Existe um mundo em que as pessoas nascem no abandono, vivem desprezadas e morrem em total esquecimento. Um mundo que parece bem distante de todos nós mas que está bem à nossa frente nos matando (quase) todos de vergonha, fazendo com que nossa indignação aflore e nos sintamos culpados por sermos pacatos assistentes de vidas que morrem no seu nascedouro. Existe um mundo onde os avanços da tecnologia, as descobertas da ciência, os mais justos sentimentos do ser humano são totalmente desconhecidos porquanto envoltos pela intolerància de homens cruéis, que os mantêm na mais vil escravidão. Gente que vive sem agasalhos, sem alimento, sem receber afeto e desconhecendo o carinho. Mas seguem teimando em sobreviver à s suas existências mortas. Vidas que recebem ao nascer a indiferença, que padecem na solidão e morrem em total abandono.
Triste mundo onde muitos já nascem sem a menor possibilidade de sequer sonhar, por estarem com seus cérebros irremediavelmente comprometidos. Esse mundo tem uma população estimada em 2,2 bilhões de habitantes. Pessoas que vieram ao mundo parecendo destinadas a sofrer humilhação e injustiça. Não tendo sequer o que comer uma vez ao dia. Mundo onde o riso é desconhecido, onde a dor é permanente, onde a esperança pereceu sem jamais florescer. Vidas em permanente desencanto a testar até onde o homem permanecerá insensível à tamanha discrepància, aos apelos mudos de uma população que está condenada a abraçar tal indigência humana que, entre outras mazelas, mata pela inanição.
Não é possível que a insanidade mental de alguns continuem a prevalecer sobre os sonhos que acalentam os homens. O sonho que vive no peito do homem bom, que tem o poder de pór um fim na escuridão das madrugadas, que conduz homens e mulheres a dias melhores e mais dignos, fará com que o clarão de um novo dia arrebente as amarras da escravidão de todo um povo, de todas as nações. Nações que vivem submersas no obscurantismo, que nega a vida e conduz os homens a sofrimentos e os nivela a seres inferiores. Impossível pensar que o homem que vive se aprimorando em fazer valer o melhor para a espécie humana seja o mesmo que cala e fecha os olhos para a necessidade de um contingente de eternos candidatos a cidadão, que ainda não foram devidamente contemplados com os elementares direitos outorgados pelo Estatuto dos Direitos Humanos.