandante da EsIE convocava os oficiais e/ou praças para, normalmente, dar uma monumental "mijada".
E tem o "esporro" do chefe, "a naba tá voando!"
A lista não tem fim. Que tal aumentar o glossário? Mãos à obra, então!